sábado, 23 de outubro de 2010

A RENOVAÇÃO DOS ARTISTAS =

Por volta de 1950 as grandes mansões das famílias tradicionais paulistanas começaram a mudar o perfil e não ostentavam mais quadros dos pintores acadêmicos oriundos do Salão Paulista de Belas Artes, que era praticamente o parâmetro de avaliação do desenvolvimento da pintura.-

( Até então todo pintor de relativo valor tinha que ter passagem obrigatória por esse Salão que era patrocinado pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.-
Sem nenhuma modéstia informo que fui premiado nesse Salão com a pequena de ouro, grande e pequena de prata, premio Governador do Estado, Premio Secretaria da Cultura , todos prêmios aquisitivos e muito outros prêmios honoríficos.- )

Com a nova mentalidade pós-guerra, a renovação da elite, novas casas, nova arquitetura não mais neoclássico ou barroco mas sim uma arquitetura de linhas retas e simples vindas da arte concreta, a nova arte que estava surgindo passou a integrar o novo estilo de vida.
A arte moderna no Brasil era muito recente considerando também a demora e dificuldade de informação e comunicação da época.
Poucos artistas mais ou menos profissionais ousavam apresentar seus trabalhos.- Muita gente pintava porem poucos se apresentavam.- Com isso conhecia-se todos os artistas porque eram em sua maioria sempre os mesmos.
Usamos a expressão mais ou menos profissionais porque na época não se considerava arte como profissão, mas sim uma atividade de boêmios, vagabundos, pobres , onde nenhum pai em sã consciência gostaria de ter um genro artista.- Hoje a coisa não mudou muito mas já melhorou um pouco com o advento das Faculdades.-
Então, na época como também hoje em dia, artistas tem outra profissão que garante seu padrão de vida, e se aventuram no meio artístico. Se der certo adotam a atividade como profissão, se não der certo continuam com o que faziam.-
Entre os pintores que estão hoje vivendo da arte como profissão (ou viveram) vamos encontrar pintores de parede, açougueiro, agricultor, jogador de futebol, medico, engenheiro, arquitetos, sapateiro, publicitário, e muitas outras profissões que nem sabemos.-
Em termos de mercado, tinha pouca “mercadoria” disponível .- A arte moderna estava surgindo com muito estardalhaço na Europa porem ainda não estava sendo exportada, sendo assim, os artistas mais privilegiados iam até Paris , que era o centro cultural do mundo, tomavam conhecimento e aprendiam a nova arte e voltavam a seus países de origem para serem os precursores da nova arte e eram aplaudidos como também disputados independente de sua qualidade .- Como traziam uma arte até então desconhecida, todos aceitavam, aplaudiam, porque não tinham parâmetro de avaliação.
O público não tinha muita opção e os críticos tinham que realizar seu trabalho falando sempre dos mesmos artistas.-
Foram nessas condições que quase todos os pintores brasileiros firmaram seu nomes no cenário da arte brasileira.- e como eram poucos, passaram a ser referencia.
Assim no final da década de 60, mais precisamente 1968, quando começou a surgir um mercado mais ativo, a lógica era valorizar esses poucos pioneiros , independente de suas qualidades e procurar novos talentos para suprir a demanda.- Afinal um mercado precisa de mercadoria e mercadoria vendável.- É assim que o marchand vê a arte.
Hoje houve uma mudança dos critérios do meio artístico.
A grande maioria dos pioneiros já faleceram ou estão a caminho.-
Uma nova mentalidade se estabeleceu com o surgimento das Faculdades de Artes que “jogam” no mercado toneladas de novos artistas que vendem a mãe por um lugar ao Sol.- O pior é que vendem e entregam.
Com isso a arte da grande massa de iniciantes passou a ser uma arte descartável a qual se convive por algum tempo depois se descarta, porque seus preços ficaram quase a nível do material.- Com isso os pintores de porte médio entraram nessa cortina de fumaça pouco importando seu currículo. Assim achatou-se a classe dos artistas entre os bem sucedidos e os poucos recomendados.-
Se consultarmos os catálogos dos Salões de arte da década de 1950 e 1960 vamos verificar que há uma repetição dos mesmos artistas e pouco aparece novos nomes e o numero de participantes é muito pequeno.
Tive a curiosidade de verificar, para efeito de dados desta crônica, quantos artistas participaram do II Salão de Arte Contemporânea realizado em Dezembro de 1970.- Cento e setenta e dois artistas ( 172) - inclusive participei com gravuras.-
Deve-se levar em conta que na época esses Salões Oficiais tinham grande importância e servia de escada para se tornar conhecido do público, critica e marchand.
Com o surgimento das Faculdades de Arte praticamente oficializou-se a profissão de artista plástico. Sim porque uma escola de arte é um curso profissionalizante e é engraçado que os alunos se surpreendem com essa afirmação.- Acontece que as escolas fazem seu papel de preparar um profissional das artes plásticas, porem não há mercado para consumir a produção e a colocação para um setor de pouca procura e assim a aldeia fica desequilibrada havendo mais cacique que índio.-
Não é como uma faculdade de medicina, advogado, arquitetura, etc. que o tem um mercado de trabalho relativamente garantido, onde pode abrir um ponto pessoal de trabalho alem de trabalhar em alguma empresa.- Mas, com certeza, essas faculdades não garantem trabalho para seus formandos, já os formandos em artes plásticas culpam as escolas pela falta de oportunidade de trabalho.- Com uma agravante, quase todos esses formandos fazem o curso por diletantismo ou status e não dependem da arte para viver.- Querem apenas a satisfação de ter um quadro exposto ou vendido para um brilho no ego e a auto-afirmação como lenitivo para seus traumas.
É uma concorrência valida porque essa juventude tem muito talento e criatividade porem a quantidade de arte e artistas é muito grande e essa “meninada” faz de tudo para ter um lugar ao Sol.
Nessa corrida sem critério, considerando também outros fatores, a arte banalizou-se.- Virou produto barato e descartável.-
O quadro hoje virou um arranjo artesanal de texturas decorativas, onde qualquer um, sem conhecimento nenhum de arte ou com um cursinho de fundo de quintal, apenas com um pouco de bom gosto, com tendencia a decoração, faz quadros “bonitos” e baratos.-
Neste clima meio confuso, fica difícil pinçar os grandes talentos para a continuidade da verdadeira linguagem artística e esses talentos ficam embaçados nessa falta de oportunidade, desesperados para criar, não ter onde expor , perdidos , sem rumo e objetivo perdem o interesse pela arte.
Como esses jovens artistas não tem técnica porque não deu tempo de aprimorá-la, tampouco amadurecimento teórico, que só o tempo traz, pretendendo fugir da banalização decorativa, apelam para o mais fácil que são as instalações, arte conceitual, interativa e outras modalidades como vídeo-arte, etc.
Assim esta inflação de artistas, junto com esta confusão de conceitos, este sistema viciado entre a classe dominante, tudo enfim constitui uma verdadeira Torre de Babel.-

Um comentário:

  1. È caro amigo, difícil!! Eu quero pintar...pintar e pintar...quando fico sem pintar parece que me falta o ar...impulso...
    Mas preciso comer, vestir e criar meus filhos... quero pintar!! Então optei em dar aulas de pintura...se sou boa o bastante??? Não sei!!! Sei que faço tudo com muito AMOR e Honestidade!!!
    Se vendo minhas criações?? As vezes...por bem menos do que realmente valem...pois para mim elas são tudo!
    bjs Lucilene Faria Lucraft@terra.com.br

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