sábado, 23 de outubro de 2010

RENOVAÇÃO DOS CRÍTICOS DE ARTE =




Qualquer observador atento faz uma constatação interessante sobre o meio artístico.
É a renovação constante dos verdadeiros donos da situação que eu chamo de classe dominante, constituída pelos críticos de arte, marchands, donos de galerias, historiadores, e acrescentaria ainda mais uma “ocupação” no mínimo curiosa, introduzida no meio artístico recentemente, que é a figura do curador.
Em São Paulo, na década de 1960, quando havia um mercado incipiente e o movimento de arte se concentrava mais nos Salões Oficiais de Arte, umas poucas galerias atendiam a elite paulistana. As principais eram a Cosme Velho na Alameda Lorena, a Documenta na Rua Padre João Manoel , a Galeria André que ficava na Av. Vieira de Carvalho vendendo muitos quadros de casarios de Ouro Preto espatulados por Durval Pereira , e outros tantos de igual conceito.-
Já nessa época, media-se a força de um crítico de arte pelo espaço e importância de seu meio de comunicação, assim, a dinâmica era diretamente proporcional.
Se o critico era membro do Conselho da Bienal, ou fazia parte da direção de Museus (MAM e MAC), se escrevia no “Estadão’ ou na “Folha”, esse critico tinha muito peso de decisão e influência. Pois eram eles que formavam o corpo de jurados dos eventos de arte e Bienais, escolhendo e premiando os artistas. E assim um artista premiado em um importante evento representava um passaporte para a fama e imortalidade. Principalmente naquela época em que o universo de artistas era bem reduzido. Foi assim que surgiram quase todos os pretensos gênios da pintura do momento atual da arte brasileira. Era esse o esquema da indústria da arte, uma espécie de clube fechado, que dependia do aval de toda classe dominante que com isso nos impuseram arte/artistas que eram verdadeiros lixo.- compradas pelos museus a peso de ouro. Assim , por muitos e muitos anos, amem, só se falou em Ligia Clark e Helio Oiticica como se fossem os únicos e verdadeiros representantes da arte contemporânea brasileira.-
Uma prova incontestável desse mecanismo viciado ocorreu em 1951, quando Ciccillo Matarazzo organizou a primeira Bienal, onde por incrível coincidência, funcionários de suas fabricas que pintavam letreiros e peças de propaganda de suas industrias, foram aceitos e premiados. .-
A comprovação do corporativismo no meio artístico sempre foi escandalosa e imoral, como daremos outros exemplos adiante. O ingresso em uma Bienal Internacional e ainda mais sendo premiado, em uma época em que praticamente não havia artista moderno no Brasil, (porque se considerarmos a Semana de Arte de 1922, a arte moderna no Brasil na época da primeira Bienal em 1951 tinha 29 anos. Esse intervalo em termos de historia é muito pouco tempo para se formar grandes talentos ).
Esse acesso, ainda mais na primeira Bienal Internacional no Brasil quando só havia outra, a de Veneza, significava um passaporte para a fama, com os trabalhos adquiridos por museus, seguidos pelos colecionadores e tudo mais o que se sabe.
Estes fatos não sou eu que afirmo, apenas estou intermediando as informações publicadas no Jornal Folha de São Paulo, por ocasião da comemoração dos 50 anos da Fundação Bienal. Aliás, quem quiser consultar o caderno especial, publicado para essa comemoração, ficará conhecendo mais detalhes curiosos dos bastidores ocultos da realidade de superfície.
Assim o casamento entre o crítico e o marchand era perfeito para promover pintores de acordo com os interesses da galeria ou de alguém.
Se um crítico não estivesse dentro de determinado esquema, usava seu poder de comunicação como formador de opinião para desarticular certos interesses.
Muitas vezes os leiloeiros eram obrigados a colocar obras de determinados artistas plásticos na capa dos catálogos e fazer vendas fictícias e altas cifras para elevar a cotação de certos pintores, o que seria amplamente divulgado em toda mídia no dia seguinte.
Outro fato que mostra a truculência da classe dominante (críticos, diretores de museus, etc.) e do qual eu fui a vitima, se refere a um evento de arte contemporânea, na década de 1970, onde me inscrevi. Quando fui levar os trabalhos, um determinado boçal, ao ver minhas pesquisas recentes e inovadoras, disse em tom ameaçador que se eu não dissesse que técnica era aquela e como tinha feito, ele não aceitaria. Retruquei argumentando que a técnica é uma pesquisa
, um segredo do autor e ninguém necessita revelar as suas descobertas. Provei que, pelo conteúdo e pelo conceito, os trabalhos estariam dentro das exigências do evento. Ele insistiu em que, se não revelasse a técnica, ele não aceitaria. Na época, na força, no impulso e arroubo de minha juventude, não ouso repetir aqui o que ele ouviu. E este apostolo da truculência continua até hoje ditando normas e regras como verdadeiro dignitário do sistema vigente.
Vejam bem, em qualquer pais de primeiro mundo, eu teria um patrocinador para desenvolver minhas pesquisas que eram renovadoras e importantes para o momento no campo da gravura, no entanto, voltei para casa frustrado e abandonei a pesquisa que nunca mais retomei. Contra a força não há resistência e é isso que acontece quando dão espaço e força , através do corporativismo existente, dando poder a um individuo incompetente, preconceituoso, apadrinhando seus pupilos, acostumado ao sistema viciado.-
E de onde vem esse corporativismo? Muitas vezes vem dos poderes constituídos, ou seja,a Prefeitura, o Estado e o Governo Federal. Muda o Secretario da Cultura e os cargos importantes da ponta da pirâmide começam a ser remanejados em uma disputa acirrada.
Uma outra grande prova da renovação e mudança das normas vigentes aconteceu por volta de 1980 quando mudou o Conselho da Bienal e com essa mudança foi extinta a forma democrática de todo e qualquer artista participar das Bienais, sendo submetido por um Júri de seleção e premiação. Muito bem, a partir daí era o Conselho da Bienal, que nomeava uma comissão, a seu critério, que escolheria quem iria representar o Brasil na Bienal.
Pergunto: como o Conselho da Bienal tem condições de saber da existência de grandes artistas nessa imensidão territorial que é o Brasil? Considere-se ainda da extinção dos grandes Salões Oficiais que serviam de amostragem de novos talentos.
Pois bem, a partir dai o sistema ficou viciado de tal maneira que, entra ano e sai ano, são sempre os mesmos apadrinhados que representam nossa arte, como se não tivesse surgido grandes novos nomes das Artes Plásticas.
Nesse caso, não seria exagero dizer que é a raposa tomando conta do galinheiro. Nessas condições, quem não é amigo de alguém importante nas artes, quem não é puxa-saco de crítico ou diretor de museu, quem não faz parte desse mundo corporativo e tem pretensões de ser artista, vai enfrentar uma luta desleal; não para evoluir sua arte, mas para vencer esse mundo corporativo.
A classe dos artistas sempre foi muito desunida pelo vedetismo imposto pela própria arte.
Creio ser oportuno um movimento que sacudisse as bases dos poderes constituídos para mudar os critérios de participação, seleção e premiação voltando nos moldes anteriores a 1980, onde todo artista, de qualquer parte do Brasil tivesse condições de participar, mostrar seu trabalho (se fosse aceito ou não essa seria outra historia). Como também deveriam organizar outros salões oficiais e que não fossem estabelecidos e dirigidos por essas raposas que estão por aí, mas sim por diretores e professores de escolas que tem competência e gabarito para tal empenho. Só depende de vontade política.
Haveria muito mais interesse pelos estudantes das Faculdades e Escolas de Arte que teriam um objetivo de trabalho e uma meta a alcançar.


Da década de 60 até mais ou menos até hoje, muitos críticos se sucederam no comando das diretrizes da arte. Foram eles, salvo a omissão de alguns e independente da ordem cronológica em que atuaram: Sergio Milliet, Clarival do Prado Valadares, Antonio Bento, Mario Schemberg, Roberto Pontual, Decio Pignatari, Murilo Mendes, Walmir Ayala, José Bento,Olívio Tavares de Araujo, Aracy Amaral, Geraldo Ferraz, Paulo Mendes de Almeida, José Geraldo de Vieira, Paolo Maranca, José Roberto Teixeira Leite , Olney Kruse, ,Luiz Ernesto Kawall, Ivo Zaninni, Carlos von Schmidt, Jacob Klintowitz, Alberto Beuttemuller,Enock Sacramento, Paulo Herkenhoff, Mario Pedrosa e muitos outros que não me lembro ou não conheci. Estes atuavam mais na área de São Paulo. Existiam outros críticos importantes que atuavam mais no Rio e em outros grandes centros. Nessa época a globalização ainda estava engatinhando.
Todos estes críticos tiveram uma atuação muito marcante .
Existem dois críticos que deixei por último por serem verdadeiros baluartes da pintura e contra todo tipo de mistificação, são eles Ferreira Gullar e Afonso Romano de Santana.
Alguns sumiram da critica outros permaneceram de maneira muito insignificante, outros ainda assumiram a identidade de curadores.-.
Existia também a AIAP (Associação Internacional dos Artistas Plásticos) da qual participei de sua diretoria por volta de 1975 e cuja presidente era Lucila Mezzotero.
Temos que lembrar também da Associação dos Críticos de Arte; ocorre que todas essas associações só existiam no papel mas não tinham nenhuma influência , eram uma presença decorativa e serviam apenas para cobrar a mensalidade de seus associados
Pois bem, à medida que ia mudando a política, inflação, recessão, governos, ia mudando o perfil do brasileiro e a grande massa popular, aquela que fica achatada em épocas de crise, foi perdendo o interesse pela arte , por seu mercado, seus leilões, exposições, noticias, a mídia foi restringindo seu espaço e os críticos perdendo seus empregos.
De 2 a 3 leilões de arte por semana passou-se a ver nenhum leilão de arte por mês em SP.
Os profissionais do setor começaram a procurar outras maneiras de ganhar dinheiro com arte.
Galerias começaram a inventar exposições coletivas de formandos em arte, outras inventaram consórcio de arte, outras publicavam revistas onde o iniciante em arte pagava para aparecer na revista com o preço proporcional ao espaço. Era a glória para quem estava começando. E assim apareceram muitos malabarismos comerciais.
Quanto aos críticos, inventaram a curiosa ocupação de curador.
Atualmente pouco acompanho os comentários de arte por ver tanta nulidade e textos sem nenhum significado. Outros, apadrinhados ou não, enquanto têm espaço vão produzindo as anarquias para indignação da platéia, atuando como críticos ou curadores transformando-se em verdadeiros ditadores da opinião alheia. São verdadeiros trogloditas da Arte onde a esperança é almejar a próxima renovação em que veremos estas “sumidades” de binóculo .
É com alegria que vejo um “Dom Quixote” chamado Luciano Trigo publicar seu livro “ A Grande Feira” que é um momento de verdadeira lucidez nesse meio conturbado, e aí vemos que nem tudo está perdido e ainda há esperança.-
Nosso interesse é apenas comentar a rotatividade dos críticos e galerias; e ao que parece, nenhum deles permanece fixo em um espaço na mídia.
Nos aproximadamente vinte e cinco anos (1965/1990) de força no meio artístico, em que havia muita agitação, tais como exposições internacionais, eventos de arte, exposições, leilões, palestras e cursos, havia um espaço de destaque em toda mídia (rádio, TV e principalmente jornais). Os jornais mantinham um caderno somente para as Artes Plásticas. Era uma área que tinha penetração junto ao público, onde se faziam crônicas, criticas, calendário das galerias, leilões, cotação de quadros, notícias, resultado de leilões etc.; tudo isso era oferecido ao público diariamente e esses espaços eram disputados acirradamente pelos críticos porque dava poder de barganha e chantagem.
Barganha porque o crítico seduzia o iniciante em Arte em fazer uma apresentação no catálogo de sua exposição e essa apresentação seria publicada no jornal de domingo (diga-se de passagem , a peso de muito ouro). Qual o iniciante que resistia a uma tentação dessas? E a crônica vinha recheada de nulidades, que se espremessem, não sairia nada e mais parecia um ensaio niilista.
A chantagem vinha por parte da comunhão entre as partes. Se a galeria promovia os pintores de interesse do crítico, esta galeria seria muito bem citada na mídia. Senão... a recíproca não seria verdadeira.Sem contar as colunas sociais que diariamente traziam a figura de algum industrial ou banqueiro ao lado do quadro que tinha arrematado no dia anterior.
Alguns fatores contribuíram para o fim desse esquema: governo Collor , mudança de foco na economia, mudança de costumes, onde a arte foi colocada em plano secundário com o advento das faculdades que inflacionaram o meio com um chorrilho de artistas medíocres e por fim a queda da Bolsa de Valores.
Com todos esses fatores negativos veio a perda de interesse, seguido da perda de espaço na mídia. Com isso os críticos perderam o emprego.Hoje, infelizmente, não existe mais esse espaço nos jornais e os críticos se resumiram a artigos de fundo, esporádicos, em jornais e revistas ou a apresentação de algum iniciante. Com isso, esse meio ficou desinformado e carente.Salões Oficiais praticamente desapareceram e perderam o crédito. Galerias não promovem exposições de novos artistas porque se tornaram eventos muito caros e os bons leilões também desapareceram junto com o publico.
O mundo é muito dinâmico e temos que ter consciência na arte, de que estamos em uma transição imposta pelo advento da internet. O computador mudou o mundo assim como a revolução industrial mudou a mentalidade em meados do Sec. XIX interferindo em todos os valores do individuo quer fossem de ordem moral, ética e religiosa, rompendo antigas tradições e assumindo uma nova postura, mais prática, arejada e higiênica- O mundo não era o mesmo depois da revolução industrial assim como não é o mesmo depois do computador. A arte tem a função de registrar todos os fatos da humanidade, quer sejam eles bons ou maus, bonitos ou feios. A principal função de um critico de arte seria funcionar como historiador, organizando, nominando e equacionando todos esses fatos registrados pelos artistas e esclarecendo o público .-.
Speltri - revisto em 13-02-2010 – ()RENOVAÇÃO DOS CRÍTICOS DE ARTE =




Qualquer observador atento faz uma constatação interessante sobre o meio artístico.
É a renovação constante dos verdadeiros donos da situação que eu chamo de classe dominante, constituída pelos críticos de arte, marchands, donos de galerias, historiadores, e acrescentaria ainda mais uma “ocupação” no mínimo curiosa, introduzida no meio artístico recentemente, que é a figura do curador.
Em São Paulo, na década de 1960, quando havia um mercado incipiente e o movimento de arte se concentrava mais nos Salões Oficiais de Arte, umas poucas galerias atendiam a elite paulistana. As principais eram a Cosme Velho na Alameda Lorena, a Documenta na Rua Padre João Manoel , a Galeria André que ficava na Av. Vieira de Carvalho vendendo muitos quadros de casarios de Ouro Preto espatulados por Durval Pereira , e outros tantos de igual conceito.-
Já nessa época, media-se a força de um crítico de arte pelo espaço e importância de seu meio de comunicação, assim, a dinâmica era diretamente proporcional.
Se o critico era membro do Conselho da Bienal, ou fazia parte da direção de Museus (MAM e MAC), se escrevia no “Estadão’ ou na “Folha”, esse critico tinha muito peso de decisão e influência. Pois eram eles que formavam o corpo de jurados dos eventos de arte e Bienais, escolhendo e premiando os artistas. E assim um artista premiado em um importante evento representava um passaporte para a fama e imortalidade. Principalmente naquela época em que o universo de artistas era bem reduzido. Foi assim que surgiram quase todos os pretensos gênios da pintura do momento atual da arte brasileira. Era esse o esquema da indústria da arte, uma espécie de clube fechado, que dependia do aval de toda classe dominante que com isso nos impuseram arte/artistas que eram verdadeiros lixo.- compradas pelos museus a peso de ouro. Assim , por muitos e muitos anos, amem, só se falou em Ligia Clark e Helio Oiticica como se fossem os únicos e verdadeiros representantes da arte contemporânea brasileira.-
Uma prova incontestável desse mecanismo viciado ocorreu em 1951, quando Ciccillo Matarazzo organizou a primeira Bienal, onde por incrível coincidência, funcionários de suas fabricas que pintavam letreiros e peças de propaganda de suas industrias, foram aceitos e premiados. .-
A comprovação do corporativismo no meio artístico sempre foi escandalosa e imoral, como daremos outros exemplos adiante. O ingresso em uma Bienal Internacional e ainda mais sendo premiado, em uma época em que praticamente não havia artista moderno no Brasil, (porque se considerarmos a Semana de Arte de 1922, a arte moderna no Brasil na época da primeira Bienal em 1951 tinha 29 anos. Esse intervalo em termos de historia é muito pouco tempo para se formar grandes talentos ).
Esse acesso, ainda mais na primeira Bienal Internacional no Brasil quando só havia outra, a de Veneza, significava um passaporte para a fama, com os trabalhos adquiridos por museus, seguidos pelos colecionadores e tudo mais o que se sabe.
Estes fatos não sou eu que afirmo, apenas estou intermediando as informações publicadas no Jornal Folha de São Paulo, por ocasião da comemoração dos 50 anos da Fundação Bienal. Aliás, quem quiser consultar o caderno especial, publicado para essa comemoração, ficará conhecendo mais detalhes curiosos dos bastidores ocultos da realidade de superfície.
Assim o casamento entre o crítico e o marchand era perfeito para promover pintores de acordo com os interesses da galeria ou de alguém.
Se um crítico não estivesse dentro de determinado esquema, usava seu poder de comunicação como formador de opinião para desarticular certos interesses.
Muitas vezes os leiloeiros eram obrigados a colocar obras de determinados artistas plásticos na capa dos catálogos e fazer vendas fictícias e altas cifras para elevar a cotação de certos pintores, o que seria amplamente divulgado em toda mídia no dia seguinte.
Outro fato que mostra a truculência da classe dominante (críticos, diretores de museus, etc.) e do qual eu fui a vitima, se refere a um evento de arte contemporânea, na década de 1970, onde me inscrevi. Quando fui levar os trabalhos, um determinado boçal, ao ver minhas pesquisas recentes e inovadoras, disse em tom ameaçador que se eu não dissesse que técnica era aquela e como tinha feito, ele não aceitaria. Retruquei argumentando que a técnica é uma pesquisa
, um segredo do autor e ninguém necessita revelar as suas descobertas. Provei que, pelo conteúdo e pelo conceito, os trabalhos estariam dentro das exigências do evento. Ele insistiu em que, se não revelasse a técnica, ele não aceitaria. Na época, na força, no impulso e arroubo de minha juventude, não ouso repetir aqui o que ele ouviu. E este apostolo da truculência continua até hoje ditando normas e regras como verdadeiro dignitário do sistema vigente.
Vejam bem, em qualquer pais de primeiro mundo, eu teria um patrocinador para desenvolver minhas pesquisas que eram renovadoras e importantes para o momento no campo da gravura, no entanto, voltei para casa frustrado e abandonei a pesquisa que nunca mais retomei. Contra a força não há resistência e é isso que acontece quando dão espaço e força , através do corporativismo existente, dando poder a um individuo incompetente, preconceituoso, apadrinhando seus pupilos, acostumado ao sistema viciado.-
E de onde vem esse corporativismo? Muitas vezes vem dos poderes constituídos, ou seja,a Prefeitura, o Estado e o Governo Federal. Muda o Secretario da Cultura e os cargos importantes da ponta da pirâmide começam a ser remanejados em uma disputa acirrada.
Uma outra grande prova da renovação e mudança das normas vigentes aconteceu por volta de 1980 quando mudou o Conselho da Bienal e com essa mudança foi extinta a forma democrática de todo e qualquer artista participar das Bienais, sendo submetido por um Júri de seleção e premiação. Muito bem, a partir daí era o Conselho da Bienal, que nomeava uma comissão, a seu critério, que escolheria quem iria representar o Brasil na Bienal.
Pergunto: como o Conselho da Bienal tem condições de saber da existência de grandes artistas nessa imensidão territorial que é o Brasil? Considere-se ainda da extinção dos grandes Salões Oficiais que serviam de amostragem de novos talentos.
Pois bem, a partir dai o sistema ficou viciado de tal maneira que, entra ano e sai ano, são sempre os mesmos apadrinhados que representam nossa arte, como se não tivesse surgido grandes novos nomes das Artes Plásticas.
Nesse caso, não seria exagero dizer que é a raposa tomando conta do galinheiro. Nessas condições, quem não é amigo de alguém importante nas artes, quem não é puxa-saco de crítico ou diretor de museu, quem não faz parte desse mundo corporativo e tem pretensões de ser artista, vai enfrentar uma luta desleal; não para evoluir sua arte, mas para vencer esse mundo corporativo.
A classe dos artistas sempre foi muito desunida pelo vedetismo imposto pela própria arte.
Creio ser oportuno um movimento que sacudisse as bases dos poderes constituídos para mudar os critérios de participação, seleção e premiação voltando nos moldes anteriores a 1980, onde todo artista, de qualquer parte do Brasil tivesse condições de participar, mostrar seu trabalho (se fosse aceito ou não essa seria outra historia). Como também deveriam organizar outros salões oficiais e que não fossem estabelecidos e dirigidos por essas raposas que estão por aí, mas sim por diretores e professores de escolas que tem competência e gabarito para tal empenho. Só depende de vontade política.
Haveria muito mais interesse pelos estudantes das Faculdades e Escolas de Arte que teriam um objetivo de trabalho e uma meta a alcançar.


Da década de 60 até mais ou menos até hoje, muitos críticos se sucederam no comando das diretrizes da arte. Foram eles, salvo a omissão de alguns e independente da ordem cronológica em que atuaram: Sergio Milliet, Clarival do Prado Valadares, Antonio Bento, Mario Schemberg, Roberto Pontual, Decio Pignatari, Murilo Mendes, Walmir Ayala, José Bento,Olívio Tavares de Araujo, Aracy Amaral, Geraldo Ferraz, Paulo Mendes de Almeida, José Geraldo de Vieira, Paolo Maranca, José Roberto Teixeira Leite , Olney Kruse, ,Luiz Ernesto Kawall, Ivo Zaninni, Carlos von Schmidt, Jacob Klintowitz, Alberto Beuttemuller,Enock Sacramento, Paulo Herkenhoff, Mario Pedrosa e muitos outros que não me lembro ou não conheci. Estes atuavam mais na área de São Paulo. Existiam outros críticos importantes que atuavam mais no Rio e em outros grandes centros. Nessa época a globalização ainda estava engatinhando.
Todos estes críticos tiveram uma atuação muito marcante .
Existem dois críticos que deixei por último por serem verdadeiros baluartes da pintura e contra todo tipo de mistificação, são eles Ferreira Gullar e Afonso Romano de Santana.
Alguns sumiram da critica outros permaneceram de maneira muito insignificante, outros ainda assumiram a identidade de curadores.-.
Existia também a AIAP (Associação Internacional dos Artistas Plásticos) da qual participei de sua diretoria por volta de 1975 e cuja presidente era Lucila Mezzotero.
Temos que lembrar também da Associação dos Críticos de Arte; ocorre que todas essas associações só existiam no papel mas não tinham nenhuma influência , eram uma presença decorativa e serviam apenas para cobrar a mensalidade de seus associados
Pois bem, à medida que ia mudando a política, inflação, recessão, governos, ia mudando o perfil do brasileiro e a grande massa popular, aquela que fica achatada em épocas de crise, foi perdendo o interesse pela arte , por seu mercado, seus leilões, exposições, noticias, a mídia foi restringindo seu espaço e os críticos perdendo seus empregos.
De 2 a 3 leilões de arte por semana passou-se a ver nenhum leilão de arte por mês em SP.
Os profissionais do setor começaram a procurar outras maneiras de ganhar dinheiro com arte.
Galerias começaram a inventar exposições coletivas de formandos em arte, outras inventaram consórcio de arte, outras publicavam revistas onde o iniciante em arte pagava para aparecer na revista com o preço proporcional ao espaço. Era a glória para quem estava começando. E assim apareceram muitos malabarismos comerciais.
Quanto aos críticos, inventaram a curiosa ocupação de curador.
Atualmente pouco acompanho os comentários de arte por ver tanta nulidade e textos sem nenhum significado. Outros, apadrinhados ou não, enquanto têm espaço vão produzindo as anarquias para indignação da platéia, atuando como críticos ou curadores transformando-se em verdadeiros ditadores da opinião alheia. São verdadeiros trogloditas da Arte onde a esperança é almejar a próxima renovação em que veremos estas “sumidades” de binóculo .
É com alegria que vejo um “Dom Quixote” chamado Luciano Trigo publicar seu livro “ A Grande Feira” que é um momento de verdadeira lucidez nesse meio conturbado, e aí vemos que nem tudo está perdido e ainda há esperança.-
Nosso interesse é apenas comentar a rotatividade dos críticos e galerias; e ao que parece, nenhum deles permanece fixo em um espaço na mídia.
Nos aproximadamente vinte e cinco anos (1965/1990) de força no meio artístico, em que havia muita agitação, tais como exposições internacionais, eventos de arte, exposições, leilões, palestras e cursos, havia um espaço de destaque em toda mídia (rádio, TV e principalmente jornais). Os jornais mantinham um caderno somente para as Artes Plásticas. Era uma área que tinha penetração junto ao público, onde se faziam crônicas, criticas, calendário das galerias, leilões, cotação de quadros, notícias, resultado de leilões etc.; tudo isso era oferecido ao público diariamente e esses espaços eram disputados acirradamente pelos críticos porque dava poder de barganha e chantagem.
Barganha porque o crítico seduzia o iniciante em Arte em fazer uma apresentação no catálogo de sua exposição e essa apresentação seria publicada no jornal de domingo (diga-se de passagem , a peso de muito ouro). Qual o iniciante que resistia a uma tentação dessas? E a crônica vinha recheada de nulidades, que se espremessem, não sairia nada e mais parecia um ensaio niilista.
A chantagem vinha por parte da comunhão entre as partes. Se a galeria promovia os pintores de interesse do crítico, esta galeria seria muito bem citada na mídia. Senão... a recíproca não seria verdadeira.Sem contar as colunas sociais que diariamente traziam a figura de algum industrial ou banqueiro ao lado do quadro que tinha arrematado no dia anterior.
Alguns fatores contribuíram para o fim desse esquema: governo Collor , mudança de foco na economia, mudança de costumes, onde a arte foi colocada em plano secundário com o advento das faculdades que inflacionaram o meio com um chorrilho de artistas medíocres e por fim a queda da Bolsa de Valores.
Com todos esses fatores negativos veio a perda de interesse, seguido da perda de espaço na mídia. Com isso os críticos perderam o emprego.Hoje, infelizmente, não existe mais esse espaço nos jornais e os críticos se resumiram a artigos de fundo, esporádicos, em jornais e revistas ou a apresentação de algum iniciante. Com isso, esse meio ficou desinformado e carente.Salões Oficiais praticamente desapareceram e perderam o crédito. Galerias não promovem exposições de novos artistas porque se tornaram eventos muito caros e os bons leilões também desapareceram junto com o publico.
O mundo é muito dinâmico e temos que ter consciência na arte, de que estamos em uma transição imposta pelo advento da internet. O computador mudou o mundo assim como a revolução industrial mudou a mentalidade em meados do Sec. XIX interferindo em todos os valores do individuo quer fossem de ordem moral, ética e religiosa, rompendo antigas tradições e assumindo uma nova postura, mais prática, arejada e higiênica- O mundo não era o mesmo depois da revolução industrial assim como não é o mesmo depois do computador. A arte tem a função de registrar todos os fatos da humanidade, quer sejam eles bons ou maus, bonitos ou feios. A principal função de um critico de arte seria funcionar como historiador, organizando, nominando e equacionando todos esses fatos registrados pelos artistas e esclarecendo o público .-.
Speltri - revisto em 13-02-2010 – ()

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