sábado, 23 de outubro de 2010

COMENTARIOS SOBRE UM CURSO DE PINTURA

O QUE SE DEVE SABER SOBRE UM CURSO DE PINTURA


(Com base na palestra proferida na turma do Básico do prof. Alexandre Whidmer em 23-11-2006, foi desenvolvido este texto )



























Capitulo pagina


Considerações gerais..............................................................................................4

A carga didática......................................................................................................14

A parte pratica – questão da técnica ......................................................................16

Primeira proposta – Natureza-Morta.......................................................................17

Segunda proposta – mudança de técnica – alteração do resultado...........................19

Terceira proposta – conteúdo...................................................................................20

Quarta proposta – paisagem......................................................................................21

Quinta proposta – Nu – (modelo vivo)......................................................................22

Sexta proposta – interpretação da cor.......................................................................23

Sétima proposta – o ver e o saber...............................................................................24

Oitava proposta – abstração .......................................................................................27




























considerações gerais

A pintura é a mãe de todas as artes gráficas. A pintura é a primeira . A que melhor ensina a compor, organizar formas, tons e cores.
Pouca gente faz idéia de que o curso de pintura é o mais difícil de todas as artes. Muitos pensam que é uma atividade de lazer, passa tempo, como se fosse pintar moranguinhos em pano de prato ou patinhos na lagoa.
O curso de pintura é um curso “pesado”, que exige muita dedicação, responsabilidade e trabalho, porque é uma atividade que não tem regras, não tem receita, como se fosse fazer um bolo. - A pintura não é uma ciência com leis e objeto próprio, porque aí teríamos condições, como em toda a ciência, de qualificar, quantificar, aferir, parâmetros de construção e resultado, pesar, medir, etc.
A pintura se aproxima da filosofia, onde temos apenas conceitos, pensamentos, criatividade, interpretações, e outros tantos axiomas, onde não se prova nada, não se mede nada, onde o instrumento de aferição é a capacidade intelectual, cultural de cada um.
É importante que o candidato ao curso de pintura conheça o conteúdo didático, a carga de trabalho, e os objetivos do curso, para não se enganar quanto as reais intenções e responsabilidades do curso, da escola e do professor. Para tanto, é bom afirmar, para surpresa de muitos, de que o curso de pintura é um curso profissionalizante, por isso a escola tem a responsabilidade de preparar os alunos em nível dos profissionais que estão atuando na área. O aluno tem que sair da escola com um diploma que os habilite a encarar de igual para igual não só os artistas profissionais como os eventos de arte, exposições, bienais, etc. Assim, como uma atividade profissional, ela não pode ser adotada com exemplos do passado, de 200, 300, 400 anos atrás. A arte tem que ser encarada, exercida e praticada nos moldes atuais. Damos como exemplo um médico clinicar dentro dos padrões de séculos passados, ou mesmo viver, hoje, sem um computador ou um celular. Assim toda a atividade tem que estar compatíveis com a atualidade, e a pintura seguem e registram essa atualidade.
Por isso, voltamos a afirmar que um curso de pintura é o mais difícil de todas as artes, principalmente porque ele já vem “mascarado” ou rotulado com uma aura mística, boemia, com uma falsa intelectualidade, como um modelo exportado por Paris no século XIX, e aceito por todo mundo, ainda mais consagrado por poetas, escritores, filmes, etc.
Por isto tudo e mais alguma coisa, é bom o candidato saber alguma coisa sobre a pintura, essa atividade fantástica que valoriza o individuo e enriquece a Humanidade.

A pintura, como todas as artes é constituída de valor atribuído. O valor artístico não é aferido, não é medido, não se coloca em uma balança para ver quanto tem de arte um concerto, um poema, uma literatura, uma escultura, uma dança, um quadro.
Um quadro de Pollock, recentemente bateu recorde de preço, sendo um tipo de pintura abstrata, que não precisa ter muita habilidade para executar, sendo uma pintura de ação e do acaso, onde o gotejamento de tinta sobre um suporte define o resultado. O que definiu isso? Uma balança ? Um metro? Não! Foram atribuídos os valores, e teve alguém que acreditou nesses valores e pagou.
Podemos aferir sim, a condição técnica de um quadro. A qualidade técnica da composição, a qualidade técnica dos claros e escuros, o grau de criatividade na organização dos elementos, e habilidade com os materiais, o estilo do autor, o domínio e ritmo das pinceladas, isto tudo, podemos sim aferir, tudo isto também não garante a qualidade da obra. O quadro poderá ter todas essas condições e não ser uma “obra de arte”, ser apenas um trabalho tecnicamente correto e sem conteúdo, sem mensagem, sem linguagem.
Podemos aferir a condição técnica e a qualidade do material de um produto. Por exemplo, uma camisa, pode avaliar o tecido, a confecção, e principalmente a grife. Com base nesses elementos podemos ter uma idéia do valor, mas nenhum deles ou todos eles juntos não pode garantir que a camisa seja confortável e bonita.
E uma obra de arte? Um quadro? Um quadro de um pintor desconhecido pode valer “x”, e um quadro do mesmo tamanho de um pintor consagrado vale milhões de “x”.- Porque esta diferença se é os dois são do mesmo tamanho, os dois tem qualidades? Isto porque estão se avaliando atribuições. Ao pintor consagrado foram atribuídos valores que não foram reconhecidos ou atribuídos ao pintor desconhecido. E o mais fantástico na arte é que ela da plena total e irrestrita liberdade para todos questionarem essas atribuições. Picasso, por exemplo, ainda hoje, para muitos é o gênio do século XX , e para outros é um charlatão oportunista. Quem está certo? Todos. Como dissemos no inicio, a avaliação de uma obra de arte depende da condição intelectual do expectador, ainda mais, terá que saber que por valor atribuído entende-se: valor histórico da obra, valor histórico do pintor, contribuição do pintor ou da obra para o desenvolvimento da arte, renovação de conceitos, técnica, estilo, tema, etc. e ainda mais, e talvez o mais importante, a empatia entre obra e expectador.
Voltamos a insistir, já que estas palavras são dirigidas aos iniciantes, de que a pintura é uma atividade que depende de muita pratica, muito exercício, onde o professor esclarece os conceitos e o aluno tem que pratica-los até ter habilidade para transformá-los em linguagem pessoal, sem necessariamente ser bonito, bem feito, mas sim com criatividade, espontaneidade.
Aí surge a ansiedade do aprendiz que “entende”, mas não consegue fazer. Isto porque entre o entendimento e a execução desse entendimento existe uma distancia chamada: pratica, exercício, trabalho, habilidade e experiência. A habilidade se desenvolve de acordo com o tempo que se dedica ao trabalho. Quanto mais tempo se dedica mais habilidade se adquire.
Imaginam-se os dois pratos da balança, onde em um deles está a capacidade intelectual de iniciante, que esta lá no alto, e o outro prato da balança onde esta a habilidade, que está lá em baixo. O iniciante sabe, entende, mas não consegue fazer. Isto porque precisa da habilidade, da intimidade com os conceitos, com os instrumentos e materiais da pintura. Portanto , voltamos a dizer que a pratica se adquire dependendo do tempo que se dedica a ela.
É importante que o iniciante tome conhecimento dessa fisiologia, para que não venha com apoteose mental, achando que vai ouvir uma explicação e vai ao cavalete executar uma linda obra de arte. Nada disso vai acontecer. No inicio vão acontecer exercício incorretos, falhos, fracos, característicos de quem está começando a pintar, sem pratica, sem habilidade, mas que são necessários para devidas correções de rumo para a formação de um pintor. -
Crescemos e nos desenvolvemos dentro de conceitos que são generalizados para toda atividade humana, porem nem sempre são pertinentes, e ninguém contesta, porque eles fazem parte de nosso dia-a dia na família, religião, sociedade e trabalho. Porem, com respeito à arte, determinados conceitos é errado e ninguém faz uma reflexão a respeito. Por exemplo, todo mundo aprende e cresce ouvindo que arte significa beleza. Para ser arte tem que ser bonito e bem feito. Isto só pode ser verdade para aqueles que têm uma formação cultural suspeita, sem nenhuma instrução nos campos das artes e não sabe o que é linguagem artística, expressão, comunicação, conceito, estilo e conteúdo Universal. Pode sim, ter tudo isto e ser bonito, mas, arte não tem nada a ver com beleza, onde já se demonstrou que o caos e a desordem também geram padrões.
Uma mulher, por exemplo, pode ter um grande conteúdo, ser inteligente, culta e também ser bonita. Mesmo com todos os atributos, poderia ser feia de acordo com os padrões formais de beleza. O que no final prevalece de importante e perene é o conteúdo e não a forma. Beleza, pura e simplesmente, é fútil. Vamos imaginar uma loura exuberante, que entra em uma festa, bem produzida, bem decotada, linda, porem, quando abre a boca, é uma lástima, uma grande decepção, fútil, vazia, sem conteúdo, sem carisma, e toda aquela beleza formal se evapora, desaparece.
Principalmente na pintura, e aqui não estamos falando de decoração, a beleza não tem nenhuma importância. Então o que importa na pintura? O que é a pintura? É tudo o que já dissemos logo acima, e é bom repetir, é linguagem, comunicação, conteúdo, mensagem, expressão, pode ser até ilustração, história, técnica, estilo pessoal e conteúdo Universal. E por acaso, com tudo isto, ela ainda poderá ser bonita, e enfeitar a parede da sala.
Convém explicar o caráter ilustrativo da pintura, que para muitos ainda hoje é desconhecido. Durante séculos, a pintura era o único meio de documentar e registrar fatos e coisas. Por exemplo, como era o rei ou rainha, como foi tal batalha, como eram as alegorias mitológicas, eram chamados os pintores para registrar, documentar e ilustrar. Por isso, muitos e muitos quadros, quando são vistos, não se lembram que tiveram o caráter ilustrativo. Porem, para essa modalidade de pintura, tinha (ou tem) que ter habilidade, ou seja, um bom desenho e um bom domínio técnico. Portanto não confundir a pintura ilustrativa com o real fundamento da pintura, a que se propõe em ser uma linguagem do autor sem nenhum compromisso com o mundo visível.
Outro conceito errado que passou a ser adotado, é considerar a pintura como complemento da decoração. Quadros para enfeitar parede. Isto é humilhante para a pintura, qualquer calendário, pôster, ou coisa do tipo pode desempenhar essa função. Contou-se a historia de civilizações antigas através da pintura e trabalhos gráficos, para ser reduzida a complemento de decoração e ainda descartável. A pintura é muito mais profunda, muito mais nobre, muito mais significativa, mais consistente do que um elemento decorativo ou um brinquedo de lazer e passatempo de brincar de pintar quadrinhos. E o que contribui para isso são esses cursinhos de fundo de quintal, aonde chegam às senhoras com um modelo ou gravura na mão dizendo: - “Professor, eu quero pintar este quadro”. Inicia-se aí uma espécie de monitoração onde a pseudo-aluna vira uma espécie de robô, obedecendo às ordens do professor. Ao final de algum tempo, seja lá quanto for o quadro é terminado, e com certeza com grande parte executada pelo professor, que monitorou a aluna para chegar a um resultado semelhante ao modelo. Isto não é aula de pintura! Isto é “aula de atelier”, que é muito diferente de um curso regular de pintura, geralmente dado em escolas.
Curso regular é um curso com uma programação didática compatível com o padrão Universal de arte.
É bom que o iniciante entenda bem estes dois tipos bem diferentes de aulas de pintura de pintura, sendo um dado como aula particular em ateliês de artistas capacitados ou não, e o outro tipo de aula são cursos regulares dados em escolas que geralmente já tem seu aval de qualidade da comunidade.
Em aulas de atelier é aonde as “senhoras” vão geralmente passar o tempo aprendendo a pintar rosas com gotas de orvalho, pintar os nenúfares de Monet e os cansativos crepúsculos avermelhados e outros temas de baixo nível de qualidade. Porem passa o tempo, se divertem, sem compromisso, sem ter que pensar ou ter talento. Ah! Ia me esquecendo, ainda dá status dizer que está fazendo aulas de pintura. Para esse tipo de objetivo e esse tipo de mentalidade, esses cursinhos cumprem o objetivo.
Porem, para quem quer realmente uma coisa séria, competente, com idoneidade, procura uma escola que tem um nome a zelar, com cursos igualmente de nível internacional, pois como dissemos no inicio, são cursos profissionalizantes e os formandos de uma escola de grande envergadura e reconhecimento público, se impõem diante do contexto nacional e internacional. Portanto, para quem quer um curso sério, não vai brincar de pintar quadrinhos, nem passar o tempo e está seriamente engajada no propósito de receber uma orientação segura, com certeza vão terminar o ano já como autêntico pintores, prontos e aptos a enfrentar e entender as questões do ano seguinte (no caso, o terceiro ano), que aí sim se formarão artistas contemporâneos.
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Outra confusão que se estabelece entre os menos esclarecidos em pintura, é a que se faz entre “habilidade” e criatividade. É comum pessoas dizerem que gostariam de fazer um curso de pintura, mas desistem porque não conseguem desenhar nem uma casinha, ou seja, se não tiver habilidade do desenho, em captar o mundo visível e transporta-lo para um suporte (tela, papel ), com um desenho correto, se não fizer isto, não seria um pintor. Errado. Para pintar ou se expressar graficamente não precisa saber desenhar com habilidade. Pintar é se expressar graficamente, seja do jeito que for, ou o que cada um consegue desde que seja uma atitude criativa e espontânea. Os homens primitivos das cavernas não eram desenhistas exímios, no entanto deixaram um legado gráfico importantíssimo para a Humanidade.
A confusão que se estabelece é que até um determinado período histórico, o importante na pintura era a habilidade. Habilidade com o desenho e com os materiais, transportando o mundo visível para um suporte, com padrões de igualdade e beleza. Nesse período, se não tivesse habilidade, não seria pintor. Isto porque até uma determinada época, a pintura servia como ilustração para registrar e documentar fatos e coisas. Isto foi até mais ou menos 1900, ou seja, a passagem do século XIX para o século XX, um pouco antes, um pouco depois. Porque se estabelece esse período e como começou? Vamos tomar como ponto de partida, a referencia a Renascença, por volta de 1.450, e vem até l900, onde se estabelece um momento chamado de Ruptura na Tradição. Vamos comentar um pouco esse período, porque ele é importantíssimo para o entendimento da importância da habilidade nesse período.
Tomando como referencia, por volta de 1400, os católicos eram todos analfabetos, sem ofensa nenhuma porque somente os nobres e as classes mais privilegiadas tinham acesso à cultura e a alfabetização. Como é que a igreja ia ensinar sua liturgia para analfabetos. Não adiantava escrever o catecismo, apostilas e livros. A única maneira seria através da imagem, da mesma maneira como se alfabetizava crianças até bem pouco tempo (se não for até hoje). Portanto, naquela época, os papas , em um lance genial, recorreram aos pintores para produzir imagens para propagar a liturgia católica. Convocaram os grandes pintores da época para ilustrar a criação de Adão, o Céu, o Inferno, ascensão de Cristo, batismo, etc.etc.etc.. Então, através da pintura, foram propagados e divulgados os símbolos, signos, rituais e praticas da igreja católica. Propagar é fazer propaganda (é lógico, apenas como reforço de retórica), assim, o teto da Capela Sistina é o maior e mais importante instrumento de propaganda e marketing que se tem conhecimento. (sem considerar que os primeiros marketeiros que se tem conhecimento foram os apóstolos de Cristo que “venderam” um produto, o cristianismo, que esta sendo “comprado” até hoje.).
Vejam bem, lembrem o que dissemos no inicio deste trabalho, de que a pintura é a primeira, é a mãe de todas as atividades gráficas, considerando que a propaganda e marketing, que muitos pensam que é “invenção” recente dos americanos, e que hoje é um dos principais instrumentos do comercio, indústria e seus respectivos mercados, sem o que, os produtos não seriam conhecidos, disputados, propagados, comprados e consumidos, imaginem, tem sua origem na pintura!
Voltando ao nosso foco, se o objetivo da pintura dessa época era ilustrar, representar a liturgia católica, tinha que ser bem feita, bonita, impressionar os fieis, portanto tinha que ter a habilidade do desenho e da técnica. - Imaginemos Picasso pintando o teto da capela Sistina. Seria um grande painel, tão fantástico quanto ao de Michelangelo, mas não atingiria os propósitos da igreja. Vamos imaginar um fiel pedindo graças e misericórdia ajoelhado diante de um quadro de Kandinsky. Seria uma cena surrealista senão patética! Assim é fácil comparar para o iniciante a necessidade da habilidade na pintura ilustrativa, ou narrativa dessa época e seus objetivos. O pintor não pintava o que queria, pintava o que mandavam e do jeito que mandavam. Fatos e lendas narram episódios de momentos em que o pintor não fazia o que a igreja queria, mas deixemos essa parte para outro momento.
Vamos considerar que de 1.400 até 1.900, estabeleceu um “cacoete”, ou um falso conceito de que a pintura tinha que ser bela, bem feita, com semelhança ao mundo visível, ser realista, e daí vêm o complexo de que, quem não tem habilidade, não tem vocação para a pintura.
A grande mudança surgiu por volta de 1900, na passagem do séc. XIX para o séc.XX, quando houve uma ruptura na tradição.
Por volta do inicio do séc. XIX aconteceu à revolução industrial. Desencadeou um período de grandes produções de bens de consumo, como por exemplo, não era mais a dona de casa que produzia seu fio na roca e o tecia em seu tearzinho manual. Passou a ter grande fabricas de tecido, produzindo infinidades de peças, e para isso tinha que ter muitos teares, e para produzir as maquinas tinha que tem gente produzindo as peças das maquinas, e desta maneira desencadeou um processo em escala crescente em todos os setores de atividade, com sindicatos, órgãos de divulgação, bolsa de valores, etc.etc. O ciclo de evolução era tão grande que a cada momento descobria-se ou se inventava alguma coisa nova que começava a ser fabricada e consumida em beneficio da coletividade.
Imagina esse ciclo de desenvolvimento em todos os setores da atividade humana. O mundo mudou, e a mentalidade acompanhou a evolução.
A locomoção era feita por tração animal. Ford inventou o automóvel. A locomoção passou a ser feita por tração mecânica, quem iria andar a cavalo, de diligencia ou charrete depois do automóvel? A luz era de lamparina a óleo, depois veio à luz a gás em seguida luz elétrica. O fogão era a lenha, com as panelas cheias de fuligem. Surgiu o fogão a gás. Isto apenas para citar alguns exemplos de mudança de habito ou, ruptura na tradição.
Em todos os campos de atividade humana romperam-se os limites que até então vigoravam, como por exemplo, no campo religioso, até então a “alma” era do padre (ou igreja). Freud publica em 1900 o livro dos sonhos, que era um marco importante na psicanálise. A partir daí a “alma” passou a ser do psiquiatra.
Outro exemplo importante é que no inicio do séc. XX o átomo era considerado a menor partícula da matéria, indivisível. Em 1915, Einstein mostra ao mundo sua “Teoria da Relatividade”. O mundo mudou, surgiu a era atômica, energia nuclear.
Em 1920, Alexandre Fleming nos traz a penicilina, onde até então se morria por qualquer infecção. Assim foram se rompendo as tradições e o mundo foi adotando uma nova postura com uma nova mentalidade. Como hoje, estamos vivendo o mesmo ciclo apenas com um novo advento: a informática.
Pois bem, a esta altura alguém poderia perguntar o que isto tudo tem a ver com a pintura.
Se considerarmos a humanidade em três segmentos: ciência, religião e arte, onde a ciência inventa, descobre, produz. A religião, hoje substituída pela política, administra e a arte, registra. Portanto, a arte acompanha o desenvolvimento da humanidade e registra a sua contemporaneidade. Como já dissemos anteriormente a arte registrou civilizações extintas e contou historias de outras tantas como os celtas, etruscos, egípcios, maias, astecas, incas e até do homem das cavernas.
Nessa época, enquanto o mundo apresentava uma evolução e desenvolvimento acelerado, as artes apresentavam o mesmo comportamento e seus autores tinham liberdade para quebrar paradigmas e tradições. Na literatura, por exemplo, o que é um romance senão uma historia contada com começo, meio e fim, com a organização de frases, vírgulas, pontos, parágrafos e toda uma estrutura padronizada. Pois bem, surge James Joyce e promove toda uma revolução na construção de um romance quando publica “Ulisses”. Sem falar nas imagens absurdas e surrealistas de Kafka.
Outro exemplo, agora na musica. O que era a musica senão constituída basicamente por ritmo e melodia. Seria impossível conceber ou imaginar uma musica sem esses dois elementos essenciais pelo que julgava a tradição. Igor Stravinsky apresentou “Sagração da Primavera”, uma composição sem um ritmo dominante, sem uma melodia definida pelos acordes melódicos tradicionais, com dissonâncias, desencontros de linguagens, como se fossem diálogos de instrumentos, enfim, uma composição absurda para a época e que hoje é um clássico, precursora de uma nova era para a musica. Assim como muitos outros seguiram o caminho da liberdade criativa, rompendo e criando padrões de estética e de composição como Debussy, Bella Barthok.
Na pintura, de todos os movimentos que surgiram no inicio do século XX, entre eles citamos o construtivismo, surrealismo, expressionismo, futurismo, suprematismo, enfim, uma serie de movimentos e tendência que surgiram decorrentes da liberdade criativa adotada, quando se rompeu com a tradição e surgiu uma nova mentalidade. Como hoje, pois a historia se repete, também naquela época surgiu uma espécie e competição para ver quem conseguia criar alguma coisa diferente, nova e que ninguém ainda tinha feito. Com isto, em todos os cantos do mundo houve uma espécie de psicose coletiva entre os artistas embriagados pela liberdade de criação. Muitos movimentos que surgiram nessa loucura desenfreada, viraram água em pouco tempo e hoje são apenas citados historicamente, mas, três movimentos se mostraram consistentes com conceitos que realmente influenciaram e contribuíram para o desenvolvimento da pintura, são eles o fauvismo (interpretação da cor), o cubismo (o saber é mais importante que o ver), e o abstracionismo (onde foi abolida a narração figurativa). Mais tarde, em outro capitulo voltaremos a falar desses movimentos.

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Pois bem, um fato importante que contribuiu para a libertação do pintor do jugo das classes dominantes, foi à invenção da maquina fotográfica em meados do século XIX, que passou a ser um instrumento de geração e multiplicação de imagem. A partir daí não era mais chamado o pintor para registrar fatos e coisas, ou para pintar o rei. Chamavam o fotografo. Alem da maquina fotográfica surgia também o cinema como mais uma técnica, ainda mais com a imagem em movimento.
Assim, até um determinado momento, o pintor era o único meio de se criar imagem para qualquer tipo de finalidade que, de uma hora pra outra perdeu essa exclusividade, ficando liberado para pintar o que queria como queria e o que sabia, mesmo sem compromisso com o mundo visível. Poderia se pensar que a partir daí a pintura teria virado uma bagunça. Afinal de contas, foi mais ou menos isso, porque se de um lado abriu-se uma grande porta, por ela passaram entre artistas bem intencionados como também vigaristas e charlatões.
Com a total liberdade, a pintura passou a ter sua real função que é a expressão gráfica de seu autor, sem compromisso com a realidade, comunicando seus signos, seus símbolos, seus valores em uma linguagem pessoal. Os verdadeiros pintores passaram a fazer o que queriam, do jeito que queriam e como sabiam , respeitando composição formal, tonal, cromática, estética, equilíbrio, estilo, técnica, linguagem, conceito, comunicação e conteúdo Universal. Se fizer o que quiser e como quiser e colocar todos esses elementos, com certeza teremos uma ótima composição. E é o que o iniciante vai fazer.
Foi a partir desse rompimento com a tradição, os pintores iniciaram uma nova “maneira” de ver e interpretar os objetos, onde não prevalecia mais sua aparência externa, mas seu interior, seus componentes, sua composição, sua função e seu conceito. O tema passou a ser um mero pretexto com positivo, onde a mensagem e comunicação que o pintor pretende estabelecer serão conseguidas por uma soma de elementos que irão determinar o equilíbrio da composição e seu conteúdo.
Assim, o pintor deixou de fazer pintura ilustrativa e passou a contar uma historia através de seu quadro, igual a um escritor, poeta ou musico. É uma narração feita através da maneira como o autor trabalha os elementos e materiais do quadro, por exemplo, pinceladas nervosas (Van Gogh, de Kooning), pinceladas calmas (Morandi), cores tristes (E.Munch), cores alegres (fauve-Matisse, Derain), organização dos elementos (De Chirico), enfim, o autor tem a sua disposição uma infinidade de recursos para conduzir seu trabalho a sua conveniência, porem, para isso é preciso muita intimidade com a pintura, suas ferramentas e materiais, conseguida somente com muitos anos de dedicação, estudo, pratica e trabalho. Tempo, muito tempo de pratica e trabalho que darão à habilidade e segurança profissional.
Pouca gente sabe ver a narração de um quadro. Por vezes fica-se diante de um quadro sem saber “ver” o conjunto de elementos que determinam o valor da obra, sem saber quantificar os valores estabelecidos pela mensagem ou linguagem, pelo estilo, pelo conceito, pelo tema, e pela técnica, ou até pelo valor histórico da obra ou do pintor.
O autor faz uma narração gráfica de acordo com seus valores e competência, sem nenhum compromisso com a realidade ou com o mundo visível, porem, para entender esse momento histórico na pintura onde, enquanto o mundo mudava de acordo com novas descobertas e invenções, a mentalidade acompanhava esse ritimo de desenvolvimento, assim, tendo outros meios de produzir imagens e ilustrações, os pintores perderam as encomendas. Formou então uma casta a margem da sociedade, assumindo a liberdade que agora tinham direito. Daí por diante pintavam o que queriam como queriam e do jeito que sabiam. Daí surgiu a imagem exportada por Paris do pintor pobre, faminto, barbudos, chapelões, casaco de veludo, imortalizados ainda mais pelos escritores e filmes.
Começou então a surgir novas maneiras de se fazer pintura, de se pensar em arte, liberta do ranço acadêmico que vigorava, dentro de uma nova realidade interpretada e adequada a um novo tempo. Ou a arte é de seu tempo ou não é de tempo nenhum.
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A arte acompanha todo ciclo da Humanidade e registra através de cada linguagem adequada a cada expressão artística.
Estamos hoje presenciando um exemplo de como a arte registra a contemporaneidade (11-2006). No mundo todo só se vê violência, corrupção, impunidade, prepotência, megalomanias, concentração de poder nas mãos de classes dominantes, valores morais e éticos rebaixados a níveis nunca vistos ou imaginados. Ninguém se entende. É o poder do capital em uma sociedade de consumo, globalizada, onde os valores são descartáveis, nivelados por baixo e em todas as partes do mundo veste-se jeans e come-se hambúrguer. - Conseqüência : esta Bienal de 2006 é a pior de toda historia das Bienais, sem nexo, sem rumo, sem coerência, sem uma comunicação com o público, onde anda-se pelos pavilhões sem que nada atraia o espectador para um dialogo.Somente manifestações esdrúxulas, patéticas, inverossímeis, anedóticas, cínicas, vazias e descartáveis . Esta Bienal é o retrato do mundo atual.

Voltando ao nosso discurso, a partir de séc. XX o pintor passou a criar uma linguagem pessoal, única, individual. Por exemplo, se fizermos um grafismo aleatório, com riscos e rabiscos e formas que não existem no mundo visível, será uma expressão gráfica que passou a existir a partir do momento em que ela foi feita. Não importa se é bonita ou feia, ou se representa alguma coisa ou não. Essa expressão gráfica foi criada a partir de um impulso, de acordo com o perfil psicológico do autor. Não deixa de ser uma expressão pessoal, sem nenhum compromisso com a realidade, e se fizer essa expressão gráfica aplicando tons e cores, com criatividade, chega-se a um resultado razoável, que passou a existir a partir do momento em que foi criado, sem nenhum correspondente no mundo visível. Tem algum valor? Tem, porque é uma criação, é um registro de um momento. Se dermos um soco em alguém, esse ato é uma expressão. Expressão de violência. O desenho em questão é uma expressão gráfica que poderá também transmitir um conteúdo independente de ser ou ter uma forma conhecida.
O importante é tirar do iniciante o trauma de que é preciso ser um exímio desenhista para chegar a ser um pintor e assim chega-se a uma comprovação importante de que não é preciso saber desenhar com muita habilidade para se expressar graficamente. Uma criança que ainda não começou a falar brinca com lápis de cor, se expressando graficamente.
Esse é o inicio, mas, para transformar esse exercício ainda bruto em arte, ou seja, lapidar a pedra bruta até transformá-la em uma jóia, aí tem que ter vontade, garra, impulso criativo, criatividade. A arte é um sacerdócio, tem que se dedicar a ela de corpo e alma quase que tempo integral.
O impulso criativo deverá se desenvolver de acordo com os valores do autor e nunca para satisfazer um público. Ninguém vive de acordo com o gosto dos outros. Ninguém se veste, se alimenta, pensa e age de acordo com o gosto e vontade dos outros. A arte segue o mesmo padrão porque ela é uma extensão do autor.
O verdadeiro artista não faz arte para os outros, faz arte para si, como uma necessidade de extravasar seus impulsos em uma nova linguagem, e quem tiver afinidade com os valores desse autor, ira captar sua mensagem, sua comunicação e gostar de sua arte.
O grande equivoca do iniciante em arte, alem de querer fazer arte para agradar os outros e angariar elogios gratuitos, é querer definições, quer lógica, quer explicações, e vivem questionando: “o que é isto”? O que é aquilo? O que significa? Do que é feito, e por aí segue um festival de indagações.
Uma série de riscos e rabiscos, formas indefinidas, para o autor, pode ser somente uma expressão de violência, mas para o iniciante essa violência tem que ter uma forma visível, identificável, tem que ter um significado semelhante a algo do mundo visível. Ele não aceita que seja somente uma expressão abstrata, sem narração figurativa.
Para se entender todos esses meandros, labirintos, sutilezas e mecanismos da pintura, é preciso estudar muito, interagir com a arte, formar uma biblioteca, ler e ler muito, freqüentar eventos de arte, participar e conhecer o meio artístico. Não é freqüentando um curso de poucos anos, em qualquer lugar do mundo, que se formam artistas. O desenvolvimento na pintura é muito lento e requer paciência. Na minha longa jornada pela pintura, não me lembro em toda minha vida de ter visto um verdadeiro pintor, “pronto”, “feito”, “maduro” ainda jovem.
A pintura é, entre as artes, a que mais favorece a existência e proliferação de charlatões, aventureiros e mistificadores, senão vejamos, a musica passou por séculos de desenvolvimento e continua com seu objeto próprio de comunicação que é o som, embora tenha sofrido algumas modificações, mas continuou sendo o som, e por mais estranho que possa parecer, um som emitido por instrumentos fabricados há séculos. Ainda mais que a musica tem um juiz feroz, severo, implacável, que é o ouvido humano, que não perdoa e não tolera tolices. Às vezes tentam, mas não encontram aplauso, nem espaço permanente na mídia. E assim com todas as outras artes, como dança literatura, poesia, teatro,etc. que se atualizaram, acompanhou seu tempo, mas não agregaram lixo ao seu objeto próprio, e assim todas essas outras artes, através dos séculos e até hoje continuam cumprindo seu papel, comunicando suas mensagens e hipnotizando publico. Porque então somente a pintura, ou, as artes plásticas (ou artes visuais, ou arte contemporânea, como queiram) sofreu uma mutação, ou melhor, uma mutilação perdendo totalmente seu caráter e objetivo?
Na minha modesta contribuição, cito o tendão de Aquiles que tornou as artes plásticas tão vulneráveis e sem rumo como está hoje, que reside na questão da criatividade ser mais importante que a habilidade na era moderna. Quando o artista passou a ter uma liberdade irrestrita, cada um pretendeu ser mais diferente que o outro cada pintor queria inventar alguma coisa que nunca tivesse sido feita. Assim tudo que era feito de novo, não tinha parâmetro de avaliação, então esse novo passava a ser referencia, e tanto obra como autor, por serem precursores, tinham seus minutos de gloria, onde, alguns desses precursores permanecem agonizando até hoje.
Citamos o exemplo de Kasimir Malêvitch, que em busca da abstração geométrica pura, conforme declarou em 19l3, tentando desesperadamente libertar a arte do peso do universo da representação, refugiou-se na forma do quadrado. E isto simbolizava para Maliêvitch, a supremacia de um mundo maior do que o mundo das às aparências. Daí ele pintou um quadrado preto que (para ele) simbolizava toda essa oratória e inventou o Suprematismo, citado nos livros até hoje. Para nós é simplesmente um quadrado preto e duvido que qualquer intelectual do mundo ou mágico, ou parapsicólogo, identifique esse conteúdo nesse quadrado preto.
Citamos também Lucio Fontana, que em 1963, pinta uma tela toda amarela, 1m. x1m., e corta-a com um ou mais talhos rápidos e certeiros como navalhadas, e segundo críticos e “entendidos”, é um gesto que corta a tela e restabelece a continuidade entre os espaços aquém e alem do plano, onde a visão transpassa a obra em outra dimensão alem da obra, como se tivesse destruído a simulação espacial da própria pintura.. Isto para os críticos de plantão, para nós é simplesmente uma tela rasgada.
Assim são muitos os casos de precursores que aproveitaram a liberdade total e irrestrita adotada como porta de entrada de um verdadeiro “vale tudo”, lembramos Pollock que deixou gotejar tinta sobre um suporte ou de Kooning que gesticulou com um pincel diante de uma tela. Entre tantos, estes são alguns dos contestadores do passado e segundo o crítico Affonso Romano de Sant “Ana, a melhor homenagem que se pode fazer aos contestadores do passado, é contestá-los hoje;
O iniciante não precisa ficar assustado porque não precisa fazer nada disso para se integrar na arte contemporânea. Para ser contemporâneo não precisa ser diferente, ser mágico ou malabarista, esdrúxulo, chocar o publico, e fazer bobagens. Existe um tipo de arte para cada cabeça. Como exemplo, cito minha própria produção de arte contemporânea e toda ela cabe no segundo ano do curso de pintura, como também os dois artistas notáveis que a escola Pan-americana elege para avaliar os alunos formandos em arte contemporânea, são nada mais nada menos que Cláudio Tozzi e Rubens Guerchman, dois artistas contemporâneos, que fazem pintura de cavalete com base em conceitos da pop-arte dos anos 60.
Porem é importante que o aluno tome conhecimento de todo esse panorama das artes plásticas e da liberdade de transito em todas suas vias e ramais
É bom que o iniciante tenha consciência de alçar vôos de acordo com sua plumagem, e não entrar nesse vale tudo que não vai dar em nada.

Então resumindo, criatividade é desenvolver alguma coisa nova, que nunca foi feita, assim, portanto, não há referencias ou parâmetros para julgá-la, no caso de dúvida, “pró-réu”, porque sempre essas obras do acaso e oportunismo vêm acompanhadas de manifesto, e um vasto texto explicativo, onde o texto passa a ser mais importante que obra e esta não existe sem ele. Nessa corrida alucinada pela criatividade, com espaço na mídia, com o apoio da classe dominante, e traduzindo a situação atual da Humanidade, o artista plástico desembestou por todas as áreas possíveis e imagináveis, ou melhor, inimagináveis, transformando essa atividade nobre em um verdadeiro repositório de imbecilidades, incompetência, oportunismo e outros que tais.
Esquece-se que criatividade não significa libertinagem e que a falta de habilidade que dissemos não ser necessária para a pintura, não deverá servir de muleta tapando o Sol com uma peneira.
Temos o exemplo claro e fantástico de Juan Miró, que sabidamente pelos livros que registram sua biografia, tinha um desenho “acanhado”, muito fraco para os padrões de pintores realistas ou clássicos. Ou seja, não tinha a habilidade, habilidade do desenho. Porem foi genial sua capacidade criativa. Com um desenho simples, infantil, criou uma linguagem tão poderosa, alegre, lúdica, com um conteúdo e uma mensagem que nos remete a nossa infância. Sua pintura é tão simples porem forte e poderosa que não é possível se fazer uma releitura de Miró, a não ser que se copie Miró.
Esse é o exemplo de ser criativo, sem ser idiota. (cabotino, charlatão, incompetente, mistificador, gozador, cínico, tudo isto e mais alguma coisa, menos artista plástico.).
Ingres speltri
27-12-2006

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A carga didática de um curso de pintura.


A carga didática de um curso de pintura é organizada de acordo com a direção da escola, havendo pequenas variações, porem, na essência, em todas as partes do mundo, podemos afirmar que todos os cursos, como todos os professores, tratam das mesmas questões, às vezes com organizações diferentes.
Basicamente são desenvolvidos exercícios para o iniciante desenvolver a habilidade com os elementos da pintura, e como uma escola dispõe de oito meses de aula, desenvolve-se uma proposta por mês onde se aborda questões técnicas relacionada a ela.
Inicialmente, tomam-se três tipos de composição que alavanca questões paralelas praticadas simultaneamente em cada tipo de composição.
É bom que se saiba antes de tudo o que é composição. Compor é organizar ou reunir elementos. A composição musical é uma organização de sons. A escultura é uma organização de formas tridimensionais. Poesia é uma organização de palavras e assim por diante. A dança é uma organização de gestos e movimento corporal. A pintura é uma organização de formas, tons, e cores, e cada aluno vai aprender organizar esses elementos de acordo com sua própria tendência.
Os elementos adotados para exercício na formação de um pintor, é padrão em escolas do mundo todo e praticamente todos os pintores da era moderna os adotaram em suas formações. São exercícios iniciais, preparatórios, necessários para a formação, sem nenhum compromisso com o resultado porque, no inicio do aprendizado o que importa é o processo e não o resultado, não se trata de pintura propriamente dita, e que depois poderão ser abandonados para que se adote a linguagem pessoal e definitiva.
Manabu Mabe, por exemplo, pintor abstrato, que no inicio de sua carreira, quando era agricultor em Marilia-SP, pintava naturezas mortas, nus, flores, paisagens, que depois de ter adquirido conhecimento técnico e teórico, adotou a abstração como linguagem pessoal.


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É difícil mudar valores estabelecidos durante uma vida inteira na mente do aluno, que pretende fazer tudo “bonito”, bem feito e dentro dos padrões da realidade visual. Depende do aluno em não criar um bloqueio e uma rejeição, que, em se tratando de pessoas inteligentes e de boa vontade, entendem , assumem uma humildade, praticam a orientação do professor e aos poucos vão sentindo o resultado. Porem volta a insistir que o bloqueio maior inicial é a questão da importância que o aluno dá para a beleza associada à arte e ele demora em entender o mecanismo desse conceito
Uma figura de retórica para esclarecer a falta de importância da beleza na pintura em detrimento da linguagem, conteúdo e comunicação, é o exemplo de uma pessoa que tenha uma letra horrível, feia e mal feita, porem quando emite um cheque, o banco paga ao sacador a importância determinada no cheque. Não é uma letra feia ou bonita que invalida a mensagem do cheque que manda o banco pagar ao portador aquela importância. Também uma pintura poderá ser bonita, agradável de ver e até conviver com ela, se ela tiver um conteúdo, mensagem, comunicação também agradáveis, mas, o artista contemporâneo descobriu que o caos e a desordem também geram padrões.
Como se pode ver, não são somente temas agradáveis que servem de modelo para a pintura. A destruição de Guernica pelos nazistas foi um grande tema. O grito de E. Munch, os retirantes de Portinari, a melancolia americana de E.Hopper, a Ilha dos Mortos de Arnold Böcklin, o expressionismo agressivo de Egon Schiele, enfim, uma infinidade de pintores que não foram buscar temas bucólicos e prazerosos, e que não tem nada de belo, mas têm uma poderosa mensagem que os torna bonitos de outra maneira, diferente da tradição, família e religião.


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Em um curso regular de uma escola, cada ano é uma preparação para o ano seguinte e que o aluno esteja preparado para enfrentar novos problemas e questões mais difíceis, e é no último ano que o aluno vai se transformar em um artista plástico, porem ainda com problemas de identidade artística como em qualquer outra formação acadêmica. Por exemplo, quando um advogado termina a faculdade ele é apenas bacharel em direito, depois disso ele vai escolher sua identidade na advocacia. Poderá ser advogado criminalista, cível, tributário, etc. – Quando um medico termina a faculdade é que ele vai fazer residência em hospitais para adquirir pratica e habilidade, se especializar em um ramo da medicina. Na pintura é a mesma coisa, no período de estudos é mostrado um vasto painel que envolve as principais questões da pintura e pratica-os. No final, o aluno se identifica com alguma modalidade de linguagem, com alguma forma de pintura, e a adota. Porem existe um compromisso do professor de mostrar ao aluno o que se faz hoje em arte, independente de qualidade, e gosto, para amadurecê-lo nas questões da pintura. Ainda mais que, nesse panorama exibido ao aluno, não há a intenção de fazê-lo gostar de nada, mas sim entender.
Para formar as bases de um pintor e iniciar os exercícios didáticos que abrangem conceito e técnica, geralmente as escolas adotam três tipos de composição: natureza morta, paisagem e nu, agregando a esses exercícios explicações de como montar a palheta, escolher o tipo de pincel, mistura de tintas, tipos de pinceladas, escolha do suporte, enfim, à medida que as aulas vão se desenvolvendo vão surgindo situações de duvidas, correções de rumo, e posturas mais adequadas.
Ingres speltri - 28-12-2006




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a parte pratica de um curso de pintura

Questão da técnica - Quantas técnicas o aluno vai aprender
Esse é um outro tabu difícil de ser quebrado e mudar a mentalidade do aluno que não sabe distinguir o que é arte, o que é artesanato, o que é arte decorativa. Para o iniciante em pintura, todas essas modalidades representam uma coisa só.
Vamos dar um exemplo de porta de botequim para ver se encontramos uma figura de retórica para explicar esse fato. Imagine ao preencher um cheque para pagar uma compra e estar preocupado se vai escrever com letras góticas, barroca, letra de forma, letra corrida e os números se vão ser grafados em algarismos romano ou arábico. Estas questões são subjetivas, o que importa é que o cheque seja legível, com uma letra usual do emitente, seja autentico e tenha fundos.A pintura segue o mesmo processo. Quem vai aprender ou se dedicar a pintura tem que estar preocupado com as questões conceituais, com linguagem, comunicação, expressão, estilo e conteúdo, onde a técnica entra como um mero instrumento para formalizar todas essas questões A técnica só tem importância em harmonia, ou em complemento que ira realçar valor a todo fundamento do autor. Ela sozinha não vale nada.Todos os pintores que existiram, que existe e que virão, adotam uma única técnica para expressar sua arte, não tiveram necessidade de outras técnicas. Pode ser que em um raro momento de curiosidade e exceção fizeram uma pequena incursão sem importância em alguma outra técnica. Até a era moderna os pintores usaram invariavelmente a tinta a óleo e a pintura em parede (afrescos), era usada a tempera solúvel em água. Na fase impressionista, quase todos os pintores só usaram a técnica da tinta a óleo (Degas e Lautrec trabalharam outras técnicas). Já na fase contemporânea, os principais movimentos que revolucionaram a pintura, foram trabalhados por seus precursores com a técnica da tinta a óleo ( Matisse, Picasso, Kandinsky,etc.etc.etc.)
O artista quando encontra sua linguagem, procura a técnica que melhor se adapta a ela e a adota apenas como um “veiculo”. A partir daí vai, descobrir, pesquisar e praticar sua técnica ideal, sendo que vai em busca de uma só.
Por uma total ignorância desses fatos, o aluno no inicio de um curso de pintura pergunta quantas técnicas vai aprender e se decepciona quando o professor diz que será apenas uma. É alimentada a interpretação errada de que se conhecer muitas técnicas o aluno fará um bom trabalho. Pergunto: - de pintura ou de artesanato? No caso da pintura, essa intenção seria como colocar o carro na frente dos bois. Primeiro é preciso aprender os fundamentos da pintura, primeiro deve-se aprender a pintar para depois ver qual a técnica que se ajusta em sua linguagem. Existem sim cursos onde se prendem técnicas de pintura para serem aplicadas em artesanato, caixas de jóias, moveis barrocos, efeitos em paredes. Aprende-se “sfumatto”, pátina, craquelê, douração, decaupê, bauermalerey, texturas diversas, envelhecimento, frottage, mascara (stencil), encáustica, sangüínea, mosaico, monotipia, variações de verniz (de breu, de clara de ovo, goma Damar, gelatina, de cola, etc.), porem, não é o conhecimento de técnicas que fará do individuo um pintor. E se souber todas essas técnicas, o que fazer com elas?
Alguns pintores, por falta de criatividade ou conveniência comercial, usam seus dotes de decoradores e empregam essas técnicas em uma tela, fazendo peças de verdadeiro artesanato e chamam de quadros abstratos, poluindo e denegrindo ainda mais o ambiente artístico. Nada contra, porem vamos catalogar corretamente, não mudem o nome dos bois” para agregar valor.
Um candidato às artes visuais tem que se decidir ser quer ser um artesão ou um artista plástico. São duas atividades nobres, mas, distintas.
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primeira proposta – “Natureza Morta”

Iniciam-se os estudos adotando a primeira forma de composição, chamada de “natureza morta”, constituída por garrafas, vasos, copos, prato e outros elementos desse tipo, de forma naturalmente simples.
Toda composição, na pintura, se divide em três fases, que são: composição formal, que se refere ao desenho, forma. Composição tonal, que se refere aos tons claros e escuros. E finalmente a composição cromática que, logicamente se refere às cores.
Em cada uma dessas fases da composição, cada aluno poderá e deverá dar a sua interpretação. Por exemplo, na questão da forma, determinado aluno poderá agrupar todos os elementos da composição, garrafas, bule, copos, etc. todos no centro do suporte, enquanto outro aluno poderá descentralizar os elementos e assim cada um cria a sua relação de volumes, que poderá mais tarde constituir parte de seu estilo.
Na composição tonal também o aluno terá total liberdade de tratar os claros e escuros a seu critério, como por exemplo, a luz incidindo da direita para a esquerda, de cima para baixo, de frente, dos lados, enfim, existe uma infinidade de maneiras de se tratar esse poderoso elemento que é a luz, e que também, a maneira que o aluno adotar em seus exercícios, será parte de seu estilo.
O cromatismo é a parte mais esperada pelo aluno, onde ele terá liberdade de escolher as cores que ira aplicar em seu trabalho.
Nesta primeira fase da natureza-morta, o aluno irá usar apenas os tons terra, os marrons e cores análogas, incluindo o banco e o preto e lógico o vermelho e amarelo que fazem parte dessa família de cores. Isto para facilitar o trabalho do aluno e chegar a um bom resultado, porque os tons terra (marrons), são tons neutros e já naturalmente rebaixam a luz, facilitando as combinações e harmonia das cores, considerando que o aluno vai ter que administrar uma serie de problemas difíceis no campo da forma, do tom e se liberar a cor, o aluno vai agir como uma criança em uma confeitaria e comer tudo que pudesse, tendo depois um tremendo mal estar e péssimo resultado. Com certeza o iniciante iria se empolgar com os azuis, verde esmeralda, verde, cobalto, carmim, fazendo uma meleca de cores igual à porta de tinturaria. É difícil combinar e harmonizar cores, por isso vai deixar esse problema para ser resolvido no momento adequado quando tratarmos da “Interpretação da Cor”, onde trataremos dos aspectos estruturais e expressivos da cor.
Segurando o aluno, fazendo com que ele de um passo de cada vez, em terreno firme, de maneira que ele entenda e domine, o resultado surgira dando um enorme prazer de realização. Porem a recíproca é terrível. O aluno não segue as instruções, faz o que quer dentro de uma rebeldia infantil, e fatalmente chega a um péssimo resultado e a repetição desse comportamento leva o aluno ao desanimo, a conclusões erradas de que não tem talento e finalmente a desistência. O aluno que segue a orientação do professor, seguramente, comprovadamente chega, no mínimo, a um resultado razoável, isto porque transparece no exercício o entendimento, mesmo que rudimentar, dos conceitos praticados, e isto já é gratificante.
Simultaneamente a essas questões de forma, tom e cor, o aluno vai aprendendo primeiro a uma nova postura diante do cavalete, onde agora, diferente da prancheta ou mesa, tem o suporte a sua frente, paralelo a seu corpo, vai segurar uma palheta, um pincel e misturar as tintas. No inicio o aluno se assusta da mesma maneira quando começou aprender a dirigir, tendo que fazer tanta coisa ao mesmo tempo. Depois do primeiro momento, as coisas vão acontecendo automaticamente e com prazer.
O pincel adotado é um pincel de cerda (pêlo) dura, para agüentar o processo de desinibição do aluno que deverá atacar o suporte com garra e determinação. A maneira de segurar o pincel , não tem regra, deverá ser a mais confortável , talvez semelhante a maneira de segurar o lápis ou caneta.
A aplicação da tinta poderá ser da palheta para o suporte e ir misturando as cores no próprio suporte à medida que forem tratados os modelos, ou misturar a tinta na palheta para depois aplica-la no modelo. As duas maneiras são corretas, mas no inicio, considerando a total falta de pratica do aluno, a mais adequada é misturar as cores diretamente no modelo. Geralmente, quando o aluno vai misturar as cores na palheta, pela falta de pratica, ele perde a noção de volume e acaba formando um monte de tinta que daria pra pintar a porta da cozinha de sua casa. É bom que o aluno vá entendendo a evolução das cores no próprio suporte, ou então que adote os dois sistemas simultaneamente.
Abordamos agora a questão da pincelada, que é um verdadeiro tabu para o iniciante. Não existe regra para pincelada. Não existe padrão de pincelada. Cada um vai se ajustar da sua melhor maneira, ou seja, vai criar seu maneirismo intuitivo em sua pincelada. Não precisa se preocupar em encontrá-la, a pincelada encontra seu autor. Dificilmente um pintor tem sua pincelada igual a outro.
O efeito da pincelada depende da quantidade de tinta agregada ao pincel, depende da pressão que se exerce no pincel, depende do tipo de pincel, depende do movimento que se imprime, enfim, a pincelada é a soma de uma série de elementos que vão sendo adotados de maneira inconsciente.
Para entender melhor a questão da pincelada, damos como exemplo a caligrafia de cada um. Quando começamos a ser alfabetizados, em nossa infância, jamais estávamos preocupados com a beleza ou o tipo de caligrafia que teríamos. Estávamos preocupados em grafar de maneira correta os símbolos alfabéticos, o que já era muito. Nessa época já era um avanço quando criança juntava umas letras e formávamos uma palavra. Pois bem, ao cabo de algum tempo de pratica estávamos escrevendo com um tipo de caligrafia que surgiu sem que tivéssemos pensado nela. Com a pincela ocorre o mesmo fenômeno. O aluno esta se “alfabetizando” nas questões da pintura e com o tempo irá sendo feita correções de rumo e acertos de construção.
Uma coisa o aluno tem que saber e estar preparado em aceitar com otimismo, que no inicio não ira conseguir bons resultados, que é preciso ter paciência, muita humildade, sem prepotência, megalomanias, sem ansiedade, pressa, e principalmente aqueles que estão em casa esperando o resultado, maridos, esposas, filhos, netos, vizinhos, sogra, etc., que se acalme, se aquietem, e não interfiram no trabalho de iniciação que é árduo e demorado. Pode-se afirmar, com certeza absoluta, quem seguir a orientação, chegara ao fim do ano já como pintor, apto a entender e enfrentar sozinho os problemas da pintura e jamais olhara e pensara em pintura como fazia no inicio do ano. Vão terminar o ano como pintores, com certeza, porem, artistas plásticos serão formados no ano seguinte.









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Segunda proposta - mudança de técnica – alteração do resultado

A questão seguinte a ser abordada é praticamente uma continuação dessa primeira proposta, apenas mostrar ao aluno que se mudar qualquer elemento, quer seja técnico ou conceitual, mudará radicalmente a composição. Aqui no caso, vamos sugerir mudança nos materiais adotados para sentir a mudança de resultados, às vezes até gratificantes para a tendência do aluno.
Vamos sugerir a mudança de tinta. Iniciamos com tinta a óleo, porque a tinta a óleo tem uma cultura secular e uma característica muito peculiar que é a secagem. Diferente das tintas a base de água, que geralmente são chamadas de temperas, a tinta a óleo seca por oxidação e as temperas secam por evaporação e a conseqüência é que um trabalho feito com tinta a óleo, como demora em secar (às vezes semanas ou meses) a pintor pode retocar, corrigir, trabalhar o quadro com tempo disponível. Porem as tempera ou tinta acrílica, como seca por evaporação, o pintor da uma pincelada, quando volta para dar à segunda, a tinta já secou e não se mistura , ficando sobreposição de camadas de cor. Para corrigir essa técnica é preciso muita pratica muita técnica ou usa-la como aliada no trabalho.
Pois bem, somente na mudança do tipo de tinta, pintando o mesmo tema, o aluno notara uma diferença radical no resultado. Não existe melhor ou pior, existe apenas o mais adequado para cada tipo de trabalho.
Outro teste que é proposto ao aluno, também para notar diferenças de resultado, é a adoção da espátula ao invés do pincel. Alem de tudo a espátula é um instrumento formidável porque não admite detalhes e força o aluno a não ficar “ bordando” o quadro em detalhes superficiais e ir quebrando paradigmas ma cabeça do iniciante. Outra diferença entre espátula e pincel é que com a espátula se “modela” a forma como se tivesse esculpindo, bem diferente do pincel.













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Terceira proposta - conteúdo


A próxima fase do curso de pintura aborda o principal elemento de qualquer obra de arte, que se refere ao conteúdo. Uma pintura sem conteúdo passa a ser uma pintura sem expressão, sem comunicação, apenas tecnicamente bem feita, considerada quase um artesanato.
É bom lembrar que a arte acadêmica, feitas nas escolas (academias) de Paris do século XIX, ficou como sinônimo de pintura pobre, sem valor, como uma arte menor, pelo fato de serem feitas dentro dos rigores técnicos das academias, mas sem os valores expressivos necessários a uma obra de arte, apenas corretamente bem feitas, E é isto que um leigo não sabe distinguir, entre valor técnico e valor do conteúdo.
Pois bem, vamos praticar o conteúdo, mostrando também que o tema é um mero pretexto de composição e o conteúdo poderá ser conduzido pelo pintor em qualquer tema ou modelo, dependendo da maneira como for trabalhado o tema, os tons e as cores poderão se conseguir resultados dramáticos ou alegres pintando uma simples garrafa.
Se pintarmos uma garrafa em uma chave baixa de cores, com tons graves, pesados, com cinzas, roxo, marrom escuros, preto, chegará a um resultado que nos leva a sensação de tristeza, dor, melancolia, etc. Mas, se pintarmos essa mesma garrafa com tons em chave alta, claros, corres alegres, o resultado transmitira essa sensação.
Daí a importância do aluno saber que ele tem o poder de criar e conduzir emoções através de seus quadros seja qual for o tema.
A técnica será livre, mas o tema obedecerá aos modelos simples da natureza morta para forçar o aluno a ir buscar resultados na cor e no tom, praticando sua criatividade.
Ingres speltri - 28-11-2006

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Quarta proposta - paisagem

Pode parecer estranho em um curso de arte contemporânea o estudo da paisagem, ainda mais sendo apregoada a preparação para o ano seguinte, que são aspectos da contemporaneidade. Pois bem, ninguém vai aprender a pintar paisagem, apenas porque a paisagem é o melhor tema para se estudar um fenômeno que acontece com as cores que só ela tem condições de mostrar, chamado perspectiva atmosférica.
Os livros e tratados teóricos sobre pintura pouco ou quase nada falam desse fenômeno e pouquíssimos artistas o conhecem teoricamente, porem, todos o praticam por intuição.
A perspectiva atmosférica consiste no seguinte: na distancia as cores perdem a intensidade e a forma perde a definição. Na pratica isto quer dizer o seguinte, se estiver em uma estrada, à vegetação que está próxima de nós tem um verde exuberante, nítido, porem à medida que a paisagem vai se distanciando de nossa vista essa mesma vegetação vai ficando de um verde menos intenso, vão perdendo o brilho e esse enfraquecimento da cor vai aumentando a medida que vai chegando ao horizonte que por vezes é de um verde azulado, quase confundindo com o céu. Isto não acontece somente com a vegetação de uma paisagem campestre, paisagem urbana também passa por esse fenômeno, pois na distancia as casas ou prédios vão ficando acinzentados, quase invisíveis. Esta modulação de cor acontece em virtude de haver entre o ponto de observação (olho humano) e o objeto da paisagem, uma camada de ar com todos os ingredientes que o compõe, quer sejam partículas de vapor (neblina), gazes, poluição etc. Pois bem, dependendo da distancia de observação, essa espécie de lente com todos esses ingredientes, como que embaçam a cor, tirando-lhe o vigor e quanto maior a distancia menor é a identificação das cores, como também das formas.
Usando a paisagem como pretexto de exercitar a perspectiva atmosférica, dará ao aluno o conhecimento desta modulação que irá facilitar obter efeitos de profundidade usando o recurso cromático. Principalmente em quadros abstratos, onde não há narração figurativa, tampouco perspectiva linear, consegue-se a ilusão de profundidade aplicando o efeito da perspectiva atmosférica, colocando uma cor bem definida acompanhada de planos da mesma cor que vai se enfraquecendo, até perder a definição.
Outro exercício que a paisagem possibilita praticar é o enquadramento visual. O ângulo de visão é muito amplo e um pintor não pinta tudo que se enquadra em seu ângulo de visão. Faz-se uma seleção do motivo que se pretende registrar e centraliza o foco nesse objetivo. Exemplo, quando se olha uma paisagem é possível no mesmo ângulo de visão ver arvores, rio, estrada, casa, mais arvores, campos, etc.- Pois bem, dentro desse panorama, escolhe-se o que melhor se adaptada na interpretação e gosto pessoal. Se a escolha for a casa, concentra-se o foco visual dentro de um enquadramento proporcional ao suporte e destreza o resto to tema.
Outra pratica importante que a paisagem proporciona é o agrupamento de elementos em um volume de cor, considerando que a paisagem é o melhor tema para se praticar a eliminação de detalhes. Por exemplo, quando se pinta uma arvore, não se pinta folha por folha. Em apenas algumas pinceladas construímos uma arvore e ainda respeitando sua identidade. Isto representa uma simplificação da forma onde foram eliminados os detalhes, mas o objeto não perdeu a identidade.
Assim, sem se transformar em paisagistas, o tema deu condições para se praticar a perspectiva atmosférica, corte/enquadramento e visão seletiva, importantes na formação de um pintor.
Vinhedo - 31-12-2006 - ingres speltri

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Quinta proposta - nu (modelo vivo)


O nu é adotado no estudo das artes plásticas desde que se tem conhecimento de sua existência. Desde os homens das cavernas que se verifica o registro desse tema.
Não só pelo fascínio que o teme exerce, como talvez pelo ponto de vista psicológico como uma intenção de preservação da espécie, mas, filosofia a parte, tecnicamente o corpo humano é o tema mais completo que existe. Através do modelo vivo podemos praticar tudo que um pintor precisa para sua arte, inclusive duas condições mais importantes que são: proporção e expressão. A pintura não se completa sem esses elementos.
Se na natureza-morta a garrafa for maior ou menor, ou o bule não tiver tampa coisas desse tipo não alteram o resultado da composição.
Se na paisagem a arvore tem três galhos e for feito cinco, a casa tem uma janela , faz-se três, o tronco da arvore é fininho , faz-se grosso, coisas desse tipo não alteram o resultado da composição.
Porem se for desenhado um nu com duas cabeças, quatro pernas, três braços, um cabeção ou perninhas atrofiadas, isto altera o resultado da composição e não é aceitável.
Assim o nu oferece condições de praticar a intuição da proporção entre cabeça, tronco e membros, sem detalhes de olho, boca, dedos etc., apenas uma visão simplificada do corpo humano em diversas posições, mantendo a proporção e buscando a expressão corporal.
Neste estudo pratica-se apenas a intuição da proporção, diferente de métodos acadêmicos que promovem um ritual cansativo no estudo do nu, começando por estudar e decorar todos os ossos do corpo humano, desenhando todos eles (tíbia, perônio, fêmur, radial, cúbito, falanges, occipital, temporal, externo, costelas,etc.) Depois desse estudo longo e monótono, estuda-se e decora todos os músculos do corpo humano, também desenhando tos eles ( bíceps, deltóide, cleido-extermo-mastoideo, costureiro, malar, peitoral, glúteos, gêmeos, abdominais, risórios de santorini, etc. ). Depois disso tudo, pratica-se o desenho do esqueleto humano. Somente após esse treinamento, que seria uma carga didática de mais de ano, é que o aluno iria desenhar com o modelo posando em sua frente.
O objetivo não é formar desenhistas de corpo humano por isso não se adota esse método, mas pura e tão somente praticar e intuir a proporção em exercícios rápidos para desenvolver o raciocínio.
Iniciam-se os exercícios do corpo humano com desenhos rápidos usando qualquer tipo de ponta, a conveniência do aluno, onde sugerimos carvão ou grafite mole. Na seqüência será aplicada luz/sombra para pratica da composição tonal, usando para isso focos de luz previamente estudados .
Por fim, aplicaremos as cores análogas dos marrons, pelo mesmo motivo da natureza morta. Considerando que o aluno terá que resolver uma serie de problemas, vamos eliminar pelo menos um que é a combinação equilíbrio de cor, como já foram explicados, os tons terra rebaixam a luz naturalmente e são fáceis de ajustarem, conseguindo um bom resultado sem muito esforço.
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Sexta proposta – interpretação da cor



O primeiro movimento de arte contemporânea propriamente dita, surgido no inicio do séc. XX e que integrou de maneira decisiva o estudo do desenvolvimento da pintura, foi um momento onde um grupo de pintores, liderados por Henry Matisse começaram a pesquisar os aspectos estruturais e expressivos da cor. Passaram a interpretar o mundo visível de uma nova maneira, usando a cor para estruturar as formas e atingir efeitos expressivos. Uma maçã é vermelha, pintavam-na de azul. Não por irreverência ou rebeldia, apenas para conseguir nova estrutura plástica na pintura, rompendo padrões e paradigmas seculares.
Dentro desse propósito, o uso e abuso de cores primarias, quase que invariavelmente puras, onde o azul cobalto, amarelo cromo, vermelhos, carmins, verde esmeralda, contrastando com brancos e pretos, ao invés de ser uma bofetada na retina,”gritavam” uma alegria e simplicidade nunca antes experimentadas. Não tinham nenhum compromisso com a realidade visual, apenas com a pintura.
Uma passagem explica bem o conteúdo ideológico desse grupo, que era a estrutura da cor. Matisse, pintando sua esposo com um vestidinho preto, um chapeuzinho coco, estava sendo retratada com verdes, amarelos, azuis, com formas exuberantes. Uma pessoa vendo esse quadro disse: - “Mestre, nunca vi uma mulher dessa cor!”. Ao que Matisse respondeu: - “Isto não é uma mulher, é uma pintura!.”
Se o iniciante em arte entender o fundamento desse dialogo, terá dado um grande passo no entendimento nas questões da pintura contemporânea.
A liberdade da técnica a ser adotada permitirá uma execução mais adequada e o resultado de uma composição vibrante, alegre, agressiva, por isso que esses pintores ( H.Matisse, Vlamink, Derain, Kandinsky em seu inicio, Duffy, entre outros) eram chamados de selvagens, pela agressividade da cor (selvagem-: fauve).

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Ingres speltri – 31-12-2006


















Sétima proposta - O ver e o saber




Esta proposta é a mais importante do curso de pintura. É aqui que o pintor coloca toda sua carga criativa e faz de seu trabalho uma extensão de seu ego. Pintar o que se sabe daquilo que se vê, deixa o autor completamente a vontade para fazer o quer, como quer e do jeito que quiser, sem fazer da pintura uma anarquia porque deverá respeitar a composição formal, tonal, cromática, estética, equilíbrio entre os elementos, expressão, linguagem, comunicação, estilo pessoal e conteúdo Universal. Faça o que quiser como quiser e do jeito que sabe, colocando todos esses elementos na composição. Teremos, com certeza, uma obra de arte.
O iniciante vai notar um fato interessante, ou seja, quanto mais à vontade ele vai ficando para pintar, vai ficando cada vez mais difícil o desenvolvimento da criatividade.
Durante os primeiros momentos era apenas uma questão de transferência de representação, porem a partir de um determinado momento, depende única e exclusivamente da criatividade de cada um.
Pintar o que se sabe daquilo que se vê ou se imagina, é uma pratica adotada pelos pintores contemporâneos que se afastam do realismo, sem nenhum compromisso com a forma estabelecida pelo mundo visível, criando uma interpretação pessoal, em que o tema não tem mais nenhuma importância, onde é apenas lembrado por fragmentos ou resquícios para compor o equilíbrio da composição formal.-
A liberdade da interpretação do objeto tem um limite, onde ele (objeto) tem que aparecer em partes que o identifiquem. Isto quer dizer que o objeto tem que aparecer dentro de uma nova visão, diferente de sua realidade, porem sem perder a identidade.
Existem diversas maneiras de se praticar essa nova visão do tema, porem, antes é preciso lembrar que este conceito só se presta para o objetivo de privilegiar a forma, o volume, a matéria, o tridimensional, abandonando neste inicio de exercício o uso de cores ou qualquer tipo de expressão, porque esta forma de pintar esta direcionada para a forma, massa , matéria se assemelhando quase como um projeto arquitetônico.
Este é apenas o inicio, ou o ponto de partida para se entender e começar a desenvolver uma nova modalidade de arte, sem procurar associar com outras formas de conceitos ou estilos de pintura que apenas viriam conturbar a mente do iniciante que não teria discernimento ou base de conhecimento para distinguir as diferenças que existe entre as maneiras de ver e as técnicas que foram adotadas através do desenvolvimento da pintura. O iniciante não deve insistir em associar esta pratica com algum estilo de pintura existente como veremos adiante.
Começando a “ver” o objeto de maneira diferente do convencional, já estaríamos rompendo com uma tradição e uma comodidade a qual nos acomodamos em nossa vida social, mas a pintura permite outras formas de comportamento.
Vamos abordar algumas formas do “ver” diferente. Por exemplo, quando olhamos um relógio, estamos vendo apenas o mostrador de um relógio, ou seja , não estamos vendo todo o relógio que consiste da pulseira, do verso do relógio, e principalmente da parte interna composta por uma grande quantidade de peças que compõe sua maquina. Portanto porque não pintar um relógio de dentro para fora, pintando suas peças, sua máquina, seus componentes. Esta atitude contraria a ordem estabelecida pelos valores sociais que carregamos desde que nascemos e que compõe a educação que recebemos..É aí que a pintura contemporânea entra, quebrando os paradigmas e valores sociais enraizado em nossa mente, colocando o mundo visível de maneira irreverente, criativa, criando uma nova concepção de forma, estabelecendo uma nova visão livre, principalmente livre das convenções formais e sem nenhum compromisso com a realidade, deixando o pintor ( criador ) a vontade para fazer o que quiser, como quiser, do jeito que sabe, criando uma interpretação de acordo com seus valores.
Parece que agindo assim a arte seria uma coisa incoerente, inverossímil ou absurda. Nada disso porque o artista esta a vontade porem seguindo uma composição formal, tonal, cromática, equilíbrio, estética, estilo, técnica, comunicação e conteúdo Universal. Faça o que quiser, como quiser e do jeito que quiser , colocando tudo isso no trabalho.
Pois bem, esta é uma das maneiras de ter uma nova visão de um tema, ou seja, olhando-o por dentro. Existem outras maneiras de ver, como por exemplo, a visão simultânea, em que não se olha para a forma externa do objeto, mas sim se faz um painel de componentes desse objeto que leva a imaginação e identifica-lo. Seria o caso de apanharmos um celular e fazer o que sabemos de um celular. Sabemos que o celular tem teclas com números, letras, símbolos, principalmente símbolos que o identificam.
Outra forma de ver o tema seria desarticular os elementos da composição provocando um tipo de ilusão de ótica. Por exemplo, garrafa, bule, copo e fruta. Se desenharmos tudo isso simultaneamente, um elemento em cima do outro de maneira repetitiva, com criatividade, vamos criar uma desarticulação desses elementos, porem sem perder a identificação de que nessa aparente confusão existe bule, garrafa,copo e fruta.
Vejamos que este é o primeiro passo para romper com uma tradição visual. Demos três maneiras e poderão existir outras tantas, e tudo isto nada tem a ver com estilos de pinturas e muito menos nada tem a ver com cubismo.
Por mais estranho que possa parecer, isto não tem nada a ver com cubismo, mas o cubismo esta contido também nesse conceito. Para usar uma figura de retórica, diríamos que uma maçã nada tem a ver com um bolo mas o bolo pode ser de maça.
Se fossemos associar a nova maneira de ver com cubismo, teríamos que explicar o cubismo, que após sua criação, foi desenvolvido em diversas fases, conceitos e interpretações que para desenvolvê-lo e exercita-lo teria que haver um curso especialmente para esse fim.
Porem vai lembrar algumas fases do cubismo para que o iniciante tenha certeza de que não de associá-lo com a pratica inicial porque ele (cubismo) se desdobra em diversas modalidades.
Vamos começar a entender o nome “cubismo” que foi dado despretensiosamente por um crítico e veio a confundir os iniciantes em artes. A partir desse título, o iniciante pensa que é uma pintura feita com cubinhos, e à medida que toma conhecimento da pintura cubista, fica sem entender nada. Acontece que o nome está relacionado à maneira geometrizada com que é apresentado o tema, predominando uma estilização em figuras geométricas.
O primeiro momento cubista, entre tantos outros que se seguiram, consistiu na apresentação de um quadro “Mulheres D! Avignon” , por volta de 1907, cuja composição rompeu toda tradição secular da pintura, principalmente em sua espinha dorsal que sempre foi a perspectiva e luz e sombra e o tema não tinha mais importância mas sim o todo da composição sem nenhum compromisso com a realidade. O quadro era quase uma “anotação” do tema. Era uma analise das formas em sua essência em harmonia de um conjunto com positivo. Essa primeira fase ficou conhecida como “cubismo analítico”.
Depois dessa fase que foi muito rápida, surgiu uma nova fase onde houve outro rompimento com a tradição pictórica, quando Georges Braque colou em seus quadros cartas de baralho, pedaços de jornal, papel de parede, etc. Esta atitude foi uma verdadeira revolução para a época, onde um quadro era feito com elementos estranhos a pintura. Esta forma de fazer pintura abriu uma tremenda possibilidade de novos rumos como à fase seguinte.
A fase seguinte do cubismo foi onde o quadro deixou de ser quadro para ser “objeto”.
A partir do momento que começaram a introduzir elementos na pintura, tomaram a forma de bidimensional, onde acrescentavam madeira, pedaços de cadeira, , latas, enfim , qualquer objeto que pudessem integrar a composição. A partir daí não se sabia mais se eram quadros ou esculturas, sendo chamados de objeto.
A fase seguinte do cubismo, muito embora não fossem fases que se seguiram em ordem cronológica, foi o momento onde o tema era estilizado a ponto de chegar a sua essência geométrica restando pouquíssimos resquícios da identidade do objeto, chegando quase a abstração. Era a síntese do objeto que era retratada. Essa fase passou a ser conhecida como “cubismo sintético”.
Outra fase importantíssima que surgiu com o cubismo foi a deformação, pouco entendida por alguns praticantes desavisados. É bom deixar claro que mesmo na deformação tem que haver proporção e que a deformação geralmente é usada para reforçar aspectos expressivos da composição, onde damos como exemplo em “Guernica” onde a deformação é usada para reforçar o caráter expressivo de horror, sofrimentos e dores da guerra. (a deformação na pintura, também usada no “expressionismo” – “Retirantes” de Portinari, onde as deformações dos pés enormes, esquálidos, quase esqueletos humanos, reforçam a crítica social da fome e miséria nordestina.).
Muito bem, quando surgiram todas estas formas de pintura revolucionando séculos de conceitos, artistas do mundo todos foram a Paris, que era o centro cultural , ver e aprender as novas formas. Do Brasil foram Portinari, Di Cavalcanti, Tarsila entre tantos e tantos outros, e esses pintores do mundo todo voltavam para suas origens reinterpretando essa nova forma de pintar e às vezes totalmente dissociados do conceito original, continuavam chamando o que faziam de cubismo, muitas vezes transformavam em uma pintura singular, decorativa, popular e comercial.
Pois bem, como se vê, o momento inicial desta crônica, tentando levar o iniciante a uma nova visão do objeto, nada tem a ver com cubismo que é muito mais complexo e variável de acordo com seu autor.
28-11-2006 - ingres speltri






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Oitava proposta - abstração


Até aqui, todas as propostas tiveram por base a figura. Interpretada, deformada, simplificada, destruída, mas a narração ilustrativa, a descrição figurativa estava presente.
Em 1910, Vassyli Kandinsky demonstrou sua teoria de que na pintura não havia a necessidade de se usar a figura para expressar uma mensagem ou uma emoção. A cor, somente a cor , independente de qualquer outro elemento tinha esse poder. Assim, dentro dessa teoria, mostrou no inicio uma aquarelas e mais tarde estudos da transição da figura para sua síntese abstrata.
Qualquer figura, de qualquer natureza, tem sua síntese nas figuras geométricas, na seqüência, essas figuras geométricas configuram uma abstração racional.
Cézanne, considerado o pai da arte moderna, já apregoava com muita sabedoria, no final do séc. XIX:- “olhem a natureza como se fossem volumes geométricos”. Pela lógica, alem de Cézanne de ser o mentor do cubismo, deveria também ser o precursor da síntese abstrata das figuras.
Inicia-se o estudo da abstração tomando-se por base uma figura. Ou se constrói uma figura, uma composição ou toma-se qualquer referencia. A partir da figura ou referencia da figura estabelece as linhas principais da composição e as figuras geométricas que vão surgindo em uma trama, em uma perfeita organização porque é a mesma estrutura da figura sem os detalhes de configuração e identificação.
A abstração organizada através de estudo, planejamento, composta geralmente por figuras geométricas é chamado de abstração racional, conhecida também como abstração concreta.
Outra forma de abstração a ser estudada é a gestual, onde o autor é movido por impulsos emocionais, como um vulcão em erupção e só no final pode-se ter idéia do resultado. Existe sim uma intenção inicial, mas os improvisos se sucedem.
Seria como um boxeador ao subir no ringue, ele vai disposto a liquidar seu adversário. Vai com garra, determinação, com toda certeza de que vai vencer e nocautear o adversário, porem todos os golpes que desfere foram exaustivamente treinados e ensaiados por muitos anos de trabalho e experiência. Não são golpes a esmo, desordenados e aleatórios.
O abstrato gestual também segue esse padrão de comportamento. Adquire-se experiência na pintura, intimidade com os materiais, habilidade em todas as questões da pintura, somente depois dessa fase é que se tem condições de praticar o improviso na pintura, se é que se pretende fazer alguma coisa consciente e com bases sólidas.
É preciso tomar muito cuidado com a pintura abstrata porque ela costuma ser a salvação não só de muitos professores “descuidados”, como também de pintores mal intencionados. Isto porque, qualquer coisa que se faça ou não faça em uma tela, é considerada uma pintura abstrata. Se pegar uma tela e pinta-la de uma só cor, poderá ser chamada de minimal-art.- Se dividir a tela em duas partes ou quatro partes, poderá ser chamado de abstrato geométrico. Se gesticular com um pincel em uma tela com cores aleatórias, principalmente se transparecer gestos violento , poderá ser chamado de expressionismo abstrato. Como também, se adotar o gosto de decoração que cada um tem, e começar a aplicar cores com tinta acrílica (que é a salvação dos abstracionistas) combinando azuis, vermelhos, brancos, um pouco de preto para dar contraste, se não ficar bom, o acrílico seca rápido, começa tudo de novo, e vai tentando, tentando até dar certo algum tipo de efeito de cor; e se não der, começa a esfregar tinta branca deixando a sombra das cores no fundo que aí não tem erro, está pronta mais uma “obra de arte” para integrar o acervo de zilhões que existem por aí, feita por mais um aventureiro de plantão.
É exatamente isso que não deve acontecer. O artista tem que ter auto critica e respeitar seus limites. Todos nós e até os gênios tinham limites. Monet, Van Gog, Matisse, Picasso, enfim, todos, absolutamente todos nós temos limites e devemos respeitá-los como os gênios respeitaram. Recomendo que os iniciantes percebam como os grandes pintores ficaram trabalhando em suas linguagens e não saiam atirando em todos os alvos, nem por curiosidade. Incompetência? Imaginem! Primeiro porque eles não tinham que provar nada a ninguém, segundo porque eles tinham um compromisso ético com suas bases e raízes.
É fácil sair por aí repetindo maneirismos de estilos e técnica de outros pintores e formulas consagrada pelo público e pela critica.
Cada um deverá fazer o que está em sua alçada, em sua competência, dentro de suas bases, para não cair no engodo de uma arte chula, pobre e simplesmente decorativa, ou para parecer “moderninho”, avançado e integrado na contemporaneidade.
Quando o aluno pretende voar alto sem estar emplumado, costumo chama-lo de filhote de tuiuiú. Explico. Tuiuiú é uma ave grande, branca, quase símbolo do pantanal do Mato Grosso. Grupos de aves fazem ninhos nas arvores secas nos alagados onde os jacarés ficam em suas bases. Quando os filhotes mais afoitos, ansiosos, inquietos querem voar, mas ainda não estão emplumados, caem na água e... os jacarés os devoram.
Ao aluno recomendo calma, juízo, sem apoteose mental, humildade, para que não venha a ser um filhote de tuiuiú pretensioso. –

Fim





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31-12-2006 - l9,46h - ingres speltri

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