quinta-feira, 11 de março de 2010

semana de arte de 1922

SEMANA DE ARTE DE 1922 – TARSILA DO AMARAL – MODERNISMO BRASILEIRO

Esses três temas se fundem e se confundem pela própria essência, intimamente ligados,dificultando a clareza e o discernimento sobre eles. Os próprios críticos e historiadores fazem uma cortina de fumaça embaçando esses três assuntos, dando uma conotação irreal ou mesmo surreal, mascarando fatos e fantasiando acontecimentos banais que não mereceriam tal apologia..
Vamos analisar separadamente esses três temas sem o calor da emoção dos jovens críticos de última hora recém saídos dos bancos das faculdades e que para “mostrar serviço” vão buscar esses velhos temas que, alem de batidos muitas vezes são falsos , mas que, repetidos incessantemente através dos anos acabam parecendo verdades.
Vamos abordar primeiro a semana de arte de 1922 por pretender ser o marco da arte moderna no Brasil.
É absolutamente falso alegar que a semana de 1922 foi o marco inicial da arte moderna brasileira, pois para entender esse falso conceito temos que sair do âmbito nacional e considerar os fatos do mundo daquela época.-
Pois bem, Matisse em 1904, mais um grupo de pintores mostram o primeiro movimento da verdadeira fase contemporânea da pintura, quando passaram a usar cores primarias, cujos pintores fora chamados pejorativamente de “fauves”, ou seja, selvagens.O termo pegou e o movimento ficou conhecido como fauvista.
Em 1907 Picasso mostra ao mundo a verdadeira revolução na pintura onde o pintor pinta o que sabe e não o que vê.- Não há mais compromisso com a realidade. Perspectiva e luz/sombra não tem mais importância na composição (não confundir luz/sombra com claro/escuro).- Nesse novo conceito o saber é mais importante que o
ver ,Instituído por Braque e Picaso ficou conhecido como Cubismo.-
Em 1910 Wassily Kandinsky (1866-1944) eliminou a narração figurativa mostrando que somente as cores seriam suficientes para transmitir a mensagem do autor com todo seu conteúdo , e assim instituiu o abstracionismo.
Esses são os verdadeiros fatos que marcaram o inicio da arte contemporânea no mundo.- A partir desses acontecimentos artistas de todo mundo, inclusive do Brasil, foram para Paris, que era o centro cultural do mundo, tomar conhecimento e aprender esses novos conhecimentos de arte.
Portanto é muita pretensão alegar que a Semana de Arte de 1922 é o marco do modernismo brasileiro visto que Portinari, Cícero Dias, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral entre outros, bem antes de 1922 já estavam em Paris copiando e estudando as novas modalidades de pintura.
Assim a famigerada Semana de 1922 não passou de um movimento banal, um oba-oba festivo da elite paulistana.- Vazio, e inócuo sem nenhuma contribuição para o desenvolvimento da arte brasileira.
Segundo depoimento do pintor Cícero Dias, que não participou do da “semana”, quem teve a idéia da realização do evento foi Marinette, Mulher de Paulo Prado, quem tinha visto um festival com arte e musica na França, na cidade de Deauville e comentou o fato em uma reunião social. Oswald de Andrade pegou essa idéia e pretendeu fazer uma espécie de festival das artes em uma semana de eventos.
Foi de 13 a 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal em São Paulo.
A idéia seria verificar o que os artistas brasileiros tinham “comido” dos novos conceitos recém acontecidos em Paris, o que tinham digerido e devolvido em forma de uma nova arte.
Esta foi a idéia inicial de Oswald de Andrade, denominada de antropofagia, ou seja homem que come homem, e por analogia, arte comendo arte.-
Seria uma espécie de levantamento para ver o que os artistas brasileiros “comeram” dos artistas estrangeiros e o que desenvolveram em forma de uma nova arte. Como Oswald de Andrade era culto e um grande intuitivo de marketing, logo “sacou” a idéia da antropofagia na arte e tomou esse conceito como espinha dorsal do marco da arte moderna no Brasil. Ele não perdeu nenhum detalhe para acrescentar valor ao evento, e como na época estava na moda lançar manifestos, ele lançou também nessa semana o manifesto da semana de arte de 1922 e com frases de efeito como : - “Tupi or not Tupi”.
Assim o evento deveria ter um caráter moderno, mostrando as influencias e assimilação dos novos conceitos que já mostravam ramificações em diversos países, mas, no Brasil não tinha ainda nenhum pintor se iniciando no modernismo (pintor brasileiro, porque Lazar Segall já estava no Brasil) e alguns poucos, representativos, já estavam em Paris.- Mesmo assim foram convidados representantes de todas as artes e não foi por coincidência que quase todos pertenciam a elite paulistana, que aqui citaremos alguns deles.
Guilherme de Almeida, descendente de família tradicional paulistana, alcunhado de “O Príncipe dos Poetas”, e que seu livro de poesias, o mais conhecido, “ O Messidor”, nunca teve nenhuma aura de modernidade.- Sua poesia era elaborada dentro dos padrões de versos parnasianos e alexandrinos, não contribuíam em nada com o modernismo.- Muito embora tenha sido um grande poeta, mas nunca moderno.
Por ironia do destino, Guilherme de Almeida ficou conhecido como tradutor do poema “If” (Se) de Rudyard Kippling.- Que alias merece aplausos pela tradução
Menotti Del Picchia, , dono de Cartório, fazia poesia por diletantismo e como tinha um status socioeconômico, gravitava na esfera da intelectualidade e assim foi fácil integrar ao grupo dos pseudo modernistas.. Seu trabalho mais conhecido, talvez o único, “Juca Mulato”, uma espécie de versão caipira de Romeu e Julieta, onde um caboclo se apaixona pela filha do patrão-fazendeiro e assim chora suas magoas junto ao seu cavalo Pigarço, em uma linguagem corriqueira e caipira, onde não existe nenhum lampejo de modernidade. (“Pigarço esta dor me aquebranta ...” e vai por ai afora.-
Assim a representação poética que possa ser considerada dentro do contesto moderno ficou a cargo de Mario de Andrade, com obras como “Paulicéia Desvairada, escrita em 1922, e “Macunaíma” escrita em 1926 , publicada em 1928, considerada dentro do modernismo brasileiro mas não como obra da semana de 1922 como muita gente pensa.-
Heitor Villa Lobos representante da modernidade na musica erudita brasileira, onde se inspirou em temas do folclore brasileiro fazendo uma releitura segundo a polifonia de J.S.Bach.-
Não fazem citações dos arquitetos que já assimilavam novos padrões de arte concreta e construções influenciadas até por Mondrian. Pouco ou quase nada se menciona sobre Lasar Segall, que integrou o grupo paulista recém chegado da Europa, trazendo em sua bagagem sua participação ativa no movimento expressionista alemão.
Pois bem, a partir desse foco, nota-se uma desinformação dos críticos e historiadores , ou , no mínimo má fé ao associar exaustivamente a semana de 1922 tão somente com Tarsila do Amaral como também colocar tanta pompa e circunstancia transformando-a em uma verdadeira apoteose da pintura brasileira, o que não é verdade. Tarsila não participou da semana de 1922 e esse evento não passou de um oba-oba festivo da elite paulistana.-
Segundo declaração de Paulo Herkenhoff na Folha de São Paulo, pág. E-1, de 20-11-2002 - : “ A semana se tornou um mito onde não há critica, não estou vaiando o evento, mas sou um historiador de Arte e não posso elogiar a Semana que não apresentou nenhuma obra moderna produzida naquele ano.-“

Pretender eleger a semana em marco do modernismo brasileiro seria forçar um marketing para um mau produto, como também pretender associar erroneamente a semana de 22 com Tarsila se ela nem estava no Brasil nessa época.- Porque Tarsila? Quem foi Tarsila?

3 comentários:

  1. A Arte é uma inspiração à liberdade. O que nós, poetas, músicos, pintores, escultores, e arquitetos desejamos é criar o nosso ritmo pessoal, é transmitir a nossa harmonia interior. Cada um de nós é um instrumento por onde passa a corrente da vida.Não queremos regras nem admitimos preconceitos”.
    ( Ronald Carvalho)

    Um abraço com carinho.
    Lucilene Faria _ Panamericana

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