sábado, 20 de fevereiro de 2010

O QUE SE DEVE SABER SOBRE UM CURSO DE PINTURA

considerações gerais

A pintura é a mãe de todas as artes gráficas. A pintura é a primeira . A que melhor ensina a compor, organizar formas, tons e cores.
Pouca gente faz idéia de que o curso de pintura é o mais difícil de todas as artes. Muitos pensam que é uma atividade de lazer, passa tempo, como se fosse pintar moranguinhos em pano de prato ou patinhos na lagoa. Como se a pintura fosse um produto de consumo visual para deleite e decoração da casa.-
O curso de pintura é um curso “pesado”, que exige muita dedicação, responsabilidade e trabalho, porque é uma atividade que não tem regras, não tem receita, como se fosse fazer um bolo. - A pintura não é uma ciência com leis e objeto próprio, porque aí teríamos condições, como em toda a ciência, de quantificar, aferir parâmetros de resultado, pesar, medir, etc.
A pintura se aproxima da filosofia, onde temos apenas conceitos, pensamentos, criatividade, interpretações, e outros tantos axiomas, onde não se prova nada, não se mede nada, onde o instrumento de aferição é a capacidade intelectual, cultural de cada um.
É importante que o candidato ao curso de pintura conheça o conteúdo didático, a carga de trabalho, e os objetivos do curso, para não se enganar quanto as reais intenções e responsabilidades do curso, da escola e do professor. Para tanto, é bom afirmar, para surpresa de muitos, de que o curso de pintura é um curso profissionalizante, por isso a escola tem a responsabilidade de preparar os alunos em nível dos profissionais que estão atuando na área. O aluno tem que sair da escola com um diploma que os habilite a encarar de igual para igual não só os artistas profissionais como os eventos de arte, exposições, bienais, etc. Assim, como uma atividade profissional, ela não pode ser adotada com exemplos do passado, de 200, 300, 400 anos atrás. A arte tem que ser encarada, exercida e praticada nos moldes atuais. Damos como exemplo um médico clinicar dentro dos padrões de séculos passados, ou mesmo viver, hoje, sem um computador ou um celular. Assim toda a atividade tem que estar compatível com a atualidade, e a pintura segue e registra essa atualidade. Ou o individuo é de seu tempo ou não é de temo nenhum.-
Por isso, voltamos a afirmar que um curso de pintura é o mais difícil de todas as artes, principalmente porque ele já vem “mascarado” ou rotulado com uma aura mística, boemia, com uma falsa intelectualidade, como um modelo exportado por Paris no século XIX, e aceito por todo mundo, ainda mais consagrado por poetas, escritores, filmes, etc.
Por isto tudo e mais alguma coisa, é bom o candidato saber alguma coisa sobre a pintura, essa atividade fantástica que valoriza o individuo e enriquece a Humanidade.

A pintura, como todas as artes é constituída de valor atribuído. O valor artístico não é aferido, não é medido, não se coloca em uma balança para ver quanto tem de arte um concerto, um poema, uma literatura, uma escultura, uma dança, um quadro.
Um quadro de Pollock, recentemente bateu recorde de preço, sendo um tipo de pintura abstrata, que não precisa ter muita habilidade para executar, sendo uma pintura de ação e do acaso, onde o gotejamento de tinta sobre um suporte define o resultado. O que definiu isso? Uma balança ? Um metro? Não! Foram atribuídos os valores, e teve alguém que acreditou nesses valores e pagou.
Podemos aferir sim, a condição técnica de um quadro. A qualidade técnica da composição, a qualidade técnica dos claros e escuros, o grau de criatividade na organização dos elementos, e habilidade com os materiais, o estilo do autor, o domínio e ritmo das pinceladas, isto tudo, podemos sim aferir, tudo isto também não garante a qualidade da obra. O quadro poderá ter todas essas condições e não ser uma “obra de arte”, ser apenas um trabalho tecnicamente correto e sem conteúdo, sem mensagem, sem linguagem.
Podemos aferir a condição técnica e a qualidade do material de um produto. Por exemplo, uma camisa, pode avaliar o tecido, a confecção, e principalmente a grife. Com base nesses elementos podemos ter uma idéia do valor, mas nenhum deles ou todos eles juntos não pode garantir que a camisa seja confortável e bonita.
E uma obra de arte? Um quadro? Um quadro de um pintor desconhecido pode valer “x”, e um quadro do mesmo tamanho de um pintor consagrado vale milhões de “x”.- Porque esta diferença se é os dois são do mesmo tamanho, os dois tem qualidades? Isto porque estão se avaliando atribuições. Ao pintor consagrado foram atribuídos valores que não foram reconhecidos ou atribuídos ao pintor desconhecido. E o mais fantástico na arte é que ela da plena total e irrestrita liberdade para todos questionarem essas atribuições. Picasso, por exemplo, ainda hoje, para muitos é o gênio do século XX , e para outros é um charlatão oportunista. Quem está certo? Todos. Como dissemos no inicio, a avaliação de uma obra de arte depende da condição intelectual do expectador, ainda mais, terá que saber que por valor atribuído entende-se: valor histórico da obra, valor histórico do pintor, contribuição do pintor ou da obra para o desenvolvimento da arte, renovação de conceitos, técnica, estilo, tema, etc. e ainda mais, e talvez o mais importante, a empatia entre obra e expectador.
Voltamos a insistir, já que estas palavras são dirigidas aos iniciantes, de que a pintura é uma atividade que depende de muita pratica, muito exercício, onde o professor esclarece os conceitos e o aluno tem que pratica-los até ter habilidade para transformá-los em linguagem pessoal, sem necessariamente ser bonito, bem feito, mas sim com criatividade, espontaneidade e conteúdo Universal.
Aí surge a ansiedade do aprendiz que “entende”, mas não consegue fazer. Isto porque entre o entendimento e a execução desse entendimento existe uma distancia chamada: pratica, exercício, trabalho, habilidade e experiência. A habilidade se desenvolve de acordo com o tempo que se dedica ao trabalho. Quanto mais tempo se dedica mais habilidade se adquire.
Imagina-se os dois pratos da balança, onde em um deles está a capacidade intelectual do iniciante, que esta lá no alto, e o outro prato da balança onde esta a habilidade, que está lá em baixo. O iniciante sabe, entende, mas não consegue fazer. Isto porque precisa da habilidade, da intimidade com os conceitos, com os instrumentos e materiais da pintura. Portanto , voltamos a dizer que a pratica se adquire dependendo do tempo que se dedica a ela.
É importante que o iniciante tome conhecimento dessa fisiologia, para que não venha com apoteose mental, achando que vai ouvir uma explicação e vai ao cavalete executar uma linda obra de arte. Nada disso vai acontecer. No inicio vão acontecer exercício incorretos, falhos, fracos, característicos de quem está começando a pintar, sem pratica, sem habilidade, mas que são necessários para devidas correções de rumo para a formação de um pintor. -
Crescemos e nos desenvolvemos dentro de conceitos que são generalizados para toda atividade humana, porem nem sempre são pertinentes, e ninguém contesta, porque eles fazem parte de nosso dia-a dia na família, religião, sociedade e trabalho. Porem, com respeito à arte, determinados conceitos são errados e ninguém faz uma reflexão a respeito. Por exemplo, todo mundo aprende e cresce ouvindo que arte significa beleza. Para ser arte tem que ser bonito e bem feito. Isto só pode ser verdade para aqueles que têm uma formação cultural suspeita, sem nenhuma instrução no campo das artes e não sabe o que é linguagem artística, expressão, comunicação, conceito, estilo e conteúdo Universal. Pode sim, ter tudo isto e ser bonito, mas, arte não tem nada a ver com beleza, onde já se demonstrou que o caos e a desordem também geram padrões.
Uma mulher, por exemplo, pode ter um grande conteúdo, ser inteligente, culta e também ser bonita. Mesmo com todos os atributos, poderia ser feia de acordo com os padrões formais de beleza. O que no final prevalece de importante e perene é o conteúdo e não a forma. Beleza, pura e simplesmente, é fútil. Vamos imaginar uma loura exuberante, que entra em uma festa, bem produzida, bem decotada, linda, porem, quando abre a boca, é uma lástima, uma grande decepção, fútil, vazia, sem conteúdo, sem carisma, e toda aquela beleza formal se evapora, desaparece.
Principalmente na pintura, e aqui não estamos falando de decoração, a beleza não tem nenhuma importância. Então o que importa na pintura? O que é a pintura? É tudo o que já dissemos logo acima, e é bom repetir, é linguagem, comunicação, conteúdo, mensagem, expressão, pode ser até ilustração, história, técnica, estilo pessoal e conteúdo Universal. E por acaso, com tudo isto, ela ainda poderá ser bonita, e enfeitar a parede da sala.
Convém explicar o caráter ilustrativo da pintura, que para muitos ainda hoje é desconhecido. Durante séculos, a pintura era o único meio de documentar e registrar fatos e coisas. Por exemplo, como era o rei ou rainha, como foi tal batalha, como eram as alegorias mitológicas, eram chamados os pintores para registrar, documentar e ilustrar. Por isso, muitos e muitos quadros, quando são vistos, não se lembram que tiveram o caráter ilustrativo. Porem, para essa modalidade de pintura, tinha (ou tem) que ter habilidade, ou seja, um bom desenho e um bom domínio técnico. Portanto não confundir a pintura ilustrativa com o real fundamento da pintura, a que se propõe em ser uma linguagem do autor sem nenhum compromisso com o mundo visível.
Outro conceito errado que passou a ser adotado, é considerar a pintura como complemento da decoração. Quadros para enfeitar parede. Isto é humilhante para a pintura, qualquer calendário, pôster, ou coisa do tipo pode desempenhar essa função. Contou-se a historia de civilizações antigas através da pintura e trabalhos gráficos, para ser reduzida a complemento de decoração e ainda descartável. A pintura é muito mais profunda, muito mais nobre, muito mais significativa, mais consistente do que um elemento decorativo ou um brinquedo de lazer e passatempo de brincar de pintar quadrinhos. E o que contribui para isso são esses cursinhos de fundo de quintal, aonde chegam às senhoras com um modelo ou gravura na mão dizendo: - “Professor, eu quero pintar este quadro”. Inicia-se aí uma espécie de monitoração onde a pseudo-aluna vira uma espécie de robô, obedecendo às ordens do professor. Ao final de algum tempo, seja lá quanto for o quadro é terminado, e com certeza com grande parte executada pelo professor, que monitorou a aluna para chegar a um resultado semelhante ao modelo. Isto não é aula de pintura! Isto é “aula de atelier”, que é muito diferente de um curso regular de pintura, geralmente dado em escolas.
Curso regular é um curso com uma programação didática compatível com o padrão Universal de arte.
É bom que o iniciante entenda bem estes dois tipos bem diferentes de aulas de pintura , sendo um dado como aula particular em ateliês de artistas capacitados ou não, e o outro tipo de aula são cursos regulares dados em escolas que geralmente já tem seu aval de qualidade da comunidade.
Em aulas de atelier é aonde as “senhoras” vão geralmente passar o tempo aprendendo a pintar rosas com gotas de orvalho, pintar os nenúfares de Monet e os cansativos crepúsculos avermelhados e outros temas de baixo nível de qualidade. Porem passa o tempo, se divertem, sem compromisso, sem ter que pensar ou ter talento. Ah! Ia me esquecendo, ainda dá status dizer que está fazendo aulas de pintura. Para esse tipo de objetivo e esse tipo de mentalidade, esses cursinhos cumprem o objetivo.
Porem, para quem quer realmente uma coisa séria, competente, com idoneidade, procura uma escola que tem um nome a zelar, com cursos igualmente de nível internacional, pois como dissemos no inicio, são cursos profissionalizantes e os formandos de uma escola de grande envergadura e reconhecimento público, se impõem diante do contexto nacional e internacional. Portanto, para quem quer um curso sério, não vai brincar de pintar quadrinhos, nem passar o tempo e está seriamente engajada no propósito de receber uma orientação segura, com certeza vão terminar o ano já como autêntico pintores, prontos e aptos a enfrentar e entender as questões do ano seguinte (no caso, o terceiro ano), que aí sim se formarão artistas contemporâneos.
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Outra confusão que se estabelece entre os menos esclarecidos em pintura, é a que se faz entre “habilidade” e criatividade. É comum pessoas dizerem que gostariam de fazer um curso de pintura, mas desistem porque não conseguem desenhar nem uma casinha, ou seja, se não tiver habilidade do desenho, em captar o mundo visível e transporta-lo para um suporte (tela, papel ), com um desenho correto, se não fizer isto, não seria um pintor. Errado. Para pintar ou se expressar graficamente não precisa saber desenhar com habilidade. Pintar é se expressar graficamente, seja do jeito que for, ou o que cada um consegue desde que seja uma atitude criativa e espontânea. Os homens primitivos das cavernas não eram desenhistas exímios, no entanto deixaram um legado gráfico importantíssimo para a Humanidade.
A confusão que se estabelece é que até um determinado período histórico, o importante na pintura era a habilidade. Habilidade com o desenho e com os materiais, transportando o mundo visível para um suporte, com padrões de igualdade e beleza. Nesse período, se não tivesse habilidade, não seria pintor. Isto porque até uma determinada época, a pintura servia como ilustração para registrar e documentar fatos e coisas. Isto foi até mais ou menos 1900, ou seja, a passagem do século XIX para o século XX, um pouco antes, um pouco depois. Porque se estabelece esse período e como começou? Vamos tomar como ponto de partida, a referencia a Renascença, por volta de 1.450, e vem até l900, onde se estabelece um momento chamado de Ruptura na Tradição. Vamos comentar um pouco esse período, porque ele é importantíssimo para o entendimento da importância da habilidade nesse período.
Tomando como referencia, por volta de 1400, os católicos eram todos analfabetos, sem ofensa nenhuma porque somente os nobres e as classes mais privilegiadas tinham acesso à cultura e a alfabetização. Como é que a igreja ia ensinar sua liturgia para analfabetos. Não adiantava escrever o catecismo, apostilas e livros. A única maneira seria através da imagem, da mesma maneira como se alfabetizava crianças até bem pouco tempo (se não for até hoje). Portanto, naquela época, os papas , em um lance genial, recorreram aos pintores para produzir imagens para propagar a liturgia católica. Convocaram os grandes pintores da época para ilustrar a criação de Adão, o Céu, o Inferno, ascensão de Cristo, batismo, etc.etc.etc.. Então, através da pintura, foram propagados e divulgados os símbolos, signos, rituais e praticas da igreja católica. Propagar é fazer propaganda (é lógico, apenas como reforço de retórica), assim, o teto da Capela Sistina é o maior e mais importante instrumento de propaganda e marketing que se tem conhecimento. (sem considerar que os primeiros marketeiros que se tem conhecimento foram os apóstolos de Cristo que “venderam” um produto, o cristianismo, que esta sendo “comprado” até hoje.).
Vejam bem, lembrem o que dissemos no inicio deste trabalho, de que a pintura é a primeira, é a mãe de todas as atividades gráficas, considerando que a propaganda e marketing, que muitos pensam que é “invenção” recente dos americanos, e que hoje é um dos principais instrumentos do comercio, indústria e seus respectivos mercados, sem o que, os produtos não seriam conhecidos, disputados, propagados, comprados e consumidos, imaginem, tem sua origem na pintura!
Voltando ao nosso foco, se o objetivo da pintura dessa época era ilustrar, representar a liturgia católica, tinha que ser bem feita, bonita, impressionar os fieis, portanto tinha que ter a habilidade do desenho e da técnica. - Imaginemos Picasso pintando o teto da capela Sistina. Seria um grande painel, tão fantástico quanto ao de Michelangelo, mas não atingiria os propósitos da igreja. Vamos imaginar um fiel pedindo graças e misericórdia ajoelhado diante de um quadro de Kandinsky. Seria uma cena surrealista senão patética! Assim é fácil comparar para o iniciante a necessidade da habilidade na pintura ilustrativa, ou narrativa dessa época e seus objetivos. O pintor não pintava o que queria, pintava o que mandavam e do jeito que mandavam. Fatos e lendas narram episódios de momentos em que o pintor não fazia o que a igreja queria, mas deixemos essa parte para outro momento.
Vamos considerar que de 1.400 até 1.900, estabeleceu um “cacoete”, ou um falso conceito de que a pintura tinha que ser bela, bem feita, com semelhança ao mundo visível, ser realista, e daí vêm o complexo de que, quem não tem habilidade, não tem vocação para a pintura.
A grande mudança surgiu por volta de 1900, na passagem do séc. XIX para o séc.XX, quando houve uma ruptura na tradição.
Por volta do inicio do séc. XIX aconteceu à revolução industrial. Desencadeou um período de grandes produções de bens de consumo, como por exemplo, não era mais a dona de casa que produzia seu fio na roca e o tecia em seu tearzinho manual. Passou a ter grande fabricas de tecido, produzindo infinidades de peças, e para isso tinha que ter muitos teares, e para produzir as maquinas tinha que ter gente produzindo as peças das maquinas, e desta maneira desencadeou um processo em escala crescente em todos os setores de atividade, com sindicatos, órgãos de divulgação, bolsa de valores, etc.etc. O ciclo de evolução era tão grande que a cada momento descobria-se ou se inventava alguma coisa nova que começava a ser fabricada e consumida em beneficio da coletividade.
Imagina esse ciclo de desenvolvimento em todos os setores da atividade humana. O mundo mudou, e a mentalidade acompanhou a evolução.
A locomoção era feita por tração animal. Ford inventou o automóvel. A locomoção passou a ser feita por tração mecânica, quem iria andar a cavalo, de diligencia ou charrete depois do automóvel? A luz era de lamparina a óleo, depois veio à luz a gás em seguida luz elétrica. O fogão era a lenha, com as panelas cheias de fuligem. Surgiu o fogão a gás. Isto apenas para citar alguns exemplos de mudança de habito ou, ruptura na tradição.
Em todos os campos de atividade humana romperam-se os limites que até então vigoravam, como por exemplo, no campo religioso, até então a “alma” era do padre (ou igreja). Freud publica em 1900 o livro dos sonhos, que era um marco importante na psicanálise. A partir daí a “alma” passou a ser do psiquiatra.
Outro exemplo importante é que no inicio do séc. XX o átomo era considerado a menor partícula da matéria, indivisível. Em 1915, Einstein mostra ao mundo sua “Teoria da Relatividade”. O mundo mudou, surgiu a era atômica, energia nuclear.
Em 1920, Alexandre Fleming nos traz a penicilina, onde até então se morria por qualquer infecção. Assim foram se rompendo as tradições e o mundo foi adotando uma nova postura com uma nova mentalidade. Como hoje, estamos vivendo o mesmo ciclo apenas com um novo advento: a informática.
Pois bem, a esta altura alguém poderia perguntar o que isto tudo tem a ver com a pintura.
Se considerarmos a humanidade em três segmentos: ciência, religião e arte, onde a ciência inventa, descobre, produz. A religião, hoje substituída pela política, administra e a arte, registra. Portanto, a arte acompanha o desenvolvimento da humanidade e registra a sua contemporaneidade. Como já dissemos anteriormente a arte registrou civilizações extintas e contou historias de outras tantas como os celtas, etruscos, egípcios, maias, astecas, incas e até do homem das cavernas.
Nessa época, enquanto o mundo apresentava uma evolução e desenvolvimento acelerado, as artes apresentavam o mesmo comportamento e seus autores tinham liberdade para quebrar paradigmas e tradições. Na literatura, por exemplo, o que é um romance senão uma historia contada com começo, meio e fim, com a organização de frases, vírgulas, pontos, parágrafos e toda uma estrutura padronizada. Pois bem, surge James Joyce e promove toda uma revolução na construção de um romance quando publica “Ulisses”. Sem falar nas imagens absurdas e surrealistas de Kafka.
Outro exemplo, agora na musica. O que era a musica senão constituída basicamente por ritmo e melodia. Seria impossível conceber ou imaginar uma musica sem esses dois elementos essenciais pelo que julgava a tradição. Igor Stravinsky apresentou “Sagração da Primavera”, uma composição sem um ritmo dominante, sem uma melodia definida pelos acordes melódicos tradicionais, com dissonâncias, desencontros de linguagens, como se fossem diálogos de instrumentos, enfim, uma composição absurda para a época e que hoje é um clássico, precursora de uma nova era para a musica. Assim como muitos outros seguiram o caminho da liberdade criativa, rompendo e criando padrões de estética e de composição como Debussy, Bella Barthok.
Na pintura, de todos os movimentos que surgiram no inicio do século XX, entre eles citamos o construtivismo, surrealismo, expressionismo, futurismo, suprematismo, enfim, uma serie de movimentos e tendência que surgiram decorrentes da liberdade criativa adotada, quando se rompeu com a tradição e surgiu uma nova mentalidade. Como hoje, pois a historia se repete, também naquela época surgiu uma espécie de competição para ver quem conseguia criar alguma coisa diferente, nova que ninguém ainda tinha feito. Com isto, em todos os cantos do mundo houve uma espécie de psicose coletiva entre os artistas embriagados pela liberdade de criação. Muitos movimentos que surgiram nessa loucura desenfreada, viraram água em pouco tempo e hoje são apenas citados historicamente, mas, três movimentos se mostraram consistentes com conceitos que realmente influenciaram e contribuíram para o desenvolvimento da pintura, são eles o fauvismo (interpretação da cor), o cubismo (o saber é mais importante que o ver), e o abstracionismo (onde foi abolida a narração figurativa). Mais tarde, em outro capitulo voltaremos a falar desses movimentos.
Pois bem, um fato importante que contribuiu para a libertação do pintor do jugo das classes dominantes, foi à invenção da maquina fotográfica em meados do século XIX, que passou a ser um instrumento de geração e multiplicação de imagem. A partir daí não era mais chamado o pintor para registrar fatos e coisas, ou para pintar o rei. Chamavam o fotografo. Alem da maquina fotográfica surgia também o cinema como mais uma técnica, ainda mais com a imagem em movimento.
Assim, até um determinado momento, o pintor era o único meio de se criar imagem para qualquer tipo de finalidade que, de uma hora pra outra perdeu essa exclusividade, ficando liberado para pintar o que queria como queria e o que sabia, mesmo sem compromisso com o mundo visível. Poderia se pensar que a partir daí a pintura teria virado uma bagunça. Afinal de contas, foi mais ou menos isso, porque se de um lado abriu-se uma grande porta, por ela passaram entre artistas bem intencionados como também mistificadores e charlatões.
Com a total liberdade, a pintura passou a ter sua real função que é a expressão gráfica de seu autor, sem compromisso com a realidade, comunicando seus signos, seus símbolos, seus valores em uma linguagem pessoal. Os verdadeiros pintores passaram a fazer o que queriam, do jeito que queriam e como sabiam , respeitando composição formal, tonal, cromática, estética, equilíbrio, estilo, técnica, linguagem, conceito, comunicação e conteúdo Universal. Se fizer o que quiser e como quiser e colocar todos esses elementos, com certeza teremos uma ótima composição. E é o que o iniciante vai fazer.
Foi a partir desse rompimento com a tradição, os pintores iniciaram uma nova “maneira” de ver e interpretar os objetos, onde não prevalecia mais sua aparência externa, mas seu interior, seus componentes, sua composição, sua função e seu conceito. O tema passou a ser um mero pretexto compositivo, onde a mensagem e comunicação que o pintor pretende estabelecer serão conseguidas por uma soma de elementos que irão determinar o equilíbrio da composição e seu conteúdo.
Assim, o pintor deixou de fazer pintura ilustrativa e passou a contar uma historia através de seu quadro, igual a um escritor, poeta ou musico. É uma narração feita através da maneira como o autor trabalha os elementos e materiais do quadro, por exemplo, pinceladas nervosas (Van Gogh, de Kooning), pinceladas calmas (Morandi), cores tristes (E.Munch), cores alegres (fauve-Matisse, Derain), organização dos elementos (De Chirico), enfim, o autor tem a sua disposição uma infinidade de recursos para conduzir seu trabalho a sua conveniência, porem, para isso é preciso muita intimidade com a pintura, suas ferramentas e materiais, conseguida somente com muitos anos de dedicação, estudo, pratica e trabalho. Tempo, muito tempo de pratica e trabalho que darão à habilidade e segurança profissional.
Pouca gente sabe ver a narração de um quadro. Por vezes fica-se diante de um quadro sem saber “ver” o conjunto de elementos que determinam o valor da obra, sem saber quantificar os valores estabelecidos pela mensagem ou linguagem, pelo estilo, pelo conceito, pelo tema, e pela técnica, ou até pelo valor histórico da obra ou do pintor.
O autor faz uma narração gráfica de acordo com seus valores e competência, sem nenhum compromisso com a realidade ou com o mundo visível, porem, para entender esse momento histórico na pintura onde, enquanto o mundo mudava de acordo com novas descobertas e invenções, a mentalidade acompanhava esse ritimo de desenvolvimento, assim, tendo outros meios de produzir imagens e ilustrações, os pintores perderam as encomendas. Formou então uma casta a margem da sociedade, assumindo a liberdade que agora tinham direito. Daí por diante pintavam o que queriam como queriam e do jeito que sabiam. Daí surgiu a imagem exportada por Paris do pintor pobre, faminto, barbudos, chapelões, casaco de veludo, imortalizados ainda mais pelos escritores e filmes.
Começou então a surgir novas maneiras de se fazer pintura, de se pensar em arte, liberta do ranço acadêmico que vigorava, dentro de uma nova realidade interpretada e adequada a um novo tempo. Ou a arte é de seu tempo ou não é de tempo nenhum (Picasso).
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A arte acompanha todo ciclo da Humanidade e registra através de cada linguagem adequada de cada expressão artística.
Estamos hoje presenciando um exemplo de como a arte registra a contemporaneidade (2006). No mundo todo só se vê violência, corrupção, impunidade, prepotência, megalomanias, concentração de poder nas mãos de classes dominantes, valores morais e éticos rebaixados a níveis nunca vistos ou imaginados. Ninguém se entende. É o poder do capital em uma sociedade de consumo, globalizada, onde os valores são descartáveis, nivelados por baixo e em todas as partes do mundo veste-se jeans e come-se hambúrguer. - Conseqüência : esta Bienal de 2006 é a pior de toda historia das Bienais, sem nexo, sem rumo, sem coerência, sem uma comunicação com o público, onde anda-se pelos pavilhões sem que nada atraia o espectador para um dialogo.Somente manifestações esdrúxulas, patéticas, inverossímeis, anedóticas, cínicas, vazias e descartáveis . Esta Bienal é o retrato do mundo atual.

Voltando ao nosso discurso, a partir de séc. XX o pintor passou a criar uma linguagem pessoal, única, individual. Por exemplo, se fizermos um grafismo aleatório, com riscos e rabiscos e formas que não existem no mundo visível, será uma expressão gráfica que passou a existir a partir do momento em que ela foi feita. Não importa se é bonita ou feia, ou se representa alguma coisa ou não. Essa expressão gráfica foi criada a partir de um impulso, de acordo com o perfil psicológico do autor. Não deixa de ser uma expressão pessoal, sem nenhum compromisso com a realidade, e se fizer essa expressão gráfica aplicando tons e cores, com criatividade, chega-se a um resultado razoável, que passou a existir a partir do momento em que foi criado, sem nenhum correspondente no mundo visível. Tem algum valor? Tem, porque é uma criação, é um registro de um momento. Se dermos um soco em alguém, esse ato é uma expressão. Expressão de violência. O desenho em questão é uma expressão gráfica que poderá também transmitir um conteúdo independente de ser ou ter uma forma conhecida.
O importante é tirar do iniciante o trauma de que é preciso ser um exímio desenhista para chegar a ser um pintor e assim chega-se a uma comprovação importante de que não é preciso saber desenhar com muita habilidade para se expressar graficamente. Uma criança que ainda não começou a falar brinca com lápis de cor, se expressando graficamente.
Esse é o inicio, mas, para transformar esse exercício ainda bruto em arte, ou seja, lapidar a pedra bruta até transformá-la em uma jóia, aí tem que ter vontade, garra, impulso criativo, criatividade. A arte é um sacerdócio, tem que se dedicar a ela de corpo e alma quase que tempo integral.
O impulso criativo deverá se desenvolver de acordo com os valores do autor e nunca para satisfazer um público. Ninguém vive de acordo com o gosto dos outros. Ninguém se veste, se alimenta, pensa e age de acordo com o gosto e vontade dos outros. A arte segue o mesmo padrão porque ela é uma extensão do autor.
O verdadeiro artista não faz arte para os outros, faz arte para si, como uma necessidade de extravasar seus impulsos em uma nova linguagem, e quem tiver afinidade com os valores desse autor, ira captar sua mensagem, sua comunicação e gostar de sua arte.
O grande equivoco do iniciante em arte, alem de querer fazer arte para agradar os outros e angariar elogios gratuitos, é querer definições, quer lógica, quer explicações, e vivem questionando: “o que é isto”? O que é aquilo? O que significa? Do que é feito, e por aí segue um festival de indagações.
Uma série de riscos e rabiscos, formas indefinidas, para o autor, pode ser somente uma expressão de violência, mas para o iniciante essa violência tem que ter uma forma visível, identificável, tem que ter um significado semelhante a algo do mundo visível. Ele não aceita que seja somente uma expressão abstrata, sem narração figurativa.
Para se entender todos esses meandros, labirintos, sutilezas e mecanismos da pintura, é preciso estudar muito, interagir com a arte, formar uma biblioteca, ler e ler muito, freqüentar eventos de arte, participar e conhecer o meio artístico. Não é freqüentando um curso de poucos anos, em qualquer lugar do mundo, que se formam artistas. O desenvolvimento na pintura é muito lento e requer paciência. Na minha longa jornada pela pintura, não me lembro em toda minha vida de ter visto um verdadeiro pintor, “pronto”, “feito”, “maduro” ainda jovem.
A pintura é, entre as artes, a que mais favorece a existência e proliferação de charlatões, aventureiros e mistificadores, senão vejamos, a musica passou por séculos de desenvolvimento e continua com seu objeto próprio de comunicação que é o som, embora tenha sofrido algumas modificações, mas continuou sendo o som, e por mais estranho que possa parecer, um som emitido por instrumentos fabricados há séculos. Ainda mais que a musica tem um juiz feroz, severo, implacável, que é o ouvido humano, que não perdoa e não tolera tolices. Às vezes tentam, mas não encontram aplauso, nem espaço permanente na mídia. E assim com todas as outras artes, como dança literatura, poesia, teatro,etc. que se atualizaram, acompanharam seu tempo, mas não agregaram lixo ao seu objeto próprio, e assim todas essas outras artes, através dos séculos e até hoje continuam cumprindo seu papel, comunicando suas mensagens e hipnotizando publico. Porque então somente a pintura, ou, as artes plásticas (ou artes visuais, ou arte contemporânea, como queiram) sofreu uma mutação, ou melhor, uma mutilação perdendo totalmente seu caráter e objetivo?
Na minha modesta contribuição, cito o tendão de Aquiles que tornou as artes plásticas tão vulneráveis e sem rumo como está hoje, que reside na questão da criatividade ser mais importante que a habilidade na era moderna. Quando o artista passou a ter uma liberdade irrestrita, cada um pretendeu ser mais diferente que o outro cada pintor queria inventar alguma coisa que nunca tivesse sido feita. Assim tudo que era feito de novo, não tinha parâmetro de avaliação, então esse novo passava a ser referencia, e tanto obra como autor, por serem precursores, tinham seus minutos de gloria, onde, alguns desses precursores permanecem agonizando até hoje.
Citamos o exemplo de Kasimir Malêvitch, que em busca da abstração geométrica pura, conforme declarou em 19l3, tentando desesperadamente libertar a arte do peso do universo da representação, refugiou-se na forma do quadrado. E isto simbolizava para Maliêvitch, a supremacia de um mundo maior do que o mundo das às aparências. Daí ele pintou um quadrado preto que (para ele) simbolizava toda essa oratória e inventou o Suprematismo, citado nos livros até hoje. Para nós é simplesmente um quadrado preto e duvido que qualquer intelectual do mundo ou mágico, ou parapsicólogo, identifique esse conteúdo nesse quadrado preto.
Citamos também Lucio Fontana, que em 1963, pinta uma tela toda amarela, 1m. x1m., e corta-a com um ou mais talhos rápidos e certeiros como navalhadas, e segundo críticos e “entendidos”, é um gesto que corta a tela e restabelece a continuidade entre os espaços aquém e alem do plano, onde a visão transpassa a obra em outra dimensão alem da obra, como se tivesse destruído a simulação espacial da própria pintura.. Isto para os críticos de plantão, para nós é simplesmente uma tela rasgada.
Assim são muitos os casos de precursores que aproveitaram a liberdade total e irrestrita adotada como porta de entrada de um verdadeiro “vale tudo”, lembramos Pollock que deixou gotejar tinta sobre um suporte ou de Kooning que gesticulou com um pincel diante de uma tela. Entre tantos, estes são alguns dos contestadores do passado e segundo o crítico Affonso Romano de Sant .Anna, a melhor homenagem que se pode fazer aos contestadores do passado, é contestá-los hoje.
O iniciante não precisa ficar assustado porque não precisa fazer nada disso para se integrar na arte contemporânea. Para ser contemporâneo não precisa ser diferente, ser mágico ou malabarista, esdrúxulo, chocar o publico, e fazer bobagens. Existe um tipo de arte para cada cabeça. Como exemplo, cito minha própria produção de arte contemporânea e toda ela cabe no segundo ano do curso de pintura, como também os dois artistas notáveis que a escola Pan-americana elege para avaliar os alunos formandos em arte contemporânea, são nada mais nada menos que Cláudio Tozzi e Rubens Guerchman, dois artistas contemporâneos, que fazem pintura de cavalete com base em conceitos da pop-arte dos anos 60.
Porem é importante que o aluno tome conhecimento de todo esse panorama das artes plásticas e da liberdade de transito em todas suas vias e ramais
É bom que o iniciante tenha consciência de alçar vôos de acordo com sua plumagem, e não entrar nesse vale tudo que não vai dar em nada.

Então resumindo, criatividade é desenvolver alguma coisa nova, que nunca foi feita, assim, portanto, não há referencias ou parâmetros para julgá-la, no caso de dúvida, “pró-réu”, porque sempre essas obras do acaso e oportunismo vêm acompanhadas de manifesto, e um vasto texto explicativo, onde o texto passa a ser mais importante que obra e esta não existe sem ele. Nessa corrida alucinada pela criatividade, com espaço na mídia, com o apoio da classe dominante, e traduzindo a situação atual da Humanidade, o artista plástico desembestou por todas as áreas possíveis e imagináveis, ou melhor, inimagináveis, transformando essa atividade nobre em um verdadeiro repositório de imbecilidades, incompetência, oportunismo e outros que tais.
Esquece-se que criatividade não significa libertinagem e que a falta de habilidade que dissemos não ser necessária para a pintura, não deverá servir de muleta tapando o Sol com uma peneira.
Temos o exemplo claro e fantástico de Juan Miró, que sabidamente pelos livros que registram sua biografia, tinha um desenho “acanhado”, muito fraco para os padrões de pintores realistas ou clássicos. Ou seja, não tinha a habilidade, habilidade do desenho. Porem foi genial sua capacidade criativa. Com um desenho simples, infantil, criou uma linguagem tão poderosa, alegre, lúdica, com um conteúdo e uma mensagem que nos remete a nossa infância. Sua pintura é tão simples porem forte e poderosa que não é possível se fazer uma releitura de Miró, a não ser que se copie Miró.
Esse é o exemplo de ser criativo, sem ser idiota. (cabotino, charlatão, incompetente, mistificador, gozador, cínico, tudo isto e mais alguma coisa, menos artista plástico.).
Ingres speltri
27-12-2006

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A carga didática de um curso de pintura.


A carga didática de um curso de pintura é organizada de acordo com a direção da escola, havendo pequenas variações, porem, na essência, em todas as partes do mundo, podemos afirmar que todos os cursos, como todos os professores, tratam das mesmas questões, às vezes com organizações diferentes.
Basicamente são desenvolvidos exercícios para o iniciante praticar a habilidade com os elementos da pintura, e como uma escola dispõe de oito meses de aula, desenvolve-se uma proposta por mês onde se aborda questões técnicas relacionada a ela.
Inicialmente, tomam-se três tipos de composição que alavanca questões paralelas praticadas simultaneamente em cada tipo de composição.
É bom que se saiba antes de tudo o que é composição. Compor é organizar ou reunir elementos. A composição musical é uma organização de sons. A escultura é uma organização de formas tridimensionais. Poesia é uma organização de palavras e assim por diante. A dança é uma organização de gestos e movimento corporal. A pintura é uma organização de formas, tons, e cores, e cada aluno vai aprender organizar esses elementos de acordo com sua própria tendência.
Os elementos adotados para exercício na formação de um pintor, é padrão em escolas do mundo todo e praticamente todos os pintores da era moderna os adotaram em suas formações. São exercícios iniciais, preparatórios, necessários para a formação, sem nenhum compromisso com o resultado porque, no inicio do aprendizado o que importa é o processo e não o resultado, não se trata de pintura propriamente dita, e que depois poderão ser abandonados para que se adote a linguagem pessoal e definitiva.
Manabu Mabe, por exemplo, pintor abstrato, que no inicio de sua carreira, quando era agricultor em Marilia-SP, pintava naturezas mortas, nus, flores, paisagens, que depois de ter adquirido conhecimento técnico e teórico, adotou a abstração como linguagem pessoal.


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É difícil mudar valores estabelecidos durante uma vida inteira na mente do aluno, que pretende fazer tudo “bonito”, bem feito e dentro dos padrões da realidade visual. Depende do aluno em não criar um bloqueio e uma rejeição, que, em se tratando de pessoas inteligentes e de boa vontade, entendem , assumem uma humildade, praticam a orientação do professor e aos poucos vão sentindo o resultado. Porem volta-se a insistir que o bloqueio maior inicial é a questão da importância que o aluno dá para a beleza associada à arte e ele demora a entender o mecanismo desse conceito
Uma figura de retórica para esclarecer a falta de importância da beleza na pintura em detrimento da linguagem, conteúdo e comunicação, é o exemplo de uma pessoa que tenha uma letra horrível, feia e mal feita, porem quando emite um cheque, o banco paga ao sacador a importância determinada no cheque. Não é uma letra feia ou bonita que invalida a mensagem do cheque que manda o banco pagar ao portador aquela importância. Também uma pintura poderá ser bonita, agradável de ver e até conviver com ela, se ela tiver um conteúdo, mensagem, comunicação também agradáveis, mas, o artista contemporâneo descobriu que o caos e a desordem também geram padrões.
Como se pode ver, não são somente temas agradáveis que servem de modelo para a pintura. A destruição de Guernica pelos nazistas foi um grande tema. O grito de E. Munch, os retirantes de Portinari, a melancolia americana de E.Hopper, a Ilha dos Mortos de Arnold Böcklin, o expressionismo agressivo de Egon Schiele, enfim, uma infinidade de pintores que não foram buscar temas bucólicos e prazerosos, e que não tem nada de belo, mas têm uma poderosa mensagem que os torna bonitos de outra maneira, diferente da tradição, família e religião.


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Em um curso regular de uma escola, cada ano é uma preparação para o ano seguinte e que o aluno esteja preparado para enfrentar novos problemas e questões mais difíceis, e é no último ano que o aluno vai se transformar em um artista plástico, porem ainda com problemas de identidade artística como em qualquer outra formação acadêmica. Por exemplo, quando um advogado termina a faculdade ele é apenas bacharel em direito, depois disso ele vai escolher sua identidade na advocacia. Poderá ser advogado criminalista, cível, tributário, etc. – Quando um medico termina a faculdade é que ele vai fazer residência em hospitais para adquirir pratica e habilidade, se especializar em um ramo da medicina. Na pintura é a mesma coisa, no período de estudos é mostrado um vasto painel que envolve as principais questões da pintura e pratica-os. No final, o aluno se identifica com alguma modalidade de linguagem, com alguma forma de pintura, e a adota. Porem existe um compromisso do professor de mostrar ao aluno o que se faz hoje em arte, independente de qualidade, e gosto, para amadurecê-lo nas questões da pintura. Ainda mais que, nesse panorama exibido ao aluno, não há a intenção de fazê-lo gostar de nada, mas sim entender.
Para formar as bases de um pintor e iniciar os exercícios didáticos que abrangem conceito e técnica, geralmente as escolas adotam três tipos de composição: natureza morta, paisagem e nu, agregando a esses exercícios explicações de como montar a palheta, escolher o tipo de pincel, mistura de tintas, tipos de pinceladas, escolha do suporte, enfim, à medida que as aulas vão se desenvolvendo vão surgindo situações de duvidas, correções de rumo, e posturas mais adequadas.
Ingres speltri - 28-12-2006

a parte pratica de um curso de pintura

Questão da técnica - Quantas técnicas o aluno vai aprender
Esse é um outro tabu difícil de ser quebrado e mudar a mentalidade do aluno que não sabe distinguir o que é arte, o que é artesanato, o que é arte decorativa. Para o iniciante em pintura, todas essas modalidades representam uma coisa só.
Vamos dar um exemplo de porta de botequim para ver se encontramos uma figura de retórica para explicar esse fato. Imagine ao preencher um cheque para pagar uma compra e estar preocupado se vai escrever com letras góticas, barroca, letra de forma, letra corrida e os números se vão ser grafados em algarismos romano ou arábico. Estas questões são subjetivas, o que importa é que o cheque seja legível, com uma letra usual do emitente, seja autentico e tenha fundos. A pintura segue o mesmo processo. Quem vai aprender ou se dedicar à pintura tem que estar preocupado com as questões conceituais, com linguagem, comunicação, expressão, estilo e conteúdo, onde a técnica entra como um mero instrumento para formalizar todas essas questões A técnica só tem importância em harmonia, ou em complemento que ira realçar valor a todo fundamento do autor. Ela sozinha não vale nada. Todos os pintores que existiram, que existe e que virão, adotam uma única técnica para expressar sua arte, não tiveram necessidade de outras técnicas. Pode ser que em um raro momento de curiosidade e exceção fizeram uma pequena incursão sem importância em alguma outra técnica. Até a era moderna os pintores usaram invariavelmente a tinta a óleo e a pintura em parede (afrescos), era usada a tempera solúvel em água. Na fase impressionista, quase todos os pintores só usaram a técnica da tinta a óleo (Degas e Lautrec trabalharam outras técnicas). Já na fase contemporânea, os principais movimentos que revolucionaram a pintura, foram trabalhados por seus precursores com a técnica da tinta a óleo ( Matisse, Picasso, Kandinsky,etc.etc.etc.)
O artista quando encontra sua linguagem, procura a técnica que melhor se adapta a ela e a adota apenas como um “veiculo”. A partir daí vai, descobrir, pesquisar e praticar sua técnica ideal, sendo que vai em busca de uma só.
Por uma total ignorância desses fatos, o aluno no inicio de um curso de pintura pergunta quantas técnicas vai aprender e se decepciona quando o professor diz que será apenas uma. É alimentada a interpretação errada de que se conhecer muitas técnicas o aluno fará um bom trabalho. Pergunto: - de pintura ou de artesanato? No caso da pintura, essa intenção seria como colocar o carro na frente dos bois. Primeiro é preciso aprender os fundamentos da pintura, primeiro deve-se aprender a pintar para depois ver qual a técnica que se ajusta em sua linguagem. Existem sim cursos onde se prendem técnicas de pintura para serem aplicadas em artesanato, caixas de jóias, moveis barrocos, efeitos em paredes. Aprende-se “sfumatto”, pátina, craquelê, douração, decaupê, bauermalerey, texturas diversas, envelhecimento, frottage, mascara (stencil), encáustica, sangüínea, mosaico, monotipia, variações de verniz (de breu, de clara de ovo, goma Damar, gelatina, de cola, etc.), porem, não é o conhecimento de técnicas que fará do individuo um pintor. E se souber todas essas técnicas, o que fazer com elas?
Alguns pintores, por falta de criatividade ou conveniência comercial, usam seus dotes de decoradores e empregam essas técnicas em uma tela, fazendo peças de verdadeiro artesanato e chamam de quadros abstratos, poluindo e denegrindo ainda mais o ambiente artístico. Nada contra, porem vamos catalogar corretamente, não mudem o nome dos bois” para agregar valor.
Um candidato às artes visuais tem que se decidir ser quer ser um artesão ou um artista plástico. São duas atividades nobres, mas, distintas.
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primeira proposta – “Natureza Morta”

Iniciam-se os estudos adotando a primeira forma de composição, chamada de “natureza morta”, constituída por garrafas, vasos, copos, prato e outros elementos desse tipo, de forma naturalmente simples.
Toda composição, na pintura, se divide em três fases, que são: composição formal, que se refere ao desenho, forma. Composição tonal, que se refere aos tons claros e escuros. E finalmente a composição cromática que, logicamente se refere às cores.
Em cada uma dessas fases da composição, cada aluno poderá e deverá dar a sua interpretação. Por exemplo, na questão da forma, determinado aluno poderá agrupar todos os elementos da composição, garrafas, bule, copos, etc. todos no centro do suporte, enquanto outro aluno poderá descentralizar os elementos e assim cada um cria a sua relação de volumes, que poderá mais tarde constituir parte de seu estilo.
Na composição tonal também o aluno terá total liberdade de tratar os claros e escuros a seu critério, como por exemplo, a luz incidindo da direita para a esquerda, de cima para baixo, de frente, dos lados, enfim, existe uma infinidade de maneiras de se tratar esse poderoso elemento que é a luz, e que também, a maneira que o aluno adotar em seus exercícios, será parte de seu estilo.
O cromatismo é a parte mais esperada pelo aluno, onde ele terá liberdade de escolher as cores que ira aplicar em seu trabalho.
Nesta primeira fase da natureza-morta, o aluno irá usar apenas os tons terra, os marrons e cores análogas, incluindo o banco e o preto e lógico o vermelho e amarelo que fazem parte dessa família de cores. Isto para facilitar o trabalho do aluno e chegar a um bom resultado, porque os tons terra (marrons), são tons neutros e já naturalmente rebaixam a luz, facilitando as combinações e harmonia das cores, considerando que o aluno vai ter que administrar uma serie de problemas difíceis no campo da forma, do tom e se liberar a cor, o aluno vai agir como uma criança em uma confeitaria e comer tudo que pudesse, tendo depois um tremendo mal estar e péssimo resultado. Com certeza o iniciante iria se empolgar com os azuis, verde esmeralda, verde, cobalto, carmim, fazendo uma meleca de cores igual à porta de tinturaria. É difícil combinar e harmonizar cores, por isso vai deixar esse problema para ser resolvido no momento adequado quando tratarmos da “Interpretação da Cor”, onde trataremos dos aspectos estruturais e expressivos da cor.
Segurando o aluno, fazendo com que ele de um passo de cada vez, em terreno firme, de maneira que ele entenda e domine, o resultado surgira dando um enorme prazer de realização. Porem a recíproca é terrível. O aluno não segue as instruções, faz o que quer dentro de uma rebeldia infantil, e fatalmente chega a um péssimo resultado e a repetição desse comportamento leva o aluno ao desanimo, a conclusões erradas de que não tem talento e finalmente a desistência. O aluno que segue a orientação do professor, seguramente, comprovadamente chega, no mínimo, a um resultado razoável, isto porque transparece no exercício o entendimento, mesmo que rudimentar, dos conceitos praticados, e isto já é gratificante.
Simultaneamente a essas questões de forma, tom e cor, o aluno vai aprendendo primeiro a uma nova postura diante do cavalete, onde agora, diferente da prancheta ou mesa, tem o suporte a sua frente, paralelo a seu corpo, vai segurar uma palheta, um pincel e misturar as tintas. No inicio o aluno se assusta da mesma maneira quando começou aprender a dirigir, tendo que fazer tanta coisa ao mesmo tempo. Depois do primeiro momento, as coisas vão acontecendo automaticamente e com prazer.
O pincel adotado é um pincel de cerda (pêlo) dura, para agüentar o processo de desinibição do aluno que deverá atacar o suporte com garra e determinação. A maneira de segurar o pincel , não tem regra, deverá ser a mais confortável , talvez semelhante a maneira de segurar o lápis ou caneta.
A aplicação da tinta poderá ser da palheta para o suporte e ir misturando as cores no próprio suporte à medida que forem tratados os modelos, ou misturar a tinta na palheta para depois aplica-la no modelo. As duas maneiras são corretas, mas no inicio, considerando a total falta de pratica do aluno, a mais adequada é misturar as cores diretamente no modelo. Geralmente, quando o aluno vai misturar as cores na palheta, pela falta de pratica, ele perde a noção de volume e acaba formando um monte de tinta que daria pra pintar a porta da cozinha de sua casa. É bom que o aluno vá entendendo a evolução das cores no próprio suporte, ou então que adote os dois sistemas simultaneamente.
Abordamos agora a questão da pincelada, que é um verdadeiro tabu para o iniciante. Não existe regra para pincelada. Não existe padrão de pincelada. Cada um vai se ajustar da sua melhor maneira, ou seja, vai criar seu maneirismo intuitivo em sua pincelada. Não precisa se preocupar em encontrá-la, a pincelada encontra seu autor. Dificilmente um pintor tem sua pincelada igual a outro.
O efeito da pincelada depende da quantidade de tinta agregada ao pincel, depende da pressão que se exerce no pincel, depende do tipo de pincel, depende do movimento que se imprime, enfim, a pincelada é a soma de uma série de elementos que vão sendo adotados de maneira inconsciente.
Para entender melhor a questão da pincelada, damos como exemplo a caligrafia de cada um. Quando começamos a ser alfabetizados, em nossa infância, jamais estávamos preocupados com a beleza ou o tipo de caligrafia que teríamos. Estávamos preocupados em grafar de maneira correta os símbolos alfabéticos, o que já era muito. Nessa época já era um avanço quando criança juntava umas letras e formávamos uma palavra. Pois bem, ao cabo de algum tempo de pratica estávamos escrevendo com um tipo de caligrafia que surgiu sem que tivéssemos pensado nela. Com a pincela ocorre o mesmo fenômeno. O aluno esta se “alfabetizando” nas questões da pintura e com o tempo irá sendo feita correções de rumo e acertos de construção.
Uma coisa o aluno tem que saber e estar preparado em aceitar com otimismo, que no inicio não ira conseguir bons resultados, que é preciso ter paciência, muita humildade, sem prepotência, megalomanias, sem ansiedade, pressa, e principalmente aqueles que estão em casa esperando o resultado, maridos, esposas, filhos, netos, vizinhos, sogra, etc., que se acalme, se aquietem, e não interfiram no trabalho de iniciação que é árduo e demorado. Pode-se afirmar, com certeza absoluta, quem seguir a orientação, chegara ao fim do ano já como pintor, apto a entender e enfrentar sozinho os problemas da pintura e jamais olhara e pensara em pintura como fazia no inicio do ano. Vão terminar o ano como pintores, com certeza, porem, artistas plásticos serão formados no ano seguinte.









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Segunda proposta - mudança de técnica – alteração do resultado

A questão seguinte a ser abordada é praticamente uma continuação dessa primeira proposta, apenas mostrar ao aluno que se mudar qualquer elemento, quer seja técnico ou conceitual, mudará radicalmente a composição. Aqui no caso, vamos sugerir mudança nos materiais adotados para sentir a mudança de resultados, às vezes até gratificantes para a tendência do aluno.
Vamos sugerir a mudança de tinta. Iniciamos com tinta a óleo, porque a tinta a óleo tem uma cultura secular e uma característica muito peculiar que é a secagem. Diferente das tintas a base de água, que geralmente são chamadas de temperas, a tinta a óleo seca por oxidação e as temperas secam por evaporação e a conseqüência é que um trabalho feito com tinta a óleo, como demora em secar (às vezes semanas ou meses) a pintor pode retocar, corrigir, trabalhar o quadro com tempo disponível. Porem as tempera ou tinta acrílica, como seca por evaporação, o pintor da uma pincelada, quando volta para dar à segunda, a tinta já secou e não se mistura , ficando sobreposição de camadas de cor. Para corrigir essa técnica é preciso muita pratica, muita técnica, ou usa-la como aliada no trabalho.
Pois bem, somente na mudança do tipo de tinta, pintando o mesmo tema, o aluno notara uma diferença radical no resultado. Não existe melhor ou pior, existe apenas o mais adequado para cada tipo de trabalho.
Outro teste que é proposto ao aluno, também para notar diferenças de resultado, é a adoção da espátula ao invés do pincel. Alem de tudo a espátula é um instrumento formidável porque não admite detalhes e força o aluno a não ficar “ bordando” o quadro em detalhes superficiais e ir quebrando paradigmas ma cabeça do iniciante. Outra diferença entre espátula e pincel é que com a espátula se “modela” a forma como se tivesse esculpindo, bem diferente do pincel.













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Terceira proposta - conteúdo


A próxima fase do curso de pintura aborda o principal elemento de qualquer obra de arte, que se refere ao conteúdo. Uma pintura sem conteúdo passa a ser uma pintura sem expressão, sem comunicação, apenas tecnicamente bem feita, considerada quase um artesanato.
É bom lembrar que a arte acadêmica, feitas nas escolas (academias) de Paris do século XIX, ficou como sinônimo de pintura pobre, sem valor, como uma arte menor, pelo fato de serem feitas dentro dos rigores técnicos das academias, mas sem os valores expressivos necessários a uma obra de arte, apenas corretamente bem feitas, E é isto que um leigo não sabe distinguir, entre valor técnico e valor do conteúdo.
Pois bem, vamos praticar o conteúdo, mostrando também que o tema é um mero pretexto de composição e o conteúdo poderá ser conduzido pelo pintor em qualquer tema ou modelo, dependendo da maneira como for trabalhado o tema, os tons e as cores poderão se conseguir resultados dramáticos ou alegres pintando uma simples garrafa.
Se pintarmos uma garrafa em uma chave baixa de cores, com tons graves, pesados, com cinzas, roxo, marrom escuros, preto, chegará a um resultado que nos leva a sensação de tristeza, dor, melancolia, etc. Mas, se pintarmos essa mesma garrafa com tons em chave alta, claros, corres alegres, o resultado transmitira essa sensação.
Daí a importância do aluno saber que ele tem o poder de criar e conduzir emoções através de seus quadros seja qual for o tema.
A técnica será livre, mas o tema obedecerá aos modelos simples da natureza morta para forçar o aluno a ir buscar resultados na cor e no tom, praticando sua criatividade.
Ingres speltri - 28-11-2006

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Quarta proposta - paisagem

Pode parecer estranho em um curso de arte contemporânea o estudo da paisagem, ainda mais sendo apregoada a preparação para o ano seguinte, que são aspectos da contemporaneidade. Pois bem, ninguém vai aprender a pintar paisagem, apenas porque a paisagem é o melhor tema para se estudar um fenômeno que acontece com as cores que só ela tem condições de mostrar, chamado perspectiva atmosférica.
Os livros e tratados teóricos sobre pintura pouco ou quase nada falam desse fenômeno e pouquíssimos artistas o conhecem teoricamente, porem, todos o praticam por intuição.
A perspectiva atmosférica consiste no seguinte: na distancia as cores perdem a intensidade e a forma perde a definição. Na pratica isto quer dizer o seguinte, se estiver em uma estrada, à vegetação que está próxima de nós tem um verde exuberante, nítido, porem à medida que a paisagem vai se distanciando de nossa vista essa mesma vegetação vai ficando de um verde menos intenso, vão perdendo o brilho. Esse enfraquecimento da cor vai aumentando à medida que vai chegando ao horizonte que por vezes é de um verde azulado, quase confundindo com o céu. Isto não acontece somente com a vegetação de uma paisagem campestre, paisagem urbana também passa por esse fenômeno, pois na distancia as casas ou prédios vão ficando acinzentados, quase invisíveis. Esta modulação de cor acontece em virtude de haver entre o ponto de observação (olho humano) e o objeto da paisagem, uma camada de ar com todos os ingredientes que o compõe, quer sejam partículas de vapor (neblina), gazes, poluição etc. Pois bem, dependendo da distancia de observação, essa espécie de lente com todos esses ingredientes, como que embaçam a cor, tirando-lhe o vigor e quanto maior a distancia menor é a identificação das cores, como também das formas.
Usando a paisagem como pretexto de exercitar a perspectiva atmosférica, dará ao aluno o conhecimento desta modulação que irá facilitar obter efeitos de profundidade usando o recurso cromático. Principalmente em quadros abstratos, onde não há narração figurativa, tampouco perspectiva linear, consegue-se a ilusão de profundidade aplicando o efeito da perspectiva atmosférica, colocando uma cor bem definida acompanhada de planos da mesma cor que vai se enfraquecendo, até perder a definição.
Outro exercício que a paisagem possibilita praticar é o enquadramento visual. O ângulo de visão é muito amplo e um pintor não pinta tudo que se enquadra em seu ângulo de visão. Faz-se uma seleção do motivo que se pretende registrar e centraliza o foco nesse objetivo. Exemplo, quando se olha uma paisagem é possível no mesmo ângulo de visão ver arvores, rio, estrada, casa, mais arvores, campos, etc. - Pois bem, dentro desse panorama, escolhe-se o que melhor se adaptada na interpretação e gosto pessoal. Se a escolha for a casa, concentra-se o foco visual dentro de um enquadramento proporcional ao suporte e destreza o resto to tema.
Outra pratica importante que a paisagem proporciona é o agrupamento de elementos em um volume de cor, considerando que a paisagem é o melhor tema para se praticar a eliminação de detalhes. Por exemplo, quando se pinta uma arvore, não se pinta folha por folha. Em apenas algumas pinceladas construímos uma arvore e ainda respeitando sua identidade. Isto representa uma simplificação da forma onde foram eliminados os detalhes, mas o objeto não perdeu a identidade.
Assim, sem se transformar em paisagistas, o tema deu condições para se praticar a perspectiva atmosférica, corte/enquadramento e visão seletiva, importantes na formação de um pintor.
Vinhedo - 31-12-2006 - ingres speltri

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Quinta proposta - nu (modelo vivo)


O nu é adotado no estudo das artes plásticas desde que se tem conhecimento de sua existência. Desde os homens das cavernas que se verifica o registro desse tema.
Não só pelo fascínio que o tema exerce, como talvez pelo ponto de vista psicológico como uma intenção de preservação da espécie, mas, filosofia a parte, tecnicamente o corpo humano é o tema mais completo que existe. Através do modelo vivo podemos praticar tudo que um pintor precisa para sua arte, inclusive duas condições mais importantes que são: proporção e expressão. A pintura não se completa sem esses elementos.
Se na natureza-morta a garrafa for maior ou menor, ou o bule não tiver tampa coisas desse tipo não alteram o resultado da composição.
Se na paisagem a arvore tem três galhos e for feito cinco, a casa tem uma janela, faz-se três, o tronco da arvore é fininho, faz-se grosso, coisas desse tipo não alteram o resultado da composição.
Porem se for desenhado um nu com duas cabeças, quatro pernas, três braços, um cabeção ou perninhas atrofiadas, isto altera o resultado da composição e não é aceitável.
Assim o nu oferece condições de praticar a intuição da proporção entre cabeça, tronco e membros, sem detalhes de olho, boca, dedos etc., apenas uma visão simplificada do corpo humano em diversas posições, mantendo a proporção e buscando a expressão corporal.
Neste estudo pratica-se apenas a intuição da proporção, diferente de métodos acadêmicos que promovem um ritual cansativo no estudo do nu, começando por estudar e decorar todos os ossos do corpo humano, desenhando todos eles (tíbia, perônio, fêmur, radial, cúbito, falanges, occipital, temporal, externo, costelas, etc.). Depois desse estudo longo e monótono, estuda-se e decoram todos os músculos do corpo humano, também desenhando todos eles (bíceps, deltóide, cleido-extermo-mastoideo, costureiro, malar, peitoral, glúteos, gêmeos, abdominais, risórios de santorini, etc.). Depois disso tudo, pratica-se o desenho do esqueleto humano. Somente após esse treinamento, que seria uma carga didática de mais de ano, é que o aluno iria desenhar com o modelo posando em sua frente.
O objetivo não é formar desenhistas de corpo humano por isso não se adota esse método, mas pura e tão somente praticar e intuir a proporção em exercícios rápidos para desenvolver o raciocínio.
Iniciam-se os exercícios do corpo humano com desenhos rápidos usando qualquer tipo de ponta, a conveniência do aluno, onde sugerimos carvão ou grafite mole. Na seqüência será aplicada luz/sombra para pratica da composição tonal, usando para isso focos de luz previamente estudados.
Por fim, aplicaremos as cores análogas dos marrons, pelo mesmo motivo da natureza morta. Considerando que o aluno terá que resolver uma serie de problemas, vamos eliminar pelo menos um que é a combinação e equilíbrio de cor, como já foram explicados, os tons terra rebaixam a luz naturalmente e são fáceis de ajustarem, conseguindo um bom resultado sem muito esforço.
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Sexta proposta – interpretação da cor



O primeiro movimento de arte contemporânea propriamente dita, surgido no inicio do séc. XX e que integrou de maneira decisiva o estudo do desenvolvimento da pintura, foi um momento onde um grupo de pintores, liderados por Henry Matisse começaram a pesquisar os aspectos estruturais e expressivos da cor. Passaram a interpretar o mundo visível de uma nova maneira, usando a cor para estruturar as formas e atingir efeitos expressivos. Uma maçã é vermelha, pintavam-na de azul. Não por irreverência ou rebeldia, apenas para conseguir nova estrutura plástica na pintura, rompendo padrões e paradigmas seculares.
Dentro desse propósito, o uso e abuso de cores primarias, quase que invariavelmente puras, onde o azul cobalto, amarelo cromo, vermelhos, carmins, verde esmeralda, contrastando com brancos e pretos, ao invés de ser uma bofetada na retina,”gritavam” uma alegria e simplicidade nunca antes experimentadas. Não tinham nenhum compromisso com a realidade visual, apenas com a pintura.
Uma passagem explica bem o conteúdo ideológico desse grupo, que era a estrutura da cor. Matisse, pintando sua esposa com um vestidinho preto, um chapeuzinho coco, estava sendo retratada com verdes, amarelos, azuis, com formas exuberantes. Uma pessoa vendo esse quadro disse: - “Mestre, nunca vi uma mulher dessa cor!”. Ao que Matisse respondeu: - “Isto não é uma mulher, é uma pintura!.”
Se o iniciante em arte entender o fundamento desse dialogo, terá dado um grande passo no entendimento nas questões da pintura contemporânea.
A liberdade da técnica a ser adotada permitirá uma execução mais adequada e o resultado de uma composição vibrante, alegre, agressiva, por isso que esses pintores (H.Matisse, Vlamink, Derain, Kandinsky em seu inicio, Duffy, entre outros) eram chamados de selvagens, pela agressividade da cor (selvagem-: fauve).

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Ingres speltri – 31-12-2006


















Sétima proposta - O ver e o saber




Esta proposta é a mais importante do curso de pintura. É aqui que o pintor coloca toda sua carga criativa e faz de seu trabalho uma extensão de seu ego. Pintar o que se sabe daquilo que se vê, deixa o autor completamente à vontade para fazer o quer, como quer e do jeito que quiser, sem fazer da pintura uma anarquia porque deverá respeitar a composição formal, tonal, cromática, estética, equilíbrio entre os elementos, expressão, linguagem, comunicação, estilo pessoal e conteúdo Universal. Faça o que quiser como quiser e do jeito que sabe, colocando todos esses elementos na composição. Teremos, com certeza, uma obra de arte.
O iniciante vai notar um fato interessante, ou seja, quanto mais à vontade ele vai ficando para pintar, vai ficando cada vez mais difícil o desenvolvimento da criatividade.
Durante os primeiros momentos era apenas uma questão de transferência de representação, porem a partir de um determinado momento, depende única e exclusivamente da criatividade de cada um.
Pintar o que se sabe daquilo que se vê ou se imagina, é uma pratica adotada pelos pintores contemporâneos que se afastam do realismo, sem nenhum compromisso com a forma estabelecida pelo mundo visível, criando uma interpretação pessoal, em que o tema não tem mais nenhuma importância, onde é apenas lembrado por fragmentos ou resquícios para compor o equilíbrio da composição formal. -
A liberdade da interpretação do objeto tem um limite, onde ele (objeto) tem que aparecer em partes que o identifiquem. Isto quer dizer que o objeto tem que aparecer dentro de uma nova visão, diferente de sua realidade, porem sem perder a identidade.
Existem diversas maneiras de se praticar essa nova visão do tema, porem, antes é preciso lembrar que este conceito só se presta para o objetivo de privilegiar a forma, o volume, a matéria, o tridimensional, abandonando neste inicio de exercício o uso de cores ou qualquer tipo de expressão. Esta maneira de pintar esta direcionada para a forma, massa, matéria se assemelhando quase como um projeto arquitetônico.
Este é apenas o inicio, ou o ponto de partida para se entender e começar a desenvolver uma nova modalidade de arte, sem procurar associar com outras formas de conceitos ou estilos de pintura que apenas viriam conturbar a mente do iniciante que não teria discernimento ou base de conhecimento para distinguir as diferenças que existe entre as maneiras de ver e as técnicas que foram adotadas através do desenvolvimento da pintura. O iniciante não deve insistir em associar esta pratica com algum estilo de pintura existente como veremos adiante.
Começando a “ver” o objeto de maneira diferente do convencional, já estaríamos rompendo com uma tradição e uma comodidade a qual nos acomodamos em nossa vida social, mas a pintura permite outras formas de comportamento.
Vamos abordar algumas formas do “ver” diferente. Por exemplo, quando olhamos um relógio, estamos vendo apenas o mostrador de um relógio, ou seja, não estamos vendo todo o relógio que consiste da pulseira, do verso do relógio, e principalmente da parte interna composta por uma grande quantidade de peças que compõe sua maquina. Portanto porque não pintar um relógio de dentro para fora, pintando suas peças, sua máquina, seus componentes. Esta atitude contraria a ordem estabelecida pelos valores sociais que carregamos desde que nascemos e que compõe a educação que recebemos.. É aí que a pintura contemporânea entra, quebrando os paradigmas e valores sociais enraizado em nossa mente, colocando o mundo visível de maneira irreverente, criativa, criando uma nova concepção de forma, estabelecendo uma nova visão livre, principalmente livre das convenções formais e sem nenhum compromisso com a realidade, deixando o pintor ( criador ) a vontade para fazer o que quiser, como quiser, do jeito que sabe, criando uma interpretação de acordo com seus valores.
Parece que agindo assim a arte seria uma coisa incoerente, inverossímil ou absurda. Nada disso porque o artista esta a vontade porem seguindo uma composição formal, tonal, cromática, equilíbrio, estética, estilo, técnica, comunicação e conteúdo Universal. Faça o que quiser, como quiser e do jeito que quiser , colocando tudo isso no trabalho.
Pois bem, esta é uma das maneiras de ter uma nova visão de um tema, ou seja, olhando-o por dentro. Existem outras maneiras de ver, como por exemplo, a visão simultânea, em que não se olha para a forma externa do objeto, mas sim se faz um painel de componentes desse objeto que leva a imaginação e identifica-lo. Seria o caso de apanharmos um celular e fazer o que sabemos de um celular. Sabemos que o celular tem teclas com números, letras, símbolos, principalmente símbolos que o identificam.
Outra forma de ver o tema seria desarticular os elementos da composição provocando um tipo de ilusão de ótica. Por exemplo, garrafa, bule, copo e fruta. Se desenharmos tudo isso simultaneamente, um elemento em cima do outro de maneira repetitiva, com criatividade, vamos criar uma desarticulação desses elementos, porem sem perder a identificação de que nessa aparente confusão existe bule, garrafa, copo e fruta.
Vejamos que este é o primeiro passo para romper com uma tradição visual. Demos três maneiras e poderão existir outras tantas, e tudo isto nada tem a ver com estilos de pinturas e muito menos nada tem a ver com cubismo.
Por mais estranho que possa parecer, isto não tem nada a ver com cubismo, mas o cubismo esta contido também nesse conceito. Para usar uma figura de retórica, diríamos que uma maçã nada tem a ver com um bolo, mas o bolo pode ser de maça.
Se fossemos associar a nova maneira de ver com cubismo, teríamos que explicar o cubismo, que após sua criação, foi desenvolvido em diversas fases, conceitos e interpretações que para desenvolvê-lo e exercita-lo teria que haver um curso especialmente para esse fim.
Porem vamos lembrar algumas fases do cubismo para que o iniciante tenha certeza de que não de associá-lo com a pratica inicial deste conceito, porque ele (cubismo) se desdobra em diversas modalidades.
Vamos começar a entender o nome “cubismo” que foi dado despretensiosamente por um crítico e veio a confundir os iniciantes em artes. A partir desse título, o iniciante pensa que é uma pintura feita com cubinhos, e à medida que toma conhecimento da pintura cubista, fica sem entender nada. Acontece que o nome está relacionado à maneira geometrizada com que é apresentado o tema, predominando uma estilização em figuras geométricas.
O primeiro momento cubista, entre tantos outros que se seguiram, consistiu na apresentação de um quadro “Mulheres D! Avignon”, por volta de 1907, cuja composição rompeu toda tradição secular da pintura, principalmente em sua espinha dorsal que sempre foi à perspectiva e luz e sombra e o tema não tinha mais importância, mas sim o todo da composição sem nenhum compromisso com a realidade. O quadro era quase uma “anotação” do tema. Era uma analise das formas em sua essência em harmonia de um conjunto com positivo. Essa primeira fase ficou conhecida como “cubismo analítico”.
Depois dessa fase que foi muito rápida, surgiu uma nova fase onde houve outro rompimento com a tradição pictórica, quando Georges Braque colou em seus quadros cartas de baralho, pedaços de jornal, papel de parede, etc. Esta atitude foi uma verdadeira revolução para a época, onde um quadro era feito com elementos estranhos à pintura. Esta forma de fazer pintura abriu uma tremenda possibilidade de novos rumos como à fase seguinte.
A fase seguinte do cubismo foi onde o quadro deixou de ser quadro para ser “objeto”.
A partir do momento que começaram a introduzir elementos na pintura, tomaram a forma de bidimensional, onde acrescentavam madeira, pedaços de cadeira,, latas, enfim, qualquer objeto que pudessem integrar a composição. A partir daí não se sabia mais se eram quadros ou esculturas, sendo chamados de objeto.
A fase seguinte do cubismo, muito embora não fossem fases que se seguiram em ordem cronológica, foi o momento onde o tema era estilizado a ponto de chegar a sua essência geométrica restando pouquíssimos resquícios da identidade do objeto, chegando quase a abstração. Era a síntese do objeto que era retratada. Essa fase passou a ser conhecida como “cubismo sintético”.
Outra fase importantíssima que surgiu com o cubismo foi a deformação, pouco entendida por alguns praticantes desavisados. É bom deixar claro que mesmo na deformação tem que haver proporção e que a deformação geralmente é usada para reforçar aspectos expressivos da composição, onde damos como exemplo em “Guernica” onde a deformação é usada para reforçar o caráter expressivo de horror, sofrimentos e dores da guerra. (a deformação na pintura, também usada no “expressionismo” – “Retirantes” de Portinari, onde as deformações dos pés enormes, esquálidos, quase esqueletos humanos, reforçam a crítica social da fome e miséria nordestina.).
Muito bem, quando surgiram todas estas formas de pintura revolucionando séculos de conceitos, artistas do mundo todos foram a Paris, que era o centro cultural, ver e aprender as novas formas. Do Brasil foram Portinari, Di Cavalcanti, Tarsila entre tantos e tantos outros, e esses pintores do mundo todo voltavam para suas origens reinterpretando essa nova forma de pintar e às vezes totalmente dissociados do conceito original, continuavam chamando o que faziam de cubismo, muitas vezes transformavam em uma pintura singular, decorativa, popular e comercial.
Pois bem, como se vê, o momento inicial desta crônica, tentando levar o iniciante a uma nova visão do objeto, nada tem a ver com cubismo que é muito mais complexo e variável.
28-11-2006 - ingres speltri






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Oitava proposta - abstração


Até aqui, todas as propostas tiveram por base a figura. Interpretada, deformada, simplificada, destruída, mas a narração ilustrativa, a descrição figurativa estava presente.
Em 1910, Vassyli Kandinsky demonstrou sua teoria de que na pintura não havia a necessidade de se usar a figura para expressar uma mensagem ou uma emoção. A cor, somente a cor, independente de qualquer outro elemento tinha esse poder. Assim, dentro dessa teoria, mostrou no inicio uma aquarela e mais tarde estudos da transição da figura para sua síntese abstrata.
Qualquer figura, de qualquer natureza, tem sua síntese nas figuras geométricas, na seqüência, essas figuras geométricas configuram uma abstração racional.
Cézanne, considerado o pai da arte moderna, já apregoava com muita sabedoria, no final do séc. XIX:- “olhem a natureza como se fossem volumes geométricos”. Pela lógica, alem de Cézanne de ser o mentor do cubismo, deveria também ser o precursor da síntese abstrata das figuras.
Inicia-se o estudo da abstração tomando-se por base uma figura. Ou se constrói uma figura, uma composição ou toma-se qualquer referencia. A partir da figura ou referencia da figura estabelece as linhas principais da composição e as figuras geométricas que vão surgindo em uma trama, em uma perfeita organização porque é a mesma estrutura da figura sem os detalhes de configuração e identificação.
A abstração organizada através de estudo, planejamento, composta geralmente por figuras geométricas é chamado de abstração racional, conhecida também como abstração concreta.
Outra forma de abstração a ser estudada é a gestual, onde o autor é movido por impulsos emocionais, como um vulcão em erupção e só no final pode-se ter idéia do resultado. Existe sim uma intenção inicial, mas os improvisos se sucedem.
Seria como um boxeador ao subir no ringue, ele vai disposto a liquidar seu adversário. Vai com garra, determinação, com toda certeza de que vai vencer e nocautear o adversário, porem todos os golpes que desfere foram exaustivamente treinados e ensaiados por muitos anos de trabalho e experiência. Não são golpes a esmo, desordenados e aleatórios.
O abstrato gestual também segue esse padrão de comportamento. Adquire-se experiência na pintura, intimidade com os materiais, habilidade em todas as questões da pintura, somente depois dessa fase é que se têm condições de praticar o improviso na pintura, se é que se pretende fazer alguma coisa consciente e com bases sólidas.
É preciso tomar muito cuidado com a pintura abstrata porque ela costuma ser a salvação não só de muitos professores “descuidados”, como também de pintores mal intencionados. Isto porque, qualquer coisa que se faça ou não faça em uma tela, é considerada uma pintura abstrata. Se pegar uma tela e pinta-la de uma só cor, poderá ser chamada de minimal-art. - Se dividir a tela em duas partes ou quatro partes, poderá ser chamado de abstrato geométrico. Se gesticular com um pincel em uma tela com cores aleatórias, principalmente se transparecer gestos violento , poderá ser chamado de expressionismo abstrato. Como também, se adotar o gosto de decoração que cada um tem, e começar a aplicar cores com tinta acrílica (que é a salvação dos abstracionistas) combinando azuis, vermelhos, brancos, um pouco de preto para dar contraste, se não ficar bom, o acrílico seca rápido, começa tudo de novo, e vai tentando, tentando até dar certo algum tipo de efeito de cor; e se não der, começa a esfregar tinta branca deixando a sombra das cores no fundo que aí não tem erro, está pronta mais uma “obra de arte” para integrar o acervo de zilhões que existem por aí, feita por mais um aventureiro de plantão.
É exatamente isso que não deve acontecer. O artista tem que ter auto critica e respeitar seus limites. Todos nós e até os gênios tinham limites. Monet, Van Gog, Matisse, Picasso, enfim, todos, absolutamente todos nós temos limites e devemos respeitá-los como os gênios respeitaram. Recomendo que os iniciantes percebam como os grandes pintores ficaram trabalhando em suas linguagens e não saiam atirando em todos os alvos, nem por curiosidade. Incompetência? Imaginem! Primeiro porque eles não tinham que provar nada a ninguém, segundo porque eles tinham um compromisso ético com suas bases e raízes.
É fácil sair por aí repetindo maneirismos de estilos e técnica de outros pintores e formulas consagrada pelo público e pela critica.
Cada um deverá fazer o que está em sua alçada, em sua competência, dentro de suas bases, para não cair no engodo de uma arte chula, pobre e simplesmente decorativa, ou para parecer “moderninho”, avançado e integrado na contemporaneidade.
Quando o aluno pretende voar alto sem estar emplumado, costumo chama-lo de filhote de tuiuiú. Explico. Tuiuiú é uma ave grande, branca, quase símbolo do pantanal do Mato Grosso. Grupos de aves fazem ninhos nas arvores secas nos alagados onde os jacarés ficam em suas bases. Quando os filhotes mais afoitos, ansiosos, inquietos querem voar, mas ainda não estão emplumados, caem na água e... os jacarés os devoram.
Ao aluno recomendo calma, juízo, sem apoteose mental, humildade, para que não venha a ser um filhote de tuiuiú pretensioso. –






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31-12-2006 - l9, 46h - ingres speltri












A ARTE NÃO EVOLUI

A arte não evolui, e esta afirmação pode parecer contraditória porque não faz parte da cultura social, escolar, religiosa e profissional de todo individuo.
Em algum momento, em outras crônicas já foi dito que existem conceitos de educação e de vida que são errados quando aplicados à arte, que na ocasião referia-se a questão da beleza.
Aborda-se agora outra questão que merece uma reflexão, ou seja, de que a arte não evolui, ela simplesmente muda de fase interpretando as questões de seu tempo. Ou a arte é de seu tempo ou não é de tempo nenhum. Porem, o tempo atual da pintura não é melhor que o tempo anterior e assim sucessivamente. O que evolui são os métodos, as técnicas, os materiais que representam as ferramentas que materializam o impulso criativo.
O computador hoje representa uma “ferramenta” evoluída, do tempo atual, agilizando técnicas e dando conforto de execução, mas, o computador não evoluiu a arte. Com ou sem computador a arte reafirma o momento atual, e o momento atual do mundo não é melhor que o anterior, ou melhor, que todo o passado. Apenas é mais confortável.
Tomemos como exemplo a filosofia. Faz aproximadamente 2.400 anos que os conceitos filosóficos gregos regem o comportamento da Humanidade. Após esses séculos e séculos não era para a filosofia ter evoluído a ponto de fazer os conceitos de Sócrates, Platão, Aristóteles e vamos incluir também o cristianismo, terem “virado água”. Continuam intocáveis e irretocáveis, apenas foram mudando a interpretação de acordo com o momento e a fase.
Fazendo um breve retrospecto do desenvolvimento da pintura através dos tempos, vamos partir de Filippo Brunelleschi (1377-1446) que foi um arquiteto que liderou um grupo de artistas (pintores e escultores), considerado o “pai da perspectiva”, inventou métodos para realizar as construções, principalmente a abóbada da catedral de Florença coroada por um imponente zimbório.
“Consta que ele mediu as ruínas de templos e palácios da antiguidade fazendo esboços de suas formas e ornamentos. Jamais foi sua intenção copiar literalmente esses antigos edifícios. O que Brunelleschi tinha em mente era a criação de um novo processo de construção, em que as formas da arquitetura clássica fossem livremente usadas para criar novos modos de harmonia e beleza”. –(Historia da Arte – E.H.Gombrich)
Note-se que Brunelleschi não evoluiu, adaptou a arquitetura há seu tempo, assim, com a descoberta de novos métodos, mostrou aos artistas os meios matemáticos e o recurso da perspectiva para a solução de problemas, porque até então desconheciam as leis matemáticas pelas quais os objetos parecem diminuir de tamanho quando se afastam de nós. Um dos primeiros pintores a usar esses recursos na pintura foi Masaccio (1401-28). Portanto, vejamos, Masaccio aplicou os recursos de seu tempo a uma pintura que se mostrou inovadora, onde o “novo” não significa evolução. Nem Bruneleschi nem Masaccio anularam seus antecessores, apenas adaptaram e criaram uma arte de acordo com seu tempo. Outro grande pintor da época ficou obcecado pela descoberta da perspectiva de Brunelleschi que, segundo consta sua biografia, passava madrugadas desenhando objetos em “scorso” e criando para si mesmo novos problemas para solucionar, foi Paolo Uccello.
A partir da perspectiva, a pintura entrou em uma nova fase, sem anular ou desvalorizar as anteriores.
Depois vem a fase da realização da harmonia, com os mestres Verrocchio, Leonardo, Michel Ângelo, Rafael, Ticiano, Giorgione entre outros em que constitui o mais famoso período da arte italiana e um dos maiores de todos os tempos. Esse foi o período chamado de Alta Renancença, pois foi tão intenso que poderia se perguntar por que tantos gênios nasceram na mesma época. Não resta a menor dúvida que a pintura tinha chegado ao seu apogeu com esses mestres que mostraram como combinar beleza com harmonia e chegavam a afirmar que tinham superado a arte grega e romana da antiguidade, e julgavam que tudo que a arte podia realizar já estava feito. Com base nessa interpretação totalmente errada, a arte a partir daí (por volta de 1550) a arte entrou em declínio porque os artistas começaram a copiar esses mestres exaustivamente, quer se enquadrassem em seus propósitos ou não. Não entendiam, também, que toda aquela obra tinha também um caráter ilustrativo por ordem da igreja, e passaram a imitar o maneirismo principalmente de Miguel Ângelo, com corpos nus retorcidos em verdadeiros contorcionismo. Esse período decadente da pintura ficou conhecido como “período do maneirismo”.
Em seguida vem uma nova fase da pintura, ainda na Itália que era o centro cultural do mundo, fase esta capitaneada por Michelangelo Caravaggio (1573-1610), o qual não tinha medo de retratar a fealdade e o que ele queria era a verdade tal qual ele via. Pretendia livrar-se de todas as convenções de beleza ideal, e alguns pensavam que o objetivo de Caravaggio era o de chocar o público, porque ele não tinha nenhum respeito por qualquer tipo de beleza ou tradição da pintura. Inclusive sua pintura, sempre tratada em chave baixa, tons graves, sombras profundas, criando um claro/escuro de tal grandeza que influenciou o que viria a ser o barroco de um dos maiores pintores desse tempo que foi Peter Paul Rubens (1577-1640), o espanhol Diego Rodriguez da Silva y Velásquez (1599-1660) que tinha ficado muito impressionado com as descobertas e a maneira de Caravaggio que ele conhecia através de imitadores.
Seguindo ainda na esteira de Caravaggio, vamos encontrar na Holanda um de seus maiores pintores que foi Rembrandt van Rijn (1606-1669).
Dando um salto no tempo, apenas para mostrar algumas fases importantes da pintura que não foram evoluções, mas adaptações de uma época e suas classes dominantes vamos para a França no período de sua revolução em 1789.
Foi um período que os artistas, dentro de um clima romântico, evocavam a arte grega e romana da antiguidade pretendendo reorganizar seus valores. Os principais pintores desse período foram Jacques Louis David (1748-1825) e Jean-Auguste Dominique Ingres (1780-1867), A pintura desse período foi chamada de Neoclássico.
Aqui não vai nenhuma intenção de fazer um retrospecto cronológico do desenvolvimento da pintura, mas, tomar como referencia momentos importantes da pintura e mostrar que em nenhum desses períodos foram considerados como uma evolução, mas atendiam a influencias religiosas, políticas, sociais, modismos, mudanças de rumo determinado pelas classes dominantes. Assim foram surgindo fases que eram classificadas ou denominadas de acordo com os críticos da época.
Note-se que as fases que surgiam ou que ainda surgem no desenvolvimento da pintura, acontecem quando o padrão vigente se esgota e torna-se repetitivo, copiado e exaurido.
Assim, quando as velhas propostas, por mais geniais que possam ser, já tenham se esgotado, dão lugar para novos precursores e novas tendências, o que não significa evolução.
A prova de que a arte sofre influencias de gostos e modismos, citaremos o caso de Caravaggio, que com toda sua importância no desenvolvimento da pintura, influenciando outros gênios, saiu de moda no século XIX, embora esteja recuperando o prestigio e a posição que lhe pertence.
Apenas para citar, de maneira superficial as principais fases da pintura, tomamos o ano de 1800 que enquanto predominava o neoclassismo na França, surgia o Romantismo de Delacroix e Goya já tinha posição destacada na Espanha. Em 1850 surge um dos mais badalados momentos da pintura, era o Impressionismo com seus representante Monet, Cézanne, Gauguin, Van Gogh, Manet, Renoir, Degas, etc.etc. Simultaneamente ao Realismo de Courbet. Em 1880 surge o Pós-Impressionismo, inclusive com uma pintura considerada cientifica de George Seurat.
A partir de 1900, a era contemporânea, chamada de Ruptura na Tradição, quando os pintores assumiram uma liberdade total e irrestrita, sem nenhum compromisso com a realidade, e passaram a fazer o que queriam, como queriam, e do jeito que sabiam, a partir daí houve uma verdadeira avalanche de estilos, tendências, fases, que pululavam simultaneamente pelo mundo todo, o que jamais poderia ser chamado de evolução da pintura. Vamos lá, apenas por curiosidade citar alguns desses movimentos. Entre 1900 a 1920 surgiram o Fauvismo, Expressionismo, Cubismo, Abstração, Futurismo, Suprematismo, Construtivismo, Dadaísmo, entre outros menos significativos.
Entre l920 a 1945 surgiram à escola de Bauhaus, Art Déco, Surrealismo, Arte Concreta, Realismo Mágico, Realismo Social, entre outros de menor importância.
Entre 1945 a 1965 Expressionismo Abstrato, Arte Informal, Neodadá, Art Pop, Arte Perfomatica, Art Op.
De 1965 até hoje: Minimalismo, Arte Conceitual, Instalação, Hiper-realismo, Vídeo-Arte, Neo-Expressionismo, Transvanguarda, Web art, entre outros menos significativos.
Pois bem, jamais, em tempo algum, nenhum desses movimentos poderia ser considerado uma evolução da pintura, ainda mais porque muitos deles nem pintura são. Apenas fases, oportunismos, tendências de momentos, modismos, laboratórios de pesquisa, o que nem se sabe ainda se firmarão como expressão artística.
Ninguém, em juízo perfeito poderia afirmar que a action-painting de Pollock, ou o urinol e a roda de bicicleta de Duchamp chamada de dadaísmo, ou o quadrado preto de Malevich chamado de Suprematismo, entre outros, poderia ser considerado evolução diante de Masaccio, Michelangelo, Caravaggio, Rubens, Rembrandt, Goya, Velásquez, etc.etc.etc...



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Ingres speltri - vinhedo - 15-01-2007











A PINTURA E O PROFISSIONALISMO
Existem muitas atividades que não podem ser desvinculadas do conceito profissional, como por exemplo, ninguém faz um curso de engenharia, advocacia, medicina, etc, para passar o tempo, por lazer, por curiosidade, por laborterapia, extensão cultural, etc. Pode ser que esta regra tenha exceção, mas com certeza são poucas. O que queremos demonstrar é que o sentido de certas atividades implica no desempenho profissional.
No caso das artes em geral, isto não acontece. Infelizmente existe um tabu que permanece até hoje, de que arte (pintura, poesia, música, literatura, etc) não é profissão.
O que contribuiu muito para a péssima imagem dos artistas foi o protótipo exportado de Paris para o resto do mundo, no final do século XIX, onde, invariavelmente a figura do artista era representada por um boêmio, irresponsável, temperamental, aventureiro, pobre e anêmico.
Dentro de uma outra ótica, um tanto quanto estrábica, pressupunha-se que a arte não dava um retorno financeiro para as mínimas condições de sobrevivência, portanto casar com um artista, significava estar fadada a ter uma vida de miséria e privações.
Uma outra ótica que embaça um pouco o conceito profissional de arte é que o artista não desenvolve sua atividade dentro de horários rígidos diários, porém esta sempre desenvolvendo uma atividade mental intensa, com seu corpo inerte, olhando o infinito, em uma aparente atitude de um distante isolamento.
Outro ponto importante a ser abordado é que a pintura, muito mais do que as outras artes, é um campo propício para a fuga de traumas diversos da vida. Quantas donas de casa, sufocadas pelo dia a dia monótono dos afazeres domésticos, onde todo dia é sempre igual: cuidar das crianças, do marido, da alimentação, da limpeza, do cachorro, etc, e “precisam por o nariz para fora para respirar um pouco”, precisam de um tempo para si, onde elas poderão ser alguém. E assim recorrem à pintura.
Quantos casais em crise que precisam de uma atividade alternativa para superar o momento. Recorrem à pintura. Quantas pessoas se sentem inibidas em reuniões sociais por não entenderem nada de pintura ou de bienais, sentindo-se marginalizadas nas conversas. Vão fazer um curso de Artes Plásticas apenas para uma extensão cultural.
E assim se sucedem as causas, motivos, traumas, curiosidades, status, etc, que levam pessoas a procurar a atividade da pintura, como autodidata ou através de um curso.
Um número muito grande de pintores reconhecidos internacionalmente pelo público e pela crítica, tiveram outra profissão e se dedicaram a´pintura como atividade alternativa. Depois de algum tempo, com o reconhecimento e aceitação da condição de pintor, abandonaram a antiga profissão e dedicaram-se somente à arte.
Vamos citar alguns poucos exemplos porque são muitos. Alfredo Volpi era pintor de parede, depois é que se dedicou apenas a pintura de quadros. Pedro Figari, jurista uruguaio, quando se aposentou da advocacia, já por volta dos 60 anos, dedicou-se somente à pintura, tendo o reconhecimento mundial. Os pais de Juan Miró tentaram impedi-lo de ser pintor, por considerar a profissão indigna. Ele insistiu e veio a ser o gênio que é.
E assim, quantos médicos, engenheiros, advogados, publicitários, etc, dedicam-se à pintura como atividade alternativa. Se der certo, melhor do que a outra profissão, porque não adota-la?
Assim, todas estas condições que abordamos atrapalham a afirmação profissional de um pintor, inflacionando o meio artístico com falsos pintores, amadores e mistificadores da arte. Fora isso, qualquer que seja o motivo, será válido para se dedicar à pintura. Basta que cada um assuma sua condição.
Uma série de atividades requer apenas que seus profissionais se ofereçam para executar tarefas. Por exemplo, um médico não executa uma operação cirúrgica e sai vendendo essa operação para o público. Um advogado não executa uma ação judicial e sai oferecendo-a a um suposto mercado jurídico. É assim com engenheiros, arquitetos, etc.
Assim, no caso da pintura, se enquadra no tipo de profissão em que primeiro é preciso preparar um número grande de trabalhos, fazer uma seleção, e depois apresenta-los ao público através de galerias, marchand, exposições individuais ou coletivas, Salões de arte, etc.
Portanto, no caso da venda de produto, o artista plástico tem que produzir antes, e só depois que tiver uma certa maturidade, com um estilo próprio, uma linguagem individual bem definida, e com conteúdo Universal, ele sairá a campo para formar seu público, sua imagem no meio artístico e o próprio mercado estabelece seu preço. Esse processo funciona de maneira muito lenta e vem à custa de muito trabalho, muito estudo, muita observação e muita, mas muita dedicação. Não adianta querer atropelar essa evolução e querer chegar ao amadurecimento num estalar de dedos ou em um passe de mágica. Uma criança é uma criança, por mais que ela se esforce , ela jamais será um adulto. E assim, para se apresentar como um pintor profissional deverá ter as mínimas condições para isso (além de autocrítica).
Como em arte o valor é atribuído, passa a ser um campo fértil para tudo o que se tem visto por aí. Muita coisa extremamente ruim dificultando a avaliação de coisas razoáveis e até boas.
Muitos jovens militantes das artes plásticas com sérias intenções de um profissionalismo muitas vezes por falta de informação, tem como meta apenas a venda de seus trabalhos, ignorando outras grandes possibilidades de canalizar essa atividade. Por exemplo, a atividade de restauração é muito profícua, porém pouca divulgada e pouco conhecida. É fácil imaginar as oportunidades profissionais que esta atividade oferece. É só imaginar a quantidade de obras de toda natureza, danificadas pelo próprio tempo e que precisam de reparos. Igrejas, afrescos, monumentos, painéis, etc, que para serem restaurados, precisam de muito conhecimento histórico, técnico e teórico, conseguidos através de cursos e estágios em ateliês específicos.
Outro exemplo que muitos jovens estudantes de artes plásticas optam temporariamente é o monitoramento de exposições e eventos artísticos, tais como bienais, museus, etc. O magistério também é uma opção alternativa adotada por muitos pintores, porém pouco observada como alternativa principal por muitos jovens candidatos às artes plásticas. Hoje o magistério passa a ser uma das melhores alternativas profissionais dentro das artes plásticas, em virtude da inflação de pintores que existe atualmente no meio artístico, saídos das muitas e muitas escolas e cursos livres de arte que existem hoje, vendendo seus quadros a baixo custo. E a relação passa a ser inversamente proporcional: um número muito elevado de pintores, para um número muito pequeno de bons professores para formá-los.
Critica de Arte também é uma alternativa para o artista plástico, porém com um número de possibilidades muito limitado, devido ao pequeno espaço na mídia. Aliás, para dar uma alfinetada nos críticos, vamos lembrar um ditado que corre o mundo que diz: “todo artista fracassado vira crítico de arte” (ou professor).
Assim, com toda atenção voltada para quem está iniciando nas artes plásticas, procuramos dar uma visão, embora até meio técnica e didática sobre o profissionalismo nas artes plásticas, com suas nuances e alternativas. Desta maneira procuramos ampliar o foco do jovem estudante direcionando-o para onde bem lhe convier e não mais somente para a venda de quadros.
Devemos fazer um registro por oportuno que seja, em toda e qualquer profissão (e não existe no mundo uma profissão mais nobre que outra), os bem preparados, os que sabem, os que têm garra, vontade, determinação e vocação, VENCEM.










A FINALIDADE DA PINTURA
Todo iniciante em pintura deve pensar antes de tudo a que se propõe a pintura. Qual a finalidade, objetivo, para que serve, etc.
É comum algumas pessoas pensarem que a pintura é um complemento da decoração e assim não querendo entender a arte como uma das expressões mais completas da Humanidade, porque a linguagem artística não tem palavras, mas tem expressão pessoal com conteúdo Universal.
Pois bem, a pintura pode também ser um complemento da decoração, porém muito acima disso ela é linguagem, veículo de comunicação, veículo de propaganda, produto mercantil, produto terapêutico e de identificação da personalidade do indivíduo.
A história da pintura começa com os homens das cavernas, quando eles, possivelmente, não tinham uma linguagem escrita, deixavam seu recado ou suas mensagens em forma das pinturas nas cavernas.
Quando o iniciante em pintura começa a entender o alcance dessa manifestação artística, certos aspectos que antes eram importantes passam a ser secundários. Por exemplo, se encararmos a pintura como meio de comunicação de povos antigos, não importa o fator BELEZA, ou seja, não importa a mensagem ser ‘BONITA’, o que importa é a mensagem (comunicação) ser clara e ser recebida. O mesmo caso quando se trata de estudo da personalidade do indivíduo através da pintura e do desenho. Nestes casos, pouco importa o refinamento, a habilidade e o requinte do trabalho, mas sim as pistas para desvendar a personalidade ou as tendências de manifestação do indivíduo, (agressivo, passivo, cerebral, racional, emotivo, criativo, etc). E o que é a pintura senão uma expansão do ego de seu autor?! E o que importam os aspectos estéticos e a beleza dessa manifestação?
Outro aspecto muito importante na pintura é como meio de propaganda. Através dos séculos as classes dominantes usaram a pintura como propaganda de seus interesses ideológicos. Por exemplo,o que é o teto da Capela Sistina senão um grande painel de propaganda da Igreja Católica? A pregação era feita principalmente para gente humilde, portanto analfabeta, por isso tinha que usar um meio de comunicação de massa, representando as questões bíblicas por imagens, figuras, que transmitissem toda a religiosidade, como também toda carga emocional para impressionar os fiéis.Por isso, recorreram à pintura eloqüente e visualmente perfeita, para a “leitura” dos fiéis analfabetos (como uma criança que não sabe ler folheia um livro entretida nas ilustrações).
Na Grécia, no Século V a.c., o famoso século de ouro ou século de Péricles, cultuava-se a perfeição e a beleza (principalmente a física) e as propagavam através da arte (principalmente a escultura).
Napoleão usou a pintura neoclássica para fazer propaganda de sua imagem e adotando-a como a pintura oficial da França, incentivando a sua popularização através das “academias”.
Hitler condenou a arte moderna que surgia no começo de século XX como “arte degenerada”, pois não servia de propaganda para uma “raça pura e superior”.
Já na guerra fria iniciada em meados dos anos 40, entre Rússia e EUA, a pintura serviu de propaganda para essas duas potências.
A Rússia defendia a arte racional do cubismo e a sua seqüência na arte concreta, tanto assim que trouxeram para suas fileiras nada mais, nada menos que Picasso.
Os Estados Unidos por sua vez, país jovem, democrata, liberal, vencedor da II guerra, país ideal para se desenvolver uma nova vida e novas idéias, adotou a arte emocional, através do abstrato expressionista, tendo à frente J. Pollock e Willem de Kooning. Um dos “garotos propaganda” desse movimento foi Nelson Rockfeller que percorreu o mundo, inclusive o Brasil, onde estimulou a fundação de Museus (MASP) e eventos artísticos.
Como se pode constatar, com esses pequenos exemplos, que a pintura foi um elemento forte e importante na propaganda das classes dominantes.Hoje, com o desenvolvimento de todos os segmentos da mídia, a pintura já não desempenha esse papel, ao contrário, a mídia junto com um forte esquema de marketing, usa a pintura para grandes e mega eventos com exposições “caça níquel”.
Após esgotarmos todas as finalidades da pintura quer seja como veículo de propaganda das classes dominantes, seja como produto mercadológico, status, como laborterapia, psicoterapia, passatempo, curiosidade, auto-afirmação, extensão cultural, complemento decorativo, demonstração de habilidade, etc., etc., enfim, após esgotar todas essas finalidades da pintura, resta a principal e mais importante que é a do indivíduo encontrar mais uma linguagem para sua expressão, descobrindo seus signos e valores de uma maneira estritamente pessoal, através de um estilo, porém, com conteúdo Universal. É o que comumente se chama de talento.
UM PEQUENO HISTÓRICO DA PINTURA
Até um determinado momento histórico, o qual os historiadores chamam de Ruptura na Tradição, os pintores eram verdadeiros empregados da sociedade vigente e das classes dominantes vendendo seus serviços a baixo custo para o registro de fatos, coisas e pessoas.
Portanto os pintores não podiam fazer o que queriam, mas pura e tão somente o que mandavam, e assim nesta função tinham que ter HABILIDADE para captar o mundo visível.Nesse período a habilidade era mais importante do que a criatividade.
Como não havia máquina fotográfica, os pintores eram requisitados para registrar a imagem do rei, do papa, da rainha, das batalhas, enfim de fatos, coisas e pessoas importantes, portanto tinham que ser fiéis à realidade visual (imaginem Picasso pintando o retrato do rei). Portanto os pintores eram os responsáveis pelo registro visual de fatos e coisas.
Vamos encontrar um exemplo dessa função dos pintores aqui no Brasil com D. Pedro II. Ele trouxe para o Brasil muitos pintores holandeses, italianos, franceses.O que vieram esses pintores fazer nesta selva em meados do Séc. XIX? Com certeza não vieram fazer turismo nem tampouco pintar quadros para decorar a casa de D.Pedro e sua corte (se fosse para isso trariam os quadros da Europa).Vieram, sim, documentar a fauna, a flora, a etnia, os costumes, desta nova terra.
Muitos já viram em salas de consultórios e escritórios gravuras de Debret e Rugendas ilustrando esses temas. Debret e Rugendas não fizeram esses trabalhos para enfeitar paredes, mas sim para documentar os temas que mencionamos acima.
Vale aqui mencionar que esta necessidade de captar o mundo visível através da habilidade durante esse período que foi até o fim do século XIX, inibiu muitos pintores a desenvolver seu talento através da criatividade e não da habilidade.
Quando ocorreu a chamada Ruptura na Tradição, onde fatos importantes ocorreram em todos os segmentos da humanidade, mudando radicalmente o pensamento, a vida e o conceito de tudo que existia, como veremos no capítulo “Ruptura na Tradição”. Todas as artes, como também a pintura passou a ter um novo conceito onde o pintor interpretava o tema segundo seu impulso pessoal, fazendo o que queria, como sabia e do jeito que queria, respeitando os padrões da composição formal, tonal e cromática, da estética, do equilíbrio compositivo e principalmente a comunicação (da sua linguagem visual).
RUPTURA NA TRADIÇAO
O mundo mal teve tempo de assimilar de imediato a Revolução Industrial e Cultural entre Séc. XIX e Séc. XX, abalado pelas duas grandes Guerras Mundiais que terminaram praticamente em 1945.
Se bem que, ironicamente em épocas de guerra se verifica evolução de diversos ramos de atividade. Evolução tecnológica em máquinas, equipamentos, aviação, armas, medicamentos, alimentos concentrados, etc. Segundo dizem, o motor Volkswagen foi inventado pela necessidade de um motor refrigerado a ar para os tanques de batalha no deserto.
Ainda no início do século XX o mundo estava estupefato com Albert Einstein, Freud, Stravinski, James Joyce, Picasso, Kandinski e muitos outros precursores.
Foram tantas as invenções e descobertas, abolindo sistemas arcaicos vigentes, surgindo o que passou a ser chamado “Ruptura na Tradição incluindo a Revolução Industrial”.
Rompeu-se com quase todo “modus vivendi” para se assumir uma nova postura diante de uma nova era. Quem ia acender uma lamparina a óleo ou a gás, se tinham inventado a luz elétrica ? Quem iria andar a cavalo, charrete, diligência (tração animal) se já estavam fabricando automóveis (tração mecânica)? Quem iria acender o fogo a lenha com todos os seus inconvenientes se já havia o fogão a gás? Etc., etc., etc... E assim a tradição foi se rompendo, dando lugar para a evolução.
Todos os conceitos tradicionais em todos os ramos de atividade do mundo foram abandonados por novos conceitos arrojados, dinâmicos e práticos.Quem iria considerar a alma segundo os cânones da Igreja depois que Freud publicou o”Livro dos Sonhos”? Todo conceito de literatura foi abalado com a publicação de “Ulisses” de James Joyce. Os enunciados de Newton foram reformulados depois que Albert Einstein mostrou a Teoria da Relatividade.A partir daí o mundo não era mais o mesmo. O átomo não era mais a menor partícula da matéria. O mundo entrou na era atômica.
Como é que as Artes Plásticas acompanharam esse avanço tecnológico? Poderíamos considerar o mundo em três modalidades: Ciência, Arte e Religião.
Pois bem, a Ciência é que inventa e descobre coisas, a Política administra e as Artes registram. Assim, os artistas em todas as suas modalidades não são pessoas que estão à frente de seu tempo como se costuma dizer. São pessoas que estão “antenadas” com tudo que está acontecendo nas atividades de ponta e registrando através de sua arte. E assim as artes em geral acompanham e registram as evoluções.
Quem poderia imaginar até o inicio do Séc. XX uma música sem ritmo e sem melodia? Sim, a base fundamental da música era o ritmo e a melodia e aí Stravinski nos mostra “Sagração da Primavera”, uma música sem um ritmo dominante e sem uma linha melódica tradicional e cheia de dissonâncias. Causou um espanto no público e na crítica, que aos poucos, foram assimilando os novos padrões.
Quando Picasso mostrou “Mulheres d’Avignon”, o mundo ficou de início assustado, porém os mais “antenados” perceberam que ali estava a nova Arte,onde o artista tinha total liberdade para criar. Não tinha nenhum compromisso com a realidade. O objeto ou o modelo, na pintura, não tinha nenhuma importância. Ele era “destruído” para ser interpretado em partes ou no todo em uma composição, sem compromisso com o mundo visível, sem compromisso com a perspectiva e com a luz e sombra. A partir daí o importante era a composição e não o modelo. O tema era um mero pretexto de expressão.
Essa nova arte que Braque e Picasso mostravam em 1907 estava sedimentada no “saber”. No cubismo, o pintor pintava o que sabia daquilo que ele via. Não respeitava mais a lógica, o real, a luz e a perspectiva.
O artista não estava mais preso ao “visual”, à realidade. O artista fazia o que queria, do jeito que queria e como sabia. Aí muita gente pensou que a arte tinha virado bagunça. Nada disso. O artista fazia o que queria dentro de uma liberdade “vigiada”. Apesar de tudo, a obra tinha que ter composição, equilíbrio, estética, linguagem universal, estilo pessoal e acima de tudo COMUNICAÇÃO. Às vezes pode ter tudo isso e não ser uma grande obra e às vezes apenas um desses elementos poderá definir uma obra prima.
Toda a evolução surgida no início do século XX na pintura, quer seja na composição formal, tonal ou cromática, já estilizando ou deformando o modelo, porém ainda tudo em cima da narrativa figurativa. Até que em 1910 surgiu Vassili Kandinsky e mostrou que não precisava mais da figura, da ilustração, para se fazer um quadro. A COR era mais do que suficiente para comunicar, e assim surgiu a abstração.
PRINCIPAIS FATOS QUE MARCARAM A TRANSIÇÃO DO SEC.XIX PARA O SEC.XX - A CHAMADA RUPTURA NA TRADIÇÃO

1900 - Freud publica o livro “Interpretações dos Sonhos”.
1901 - Guglielmo Marconi inventa o rádio.
1902 - Debussy mostra “Pelléas el Melisande”
- Enrico Caruso faz a primeira gravação de uma música.
1903 - Primeira viagem de carro de S. Francisco a New York, levou 52 dias.
1905 - Movimento Expressionista Alemão ( grupo Die Brucke).
- Movimento Fauvista (França) – Salão de outono
1906 - Santos Dumont voa sobre Paris no avião 14 Bis.
1907 - Picasso mostra “Les Demoiselles D’Avignon”. Surge o Cubismo.
- Primeiras fotos coloridas.
1910 - Kandinsky – sua primeira aquarela abstrata.
1913 - Stravinski apresenta “Sagração da Primavera“.
- Duchamp – a Roda da Bicicleta e o Mictório.
- Mondrian – suas primeiras “Composições”.
1914 - Primeira Guerra Mundial.
1915 - Albert Einstein - Teoria da relatividade.
- Movimento Dada
- Kafka – “A Metamorfose”.
1918 - Fim da Primeira Guerra Mundial.
1919 - Gropius funda a Bauhaus
1922 - James Joyce – “Ulisses”.
1926 - A televisão é inventada.
1928 - Alexandre Fleming descobre a penicilina.
ARTE E COMPOSIÇÃO

O que é arte e o que é composição?Entre muitas definições, eu fico com a mais simples e mais representativa. Arte é maneira de se comunicar através de alguma linguagem.
Assim como as palavras têm um significado, por exemplo, se dissermos a palavra casa, imediatamente identificamos seu significado.Na arte, na pintura, existem signos, símbolos, valores que representam a expressão de seu autor. É seu vocabulário. Para tanto, o aluno vai desenvolver uma didática e exercitar conceitos e teorias para ter o domínio técnico e chegar a sua expressão própria, com o seu vocabulário artístico e com uma linguagem Universal.
Antigamente procuravam definir arte como sendo a reunião de elementos mantendo entre si uma relação lógica e ordenada. Quando eu estudava música/violino (em 1950 – tinha 10 anos), era ensinado que música era uma reunião de sons mantendo entre si uma relação lógica e ordenada (e nesse tempo Bella Bartock já existia), e que este enunciado aplicava-se a todas as artes, por exemplo:
Escultura: reunião de formas, mantendo.....
Poesia: uma reunião de palavras mantendo ...
Pintura: uma reunião de cores ...... , e assim por diante.
Hoje mudaram-se os conceitos. Hoje esse conceito é muito discutível e não mais aceito. Arte continua sendo uma reunião de elementos, mas não precisa necessariamente manter uma relação lógica e ordenada entre eles. O autor pode pretender mostrar um caos, um desequilíbrio e a falta de uma ordem lógica. Hoje podemos ver que é intencional, para se atingir algum resultado na comunicação, a falta de relação lógica e ordenada entre os elementos.
Esta prática dos alunos aprenderem a reunir os elementos é que se dá o nome de compor.E vai aprender técnicas para desenvolver a composição e no caso específico da pintura ele vai aprender as três modalidades básicas que são, composição FORMAL – que trata da forma,
Composição TONAL-que trata dos claros e escuros, e a composição CROMÁTICA-que dá colorido à composição.
Vale a pena lembrar que a mudança de conceito quanto à relação lógica e ordenada, que me foi ensinada em 1951, vejam bem, a Ruptura na Tradição ocorreu por volta de 1900, demorou mais de 50 anos para se difundir e penetrar em todas as camadas da sociedade e até na matéria escolar.
Enquanto em 1907 a arte já tinha deixado de ter uma relação lógica e ordenada, com o surgimento do Cubismo de Picasso, 50 anos depois, esse conceito ainda não tinha sido assimilado, tal a lentidão de informação que havia no mundo.
Vale a pena voltar ao início deste capítulo e registrar que desde que nascemos somos envolvidos através do convívio familiar, social, profissional e até mesmo religioso, com determinados conceitos errados sob certa ótica. Aprendemos que arte é relativo à beleza, o bem feito, o bonito. E junto ao conceito de beleza acrescenta-se o culto à “habilidade”. É aí que trava a cabeça de muitos que não acompanharam a evolução dos conceitos do mundo atual.
É aí que está o erro, porque depois que o pintor deixou de ser um empregado da sociedade, onde era obrigado a registrar fatos e coisas do mundo visível, pois não havia máquina fotográfica, até aí se confundia pintura com o belo, representação do real e habilidade técnica.Para ser pintor nessa época, tinha que ter a habilidade do desenho e saber captar o que estava vendo e passar para a tela.
Hoje, felizmente, com a evolução e rompimento dessa tradição, arte passou a ser instrumento de linguagem, de expressão e comunicação, através de signos, sinais e valores de seu autor.


RELAÇÃO ENTRE O “VER E O SABER” COM O CUBISMO

Pintar o que se sabe daquilo que se vê ou se imagina, é uma prática adotada pelos pintores contemporâneos que se afastam do realismo, sem nenhum compromisso com a forma estabelecida pelo mundo visível, criando uma interpretação pessoal, em que o tema não tem mais nenhuma importância, onde é apenas lembrado por fragmentos ou resquícios para compor o equilíbrio da composição formal.
A liberdade da interpretação do objeto tem um limite, onde ele (objeto) tem que aparecer em partes que o identifiquem. Isto quer dizer que o objeto tem que aparecer dentro de uma nova visão, diferente de sua realidade, porém sem perder a identidade.
Existem diversas maneiras de se praticar essa nova visão do tema, porém, antes é preciso lembrar que este conceito só se presta para o objetivo de privilegiar a forma, o volume, a matéria, o tridimensional, abandonando neste início de exercício o uso de cores ou qualquer tipo de expressão, porque esta forma de pintar está direcionada para a forma, massa, matéria se assemelhando quase como um projeto arquitetônico.
Este é apenas o início, ou ponto de partida para se entender e começar a desenvolver uma nova modalidade de arte, sem procurar associar com outras formas de conceito ou estilos de pintura que apenas viriam conturbar a mente do iniciante que não teria discernimento ou base de conhecimento para distinguir as diferenças que existem entre as maneiras de ver e as técnicas que foram adotadas através do desenvolvimento da pintura. O iniciante não deve insistir em associar esta prática com algum estilo de pintura existente como veremos adiante.
Começando a “ver” o objeto de maneira diferente do convencional, já estaríamos rompendo com uma tradição e uma comodidade a qual nos acomodamos em nossa vida social, mas a pintura permite outras formas de comportamento.
Vamos abordar algumas formas do “ver” diferente. Por exemplo, quando olhamos um relógio, estamos vendo apenas o mostrador de um relógio, ou seja, não estamos vendo todo o relógio que consiste da pulseira, do verso do relógio, e principalmente da parte interna composta por uma grande quantidade de peças que compõe sua máquina.
Portanto por que não pintar um relógio de dentro para fora, pintando suas peças, sua máquina, seus componentes? Esta atitude contraria a ordem estabelecida pelos valores sociais que carregamos desde que nascemos e que compõe a educação que recebemos. É aí que a pintura contemporânea entra, quebrando os paradigmas e valores sociais enraizados em nossa mente, colocando o mundo visível de maneira irreverente, criativa, criando uma nova concepção de forma, estabelecendo uma nova visão livre, principalmente livre das convenções formais e sem nenhum compromisso com a realidade, deixando o pintor (criador) à vontade para fazer o que quiser, como quiser, do jeito que sabe, criando uma interpretação de acordo com seus valores.
Parece que agindo assim a arte seria uma coisa incoerente, inverossímil ou absurda.
Nada disso, porque o artista está à vontade, porém seguindo uma composição formal, tonal, cromática, equilíbrio, estética, estilo, técnica, comunicação e conteúdo Universal.
Faça o que quiser, como quiser e do jeito que quiser, colocando tudo isso no trabalho.
Pois bem, esta é uma das maneiras de ter uma nova visão de um tema, ou seja, olhando por dentro. Existem outras maneiras de ver, como por exemplo, a visão simultânea, em que não se olha para a forma externa do objeto, mas sim se faz painel de componentes desse objeto que leva a imaginação a identificá-lo. Seria o caso de apanharmos um celular e fazer o que sabemos de um celular. Sabemos que o celular tem teclas, números, letras, símbolos, principalmente símbolos que o identificam.
Outra forma de ver o tema seria desarticular os elementos da composição provocando um tipo de ilusão de ótica. Por exemplo, garrafa, bule, copo e fruta. Se desenharmos tudo isso simultaneamente, um elemento em cima do outro de maneira repetitiva, com criatividade, vamos criar ema desarticulação desses elementos, porém sem perder a identificação de que nessa aparente confusão existe bule, garrafa, copo e fruta.
Vejamos que este é o primeiro passo para romper com uma tradição visual. Demos três maneiras e poderão existir outras tantas, e tudo isto nada tem a ver com estilos de pinturas e muito menos nada tem a ver com cubismo.
Por mais estranho que possa parecer, isto não tem nada a ver com cubismo, mas o cubismo está contido também nesse conceito. Para usar figura de retórica, diríamos que uma maçã nada tem a ver com um bolo, mas o bolo pode ser de maçã.
Se fossemos associar a nova maneira de ver com cubismo, teríamos que explicar o cubismo, que após sua criação, foi desenvolvido em diversas fases, conceitos e interpretações que para desenvolvê-lo e exercitá-lo teria que haver um curso especialmente para este fim.
Porém vamos lembrar algumas fases do cubismo para que o iniciante tenha certeza de não associá-lo com a prática inicial, porque ele (cubismo) se desdobra em diversas modalidades.
Vamos começar a entender o nome “cubismo” que foi dado despretensiosamente por um crítico e veio a confundir os iniciantes em artes. A partir desse título, os iniciantes pensam que é uma pintura feita com cubinhos e à medida que toma conhecimento da pintura cubista, fica sem entender nada. Acontece que o nome está relacionado à maneira geometrizada com que é apresentado o tema, predominando uma estilização em figuras geométricas.
O primeiro momento cubista, entre tantos outros que se seguiram, consistiu na apresentação de um quadro “Mulheres D’Avignon”, por volta de 1907, cuja composição rompeu toda tradição secular da pintura, principalmente em sua espinha dorsal que sempre foi a perspectiva e luz e sombra e o tema não tinha mais importância, mas sim o todo da composição sem nenhum compromisso com a realidade. O quadro era quase uma “anotação” do tema. Era uma análise das formas em sua essência em harmonia de um conjunto com positivo. Essa fase ficou conhecida como “cubismo analítico”.
Depois desta fase que foi muito rápida, surgiu uma nova fase onde outro rompimento com a tradição pictórica, George Braque colou em seus quadros cartas de baralho, pedaços de jornal, papel de parede, etc. Esta atitude foi uma verdadeira revolução para a época, onde um quadro era feito com elementos estranhos à pintura. Esta forma de fazer pintura abriu uma tremenda possibilidade de novos rumos como a fase seguinte.
A fase seguinte do cubismo foi onde o quadro deixou de ser quadro para ser “objeto”. A partir do momento que começaram a introduzir objetos na pintura, os elementos tomaram a forma bidimensional, onde acrescentavam madeira, pedaços de cadeira, latas, enfim, qualquer objeto que pudesse integrar a composição. A partir daí não se sabia mais se eram quadros ou esculturas, sendo chamados de objeto.
A fase seguinte do cubismo, muito embora não fossem fases que se seguiram em ordem cronológica, foi o momento onde o tema era estilizado a ponto de chegar a sua essência geométrica restando pouquíssimos resquícios da identidade do objeto, chegando quase a abstração. Era a síntese do objeto que era retratada. Essa fase passou a ser conhecida como “cubismo sintético”.
Outra fase importantíssima que surgiu com o cubismo foi a deformação, pouco entendida por alguns praticantes desavisados. É bom deixar claro que mesmo na deformação tem que haver (é necessário) proporção e que a deformação geralmente é usada para reforçar aspectos expressivos da composição, onde damos exemplo em “Guernica” onde a deformação é usada para reforçar o caráter expressivo de horror, sofrimento e dores da guerra. (A deformação na pintura, também é usada no “expressionismo” – “Retirantes” de Portinari, onde a deformação dos pés enormes, esquálidos, quase esqueletos humanos, reforça a crítica social da fome e miséria nordestina.).
Muito bem, quando surgiram todas estas formas de pintura revolucionando séculos de conceitos, artistas do mundo todo foram a Paris, que era o centro cultural, ver e aprender as novas formas. Do Brasil foram Portinari, Di Cavalcanti, Tarsila entre tantos e tantos outros, e esses pintores do mundo todo voltaram para suas origens reinterpretando essa nova forma de pintar e às vezes totalmente dissociados do conceito original, porém ainda chamando o que faziam de cubismo, muitas vezes transformando em uma pintura singular, decorativa, popular e comercial.
Pois bem, como se vê, o momento inicial desta crônica, tentando levar o iniciante a uma nova visão do objeto, nada tem a ver com cubismo que é muito mais complexo e variável de acordo com seu autor.
28/11/2006 – Ingres Speltri.

















PERGUNTAS SEM RESPOSTA
(este comentário é escrito na primeira pessoa, tal e qual uma palestra de abertura de aula)

Durante o ano letivo, em que os alunos estão sob minha responsabilidade, todos , absolutamente todos , estão amparados com uma orientação tanto quanto a didática, quanto a teoria, quanto a técnica, quanto ao conceito, quanto ao comportamento , quanto ao pensamento linear e paralelo que um candidato a artista plástico deve ter.- até os maneirismos e cacoetes da pintura.- portanto, ninguém fica sem um comentário positivo ou negativo quanto sua postura, método de trabalho e resultados.- Ou seja, não ficam sem respostas. Mas, como as cabecinhas ainda são pequenas para toda a complexidade das questões artísticas , não sabem o que perguntar ou ficam inseguros quanto as duvidas, igual a uma criança que tem limites de entendimento quanto ao mundo e a vida e isto vai evoluindo lentamente com seu crescimento e participação e interação ao mundo e a vida.- A prova desse distanciamento entre o iniciante e as questões técnicas,teóricas, históricas e conceituais da pintura, está no fato de que invariavelmente inicio a aula perguntando a classe toda se alguém tem alguma dúvida, alguma pergunta, algum esclarecimento sobre o que já foi dado ou qualquer assunto de artes plásticas e raramente alguém tem alguma pergunta a fazer.- É lógico de que isto não é regra mas quase que o inverso disso é exceção.- Ao invés disso, de perguntar alguma coisa que está diante de seu dia a dia, que está a altura de um passo, querem mostrar intelectualidade, explicações que não existem fora do âmbito da técnica, e entender axiomas que tem que ser aceitos sem comprovação.-
Seria a mesma coisa uma criança de 5 ou 7 anos entender a crise econômica mundial, questões sociais, éticas e morais.- Ela ainda está sendo educada e preparada para isso.-
Porem esse mesmo aluno vê ano após ano a mídia falar em semana de arte de 22, Bienais, Portinari, Di Cavalcanti, Volpi, ouve falar de técnica de óleo, gravura, afresco, arte concreta, minimal arte, etc.etc.etc.etc. – E nunca tem a menor curiosidade de saber alguma coisa a respeito. O que é isto? O porque daquilo? Qual a origem e conceito disto? Qual o pintor brasileiro de importância internacional? Será que tem?
Ou seja, todos esses nomes de pintores poderiam ser a escalação do time do Corinthians que para eles é a mesma coisa.- Isto porque uma criança não tem alcance intelectual para tais entendimentos e o iniciante é uma criança em arte.- Porem, alguns mais atrevidos querem burlar a vigilância do ensinamento, acelerar as etapas e chegar lá na frente antes do tempo de maturação necessária . Concluem um desanimo porque não estão preparados para enfrentar os problemas adiante, e encontrar ou entender as respostas que procuram.-
É fácil comprovar isto quando o aluno vê no final do curso como teve imensa dificuldade de pintar uma garrafa no inicio do curso e no final interpretando reinventando essa garrafa de maneira infinitamente complexa, mas com segurança e prazer.- exatamente ao contrario do inicio do curso, em que assim se comprova o grande avanço de entendimento, compreensão, técnico, teórico.- se isto acontece em apenas sete meses o que mais o aluno poderá querer ? A evolução em arte é muito lenta.- Não se evolui assim tão rápido desta maneira.- É só ver a biografia de todos ao pintores e ver que eles atingiram a maturidade já bem adultos, depois de muita pratica , muito trabalho, pesquisas, leituras, etc.-
Em arte não se pula etapas , mas, sim se dá um passo de cada vez, com paciência, humildade, principalmente humildade, com confiança em si mesmo , com talento, vocação, prazer, determinação.-É fácil comprovar esse comportamento porque eles são próprios dos melhores alunos da classe e que apresentam os melhores resultados.- Trabalham na surdina de seu cavalete, pouco falam, pouco discutem, pouco duvidam, .- Trabalham sem retórica, sem fanfarra, sem discurso, sem aplauso, sem contestação.- Pacientemente vão construindo sua linguagem, seu estilo, seu conteúdo universal e sua arte;.-
Deixei claro, em altos brados, de que o aluno não iria pintar neste segundo ano mas, pura e tão somente praticar exercícios que levariam o aluno a ter uma base sólida para chegar as artes plásticas.-
Muito bem, a comunicação entre professor e aluno só se completa quando ela é recebida, e a medida em que o aluno vai recebendo as informações ele vai transformando-as em trabalhos visuais, e aí fecha o ciclo do entendimento.-
Deve-se considerar que a comunicação entre aluno, enquanto aprendiz, para o espectador ou público é sempre muito insegura porque as convicções ainda não estão totalmente cristalizadas, decantadas, em sua personalidade de artista, ainda mais que o aluno não assume a condição de ser artista.-
Se o aluno não consegue chegar próximo ao conceito estabelecido é porque ainda não entendeu, e essa falta de entendimento é decorrente de diversas razões onde cada caso é um caso.- Por exemplo, em determinadas circunstancias o aluno não consegue um resultado razoável do conceito em exercício, por falta de mais tempo de prática, de mais trabalho.- Outras vezes a falta de resultado é decorrente da falta de atenção e memorização das explicações dadas, e fatalmente, se não seguir a orientação o resultado será falho, medíocre.- Outras tantas vezes a formação sócio econômica do aluno não favorece seu desenvolvimento mental tanto quanto sua etnia e origem como por exemplo os indivíduos de origem oriental tem uma capacidade fantástica de meditação e humildade, tanto quanto dizem ( não eu ) que os alemães são os portugueses que aprenderam matemática.- É só analisar a tendência da pintura de cada povo , antes da famigerada globalização, que se percebe essa tendência.- Portanto até a etnia concorre para o resultado em arte.-
Na maioria das vezes o aluno esta travado com os conceitos de moral, ética, beleza, comportamento social, religioso, profissional que funcionam como uma camisa de força no iniciante em pintura que não consegue se desvincular dessas praticas exigidas no mundo fora da arte e deixam o aluno sem iniciativa, sem ousadia, sem liberdade e sem criatividade.- Por isso o inicio do estudo e pratica da pintura impõe ao aluno um verdadeiro dilema de qual atitude tomar: sigo os padrões da família e sociedade ou sigo a liberdade total e irrestrita que a arte me oferece?
Para quem deve o aluno perguntar sobre o que fazer? Para a família e sociedade? Para si mesmo? Ou para o psiquiatra?.- Vejamos como existe um paradoxo nesta atitude de muitos alunos que precisam da opinião de alguém para dizer se o que fez está bom se esse alguém não conhece arte, não tem conhecimentos técnicos e teóricos de arte ( principalmente familiares, amigos e colegas de trabalho).- Pois bem, se o aluno na tem conhecimentos técnicos e teóricos para tirar suas próprias conclusões, deverá continuar seus estudos e pesquisas até adquiri-los, e se nunca conseguir chegar a esse ponto de discernimento é porque está na atividade errada, não tem talento para a pintura. Poderá ter para outras modalidades das artes plásticas, mas não pintura.
É amplamente divulgado de que a arte é uma extensão de seu autor e se o autor está indeciso com o que fez, precisa que alguém lhe diga se está bom é porque está mentalmente confuso, inseguro, não conhece a si mesmo.- Quando a situação é esta, é porque o aluno não está pronto, ainda não aprendeu o suficiente, precisa ter mais tempo, anos, muitos anos de experiência, trabalho, para chegar a maturidade. Porem se a insegurança do aluno e a ansiedade são muito grande e ele não consegue superar, certamente ele precisa de algum outro tipo de profissional para resolver seu problema, um simples professor de pintura é pouco.-
Nenhum curso de pintura do mundo forma um profissional completo e pronto em três ,ou cinco anos, muito embora nesse período já seja um pintor novato, inexperiente e inseguro.- E o curso de piano ou violino que são nove anos de Conservatório Musical e no fim desse tempo o aluno sai ainda sem tocar um concerto.- Mas o aluno de musica parece que é mais inteligente que um aluno de pintura porque aceita isso pacientemente, sem revolta sem exigir perguntas, sem exigir soluções .- Mas, no caso da pintura , quem é a pior de todas as artes para se ensinar, na primeira aula o aluno senta diante do cavalete e no final do exercício exige resultados, não se conforma com o que fez, desanima, contesta, diz que o professor não presta, a didática a ruim a escola é fraca, e nunca assume a sua própria realidade de ansiedade, incompreensão e imaturidade.-
Mas é o próprio talento e criatividade de cada iniciante atuam como vitaminas e estimuladores para vencer os obstáculos , superar as dificuldades e dúvidas e seguir o caminho alegres e satisfeitos com a nova linguagem que adotaram.- Porem, para quem acha isso um fardo pesado, cheio de dúvidas, incertezas, sem respostas para muitas perguntas, inseguros, esperando que tenha eternamente alguém para ajudá-los isso é a prova de que falta aquela turbina avassaladora que rompe todas as dúvidas e explode como um vulcão , que é o que chamamos de talento, criatividade e vocação.-
Alguns dizem que vocação é a voz interior e quem não ouve sua voz interior não a possui.-Ingres speltri - 01-11-2008.
Outra questão importantíssima e que o aluno dá uma verdadeira trombada com sua natural imaturidade e ignorância é como quantificar e dimensionar a arte de um quadro.- Não se mede a quantidade de arte em nenhuma modalidade.- Não se quantifica.- Nem por metro, nem por quilo nem por medida nenhuma.- Quanto tem de arte um quadro de Da Vinci? De Picasso? De Van Gogh? E de todos os outros gênios da pintura.- Quem foi o melhor? A. Dürer que pintava pêlo por pêlo da lebre, Rembrant que esboçava um elefante ou Picasso que fazia um garrancho de um cachorro ou galo geometrizado? .-Nenhum é melhor que o outro.- Todos são iguais em talento e criatividade, conteúdo , estilo , técnica e etc.- Mas a lebre de Dürer não é mais bonita e melhor desenhada que os outros? Pode ser mas a habilidade na arte não tem o mesmo valor que a criatividade. O iniciante em pintura tem condições de entender isso? Não sou eu quem afirma isso.- São os críticos e historiadores tais como Gombrich no seu livro Historia da Arte o qual recomendo aos meus alunos.-.- A arte pode ser dividida em duas partes, ou seja , a parte técnica e a parte comunicativa, expressiva.-. A parte técnica, esta sim pode ser medida, aferida, quantificada porque compreende toda as questões que concorrem para a elaboração do quadro quer seja o tipo de tinta, acrílica, óleo, encáustica, pastel, etc. .- o suporte, tela, papel, madeira, parede etc.- o tipo de ferramenta para aplicar a tinta tipo pincel, espátula ou outro meio qualquer.- a maneira como o autor organizou os elementos da composição, se é centralizado, descentralizado, a distribuição dos claros e escuros, a organização das cores em harmonia ou em contraste.- o estilo do autor, o tipo de pincelada, a condição racional ou gestual do trabalho, enfim todas estas são questões técnicas que entram na elaboração de um trabalho visual ou quadro.- Todas elas poderão ser avaliadas, medidas, comparadas, aferidas, O QUE POREM NÃO GARANTEM A QUALIDADE DA OBRA.- Por mais paradoxal que possa ser, todas essas questões técnicas poderão estar corretas e não resultar em um quadro de boa qualidade .- apenas um quadro tecnicamente bem feito .- Quem diz isto é nada mais nada menos que Alfred Baar –diretor do MOMA de NY..- Igual aqueles quadro em que se olha, se reconhece a qualidade técnica, mas não transmite nada.- tem uma leitura fácil e não prende a atenção e não passa nenhuma comunicação de espécie nenhuma.- Quem diz isto é nada mais nada menos que Alfred Baar –diretor do MOMA de NY.-
A outra parte é a questão mais complicada para ser compreendida por iniciantes,quem é a questão da avaliação do conteúdo da obra. O poder de comunicação, a linguagem, os valores abstratos , expressivos e até filosóficos que a obra contem.- Estas condições não podem ser medidas ou aferidas e só são perceptíveis por aqueles que desenvolveram e praticaram aptidões para esse fim, ou tem uma sensibilidade desvinculada de complexos , traumas e valores comparados a sociedade ou ao mundo visível.-ou seja, só entendem , avaliam e reconhecem aquilo que tem um correspondente no mundo visível ou que os valores sociais impõe como verdadeiros , do tipo : beleza, estética , bem feito, habilidade,etc.- Mas o iniciante exige uma resposta e uma prova do porque Picasso, Kandinsky ou outros artistas contemporâneos tem de qualidade.- Exigem uma resposta como se fosse uma receita de bolo, porque para a arte contemporânea eles não tem uma comparação no mundo visível e aí ficam perdidos sem perceber que hoje o artista não compete com a natureza como Leonardo, Rembrandt, Michelangelo, e no caso destes realistas qualquer imbecil sabe avaliar a qualidade técnica,.- porem avaliam apenas isso e não mais do que isso porque não sabem diferenciar o conteúdo ideológica de cada um deles.- As questões cientificas se desenvolvem com leis e objeto próprio, portanto podem ser medidas, quantificadas.- Porem as questões filosóficas que são muito abrangentes (psicologia, religião, sentimento, etc.etc.) só se comunicam quando se completam e são recebidas.- Se alguém olha para um quadro e não sente e nem percebe nada, se não tem nenhuma sensação ou percepção é porque a comunicação entre o quadro e o individuo não se completou.- Isto nem sempre significa que o quadro é ruim, mas pode ser que o espectador não esteja preparado ou em condições de captar a mensagem que o quadro emana..- Aí entra novamente a pergunta do iniciante de como saber se seu trabalho é bom..- -Como o iniciante ainda não tem maturidade, mas em compensação tem muita ansiedade e não se lembra de nada que aprendeu ( ou do que ouviu em aula) , faz sempre perguntas abrangentes, em apoteose mental.- Se o aluno for inteligente e desdobrar a pergunta em diversas fases ele encontrará todas as respostas que deseja.- Os alunos inteligentes fazem isso.
Por exemplo, o aluno teve aulas de composição forma, então avalie se sua composição está dentro dos padrões com positivos aprovados e avaliados em seus exercícios.- Verifique se aplicou o que aprendeu em composição.- Se não aprendeu e não se esforçou em aprender no momento certo é porque é um mau aluno e certamente terá dificuldades.Continuando a avaliação do trabalho, o aluno aprendeu e praticou composição tonal, ou seja , a distribuição dos claros e escuros em diversas circunstancias possíveis e criativas.- Se não aprendeu é porque é um mau aluno, vai pintar mau e ter dificuldades.Continuando, o aluno teve aulas de interpretação da cor onde exercitou sua criatividade em combinações próprias de cores, portanto adquiriu uma noção e uma certa intimidade com essa técnica.- Se não conseguiu ter uma idéia da “mistura” e elaboração de novas cores e equilíbrio cromático é porque é um mau aluno, e logicamente vai ficar perdido no meio de tantos problemas que terá que resolver na elaboração de um quadro.- Sim, porque quem se propõe a pintar está se propondo a resolver problemas e gostar dessa tarefa ou desafio.-
Pois bem, quem teve toda essa orientação técnica e não assimilou nada ou muito pouco, é lógico que não terá condições de avaliar nada em seu trabalho. Isto em se tratando de questões técnicas.- O que se recomenda é que pratique mais, até ter domínio e discernimento da parte pratica da pintura.-A pratica se adquire de acordo com o tempo que se dedica a ela.- Quem pratica muito , desenvolve rápido.- quem pratica pouco , fica estagnado na estaca zero.-Desta maneira chega-se a um ponto em que o iniciante sabe se o que fez está tecnicamente correto ou não.- Se tem falha de construção, inversões de claro escuro, falta de proporção, mudança de caligrafia, alterações de movimento e pinceladas, introdução de elementos incompatível com a composição, erros de profundidade de elementos, erros de perspectiva, e vai por aí afora. Todas estas questões se aprende em sala de aula e se o aluno não aprendeu é porque é ruim ou não teve tempo de praticar.- Ninguém vai dar as respostas de como se faz isto.- -e praticar,praticar,praticar. E se no final de um bom tempo não conseguiu aprender nada procure outra atividade porque a pintura não é a praia desse individuo.- Pois bem essa é a primeira parte onde o aluno pode avaliar seu trabalho.- A segunda se refere na questão do conteúdo, da mensagem, da carga emotiva, da comunicação que se pretende transmitir através do pretexto de um tema.- Sim, porque tema é pretexto.-
Essa questão que é a mais importante em um quadro somente o autor pode avaliar se conseguiu atingir suas intenções.- Pura e tão somente o autor sabe o que pretendia e arte não é charada para que os espectadores adivinhem o que significa.-
Neste item o espectador poderá somente opinar se gostou ou não, mas um vaso na janela significar uma tarde no Guarujá, isto é impossível, no entanto para o autor poderá ser verdade porque ele realmente pintou esse vaso de flores em uma tarde no Guarujá.-È aí que o iniciante coloca o carro na frente dos bois.- Para explicar darei o exemplo na musica.- Um estudante de musica em seus primeiros anos de estudo está nada mais nada menos que tomando conhecimento dos elementos da musica, conhecendo seu instrumento, tendo dificuldade das posições do dedos, do solfejo, da afinação, do andamento do compasso do exercício.- Fazendo este reconhecimento com uma dificuldade imensa, portanto jamais poderá pensar em colocar expressão, conteúdo e vibração em sua execução porque o que faz nem é musica mas simplesmente exercícios técnicos que é um martírio para quem está por perto ouvindo.-
No aprendizado em pintura é a mesma coisa.- O aluno nem sabe pintar, não tem nenhuma intimidade com os elementos da pintura e já quer se expressar, colocar conteúdo e realizar uma obra de arte.- Não se acostuma com as coisas horríveis que faz e que são próprias do iniciante.- Primeiro deve aprender a pintar, aprender a dominar e ter intimidade com os instrumentos e elementos da pintura, conhecer os conceitos, os fundamentos, ter uma noção da historia da pintura e seu desenvolvimento através dos séculos, saber o que está acontecendo no presente momento no mundo das artes plásticas, depois praticar a extensão de seu Ser interior nas expressões gráficas, que mesmo assim vai demorar muito para chegar a algum resultado.- O iniciante tem preguiça mental, quer receita de como fazer, quer passo a passo, não quer pensar, ter trabalho, pesquisar, seguir a orientação, anotar o roteiro do aprendizado, quer definições, querem respostas e não percebem que as respostas estão dentro deles mesmos e se não percebem isso é porque não tem sensibilidade, não conhecem a si mesmos e não tem talento para a pintura.-
A ARTE NÃO PRECISA DE DEFINIÇÃO OU DE OPINIÃO MAS SIM DE SATISFAÇÃO INTERIOR DE SEU AUTOR – INGRES SPELTRI
Ingres speltri - 2-11-2008

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